novembro 22, 2024
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Celso Lungaretti: 'O INÍCIO DA RECONSTRUÇÃO DA ESQUERDA'

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CELSO LUNGARETTI : ‘NOVA ESQUERDA PRETENDE MOSTRAR SUA FORÇA NESTE SÁBADO’

“Nós, sobreviventes da utopia revolucionária, combatentes na luta por justiça e liberdade em nosso país e dispostos a nunca mais aceitar que aqui se implante uma ditadura, com o objetivo de construir o poder popular e implantar a democracia direta, levamos ao povo brasileiro a proposta de construção da Nova Esquerda, como espaço de integração, articulação e de fortalecimento das forças progressistas e revolucionárias do Brasil.”

Assim se manifesta mais um agrupamento em gestação, neste momento em que várias forças de esquerda redobram esforços para preencherem o vazio aberto pela decadência do PT, que acentuou-se com seu desempenho sofrível nas últimas eleições municipais.

A Nova Esquerda se define como um “espaço político ideologicamente supra e pluripartidário, que tem como objetivo congregar e integrar todos os setores da esquerda brasileira, dos mais diversos partidos progressistas, movimentos sociais, organizações populares, redes e coletivos, para (…) se consolidar como movimento teórico e ideológico de ampla atuação de massa no país em defesa da democracia como valor universal e na construção do socialismo como modelo de desenvolvimento”.

Neste sábado (8) vai promover encontros municipais nos quais será discutida, por três horas, a conjuntura nacional e internacional após as eleições municipais.

Por enquanto, nota-se a intenção de atrair pessoas das mais diversas correntes e tendências da esquerda, desde que não estejam identificadas com as práticas distorcidas da última fase do PT. Torço para que, no processo de discussão por meio da qual aprofundará suas posições, passe a adotar linhas mestras mais definidas e consistentes.
Pois, p. ex., a “democracia como valor universal” nos conduzirá apenas a mais capitalismo – quando o que a esquerda precisa encontrar neste instante, pelo contrário, é o caminho da volta às origens (a luta de classe e a preparação da ruptura revolucionária), sem nenhuma condescendência com uma democracia que serve apenas para mascarar a dominação burguesa e o total avassalamento do poder político ao poder econômico nos dias atuais.
Mais informações podem ser obtidas no blogue da Nova Esquerda ou escrevendo para seu email.

DALTON ROSADO
AOS COMPANHEIROS DA NOVA ESQUERDA

“A crítica não é uma paixão cerebral, mas o cérebro da paixão” (Karl Marx)

O momento que vivemos no Brasil e no mundo representa uma daquelas situações históricas em que um modelo social se exauriu e fermenta soluções transformadoras.

A realidade social e ecológica mundial nos impõe a urgente superação do capitalismo. Mas não basta querermos tal superação e colocarmos a própria vida a serviço de um projeto de transformação que não elimine as causas originais do atual infortúnio social de bilhões de pessoas no planeta. É preciso questionarmos e superarmos todas as categorias capitalistas, para podermos então construir a revolução da emancipação humana.

Qualquer movimento que se disponha a conviver com as categorias capitalistas sem questioná-las é postura infrutífera e destinada ao fracasso, pois nem o próprio capitalismo já o consegue fazer.

É necessário que diuturnamente rejeitemos categorias capitalistas como trabalho abstratovalormercadoriasmercadocapitalpropriedadeestadopolíticapartidos políticosdemocracia e o próprio capital, ainda que sejamos diariamente obrigados a reproduzi-las como forma de sobrevivência, muitas vezes até contribuindo, a contragosto, para os seus fortalecimentos, mas de modo a que essas últimas ações nunca representem bandeiras nossas.

Contestar com nossas ações e movimentos as categorias capitalistas, ao mesmo tempo em que com elas somos obrigados a conviver, certamente é uma das tarefas mais difíceis e revolucionárias a serem executadas, e para isto é necessário conhecer profundamente a essência dos seus mecanismos de mediação e controle de modo a que, involuntariamente, não venhamos a reproduzir aquilo que julgamos combater.

