outubro 18, 2024
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O actual é um instante efémero

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Artigo
‘O actual é um instante efémero’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo

A vida dá muitas voltas, o mundo tem muitas ‘esquinas’ apesar da sua configuração ser praticamente redonda. Frequentemente, algumas pessoas recordam factos, situações e outras que conheceram, com quem até conviveram, há dezenas de anos, a milhares de quilómetros de distância, em circunstâncias inimagináveis, que esperavam, ou então desejavam, voltar a reencontrar, a conviver com elas, que até teriam sido amicíssimas, e se ajudado mutuamente.

Com muita frequência, incompreensivelmente, o que por vezes se verifica, em inúmeras pessoas, é uma espécie de ‘amnésia’ em relação a quase tudo de bom que outras fizeram por elas, mas quando são aquelas pessoas a necessitar de ajuda, e nem sequer se aborda o aspeto material, mas apenas um auxílio moral, ético, solidário, leal e, principalmente a amizade das pessoas a quem nós já fizemos bem, elas viram-nos a cara, mudam de rua e, se não puderem, passam para o outro passeio, evitam-nos e nem sequer atendem os nossos contactos.

Tais pessoas, num dado período das suas vidas, num presente que elas julgam nunca mais acabar, porque consideram que já não precisam mais de quem, no passado, sempre esteve ao lado delas (e em alguns casos pontuais, ainda continuam) tornaram-se insensíveis, incluindo em situações de doença, de quem sempre foi amigo delas, ficam indiferentes e, quantas vezes, revelam, até, grande impiedade, tratando as pessoas que tudo fizeram e deram por elas, como se fossem umas quaisquer desconhecidas, ou conhecidas de ocasião, entre biliões de outras tantas pessoas ignoradas, ou seja, descartáveis, ou então, como se já não existissem.

Para aquelas pessoas, provavelmente, pensam, elas próprias, e agem em conformidade, não existe passado, quando muito, recordam esse passado se dele ainda subsistirem situações, interesses e pessoas que lhes possam vir a servir no presente, para se autoafirmarem no futuro, para alimentarem uma grande exposição de egocentrismos ou, ainda, sustentar a ingratidão, exercerem uma espécie de autonomia axiológica, manifestação de indiferença, e/ou, também de superioridade, de sobranceria, de humilhação e sofrimento a quem, eventualmente, tantas vezes lhes fez bem, e continua a querer bem.

Poder-se-á admitir, em tese, que quem assim pensa e age, está a renegar partes de um passado que tem na sua história existencial, que viveu, quantas vezes com várias dificuldades, que colheu apoios de pessoas de bem, que até conquistou amizades, sentimentos e emoções que, sincera, humilde, generosamente e de boa-fé lhe foram concedidos.

O presente é um momento fugaz, lapso de tempo de ínfima duração, o resto é futuro, que está sempre umas frações de segundo à frente de todas as vidas que, em parte, até se ignora: como vai ser, o que vai acontecer, o que se vai conseguir, mas é legítimo, e justo, que se lute por um futuro cada vez melhor, em todas as dimensões da vida humana.

Pessoa alguma evita o seu passado, poderá garantir que vai ter um futuro totalmente autónomo, brilhante e de ostentação, que essa absurda situação lhe vai permitir continuar a desprezar quem num passado, eventualmente recente, deu todo o apoio para que a vida retomasse uma certa normalidade: pessoal, familiar, matrimonial e mesmo social.

Quantas pessoas, ainda num passado recente estavam muitíssimo bem na vida: com saúde, conforto, bens materiais, amigos (estes, enquanto durou a então situação confortável), mas que hoje e, infelizmente, num futuro próximo, sempre um bocadinho à frente, de um presente momentâneo, estão na maior miséria, que até os então “amigos de ocasião” os abandonam?

E quantos num passado, mais ou menos longínquo estavam muito mal na vida, sem saúde, sem trabalho, sem os tais amigos, marginalizados por alguns estratos da sociedade, até pela família, (excetuando os amigos verdadeiros, aqueles que dizemos do coração e para a vida) hoje, por mérito próprio: estudo, trabalho, poupança, com o apoio daqueles amigos sinceros, verdadeiros, também com um pouco de sorte e de saúde, estão bem na vida?

O Bem e o Mal existem. As virtudes e os defeitos não se podem ignorar. O amor e o ódio permanecem. O passado e o futuro são as duas fases importantes das nossas vidas, porque o presente é um passado em revisão e um futuro em preparação. Mas o presente também é momento de reflexão retroativa, proativa e projetiva. O presente está em cada momento da nossa vida.

Sejamos justos, generosos, gratos e leais para com quem nos fez e faz bem, seja no passado, seja neste momento, seja no futuro, mas ainda e, em geral, para com todas as pessoas. É esta a ‘regra salomónica’; é este o bom senso; são estas as virtudes e a realidade; são, afinal, verdades Kantianas: “Deseja para os outros o que queres para ti”.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal


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