A esquerda marxista mais devotada e sincera à causa revolucionária sucumbiu exatamente por não ter compreendido o próprio Karl Marx, e disto se aproveitaram muitos dos seus dirigentes por comodidade ou apego ao poder.

Neste sentido é que considero imperativa a crítica aos conceitos e modos que formatam os postulados iniciais de criação dessa frente de luta que tenta juntar, no mesmo espaço, concepções absolutamente diferentes e divergentes nas ações de superação do capitalismo que já no curto prazo evidenciar-se-ão como insuperáveis.

Ademais, postulações voluntariosas incorretas já demonstraram historicamente que estão fadadas ao fracasso, e nós não podemos mais drenar energia em esforços infrutíferos.

A emancipação da humanidade é ao mesmo tempo uma tarefa urgente e paciente e essa paciência não significa acomodamento, mas, ao contrário exige esforços bem direcionados por consciência superior sobre o que fazer.

SOBRE A QUESTÃO DA PRODUÇÃO E DA

ORGANIZAÇÃO SOCIAL QUE SE PRETENDE ADOTAR

Tanto as sociedades antigas como as atuais têm na forma de produção e apropriação dos bens e serviços indispensáveis à vida a sua definição de propriedade e de organização social. Cada vez que se modificam as formas e conteúdo dessa produção alteram-se as formas de propriedade e de organização social.

A ebulição do momento que vivemos decorre do fato de que as forças de produção evoluíram de tal forma com o domínio de ciência tecnológica aplicada à produção que o móvel da mediação social – dinheiro e mercadorias – produzidos a partir do trabalho abstrato perdeu a sua funcionalidade (e, como consequência, o capital perde substância).

Diante disto, é de se perguntar como a Nova Esquerda se posiciona diante da questão do desemprego estrutural? Propõe a abolição do trabalho abstrato ou reivindica mais trabalho abstrato?

Abolindo o trabalho abstrato, como propõe que se processe a produção?

Não abolindo o trabalho abstrato, mantém os fundamentos capitalistas?

Qualquer resposta a esta indagação implica uma alteração profunda do encaminhamento da revolução, se quisermos chamar de revolução a tarefa de emancipação social.

 

SOBRE A QUESTÃO DA CIDADANIA, DO ESTADO E SUAS 

INSTITUIÇÕES, DA POLÍTICA E SEUS PARTIDOS, 

DA DEMOCRACIA E OUTROS CONCEITOS.

A política, os partidos políticos a ela inerentes e a democracia são categorias capitalistas no espectro do arcabouço institucional de acesso ao Estado moderno, sua invenção dependente. Assim, qualquer movimento que se proponha verdadeiramente revolucionário, no sentido da superação completa do capitalismo, terá de negar tais categorias. E é aí que mora o problema: como comportar na frente ampla de esquerda tais categorias, ao invés de negá-las?

Uma sociedade emancipada não pode existir a partir de tais postulados e categorias, ainda que se admitam as suas existências transitoriamente, pois o uso do cachimbo entorta a boca. A história do fim justificando os meios, tão comum à trajetória da esquerda, não pode se coadunar como uma concepção de luta que se proponha como nova.

Não é possível concebermos “democracia como valor universal”, posto que a organização popular no sentido do provimento das suas necessidades de existências materiais e sentimentais não se confunde com o conceito moderno de democracia; e menos ainda com o conceito semântico grego de democracia, nascido justamente no momento (2.700 a.C.) em que se entronizou o dinheiro como mediação social e se criaram as cidades-estado como forma política (a palavra política deriva da polis grega).

A cidadania é um conceito que transforma o indivíduo social em uma peça da estrutura do Estado capitalista, seu opressor, que por ele, cidadão, é sustentado. Assim, o conceito de revolução cidadã, que a Nova Esquerda tomou emprestado do presidente equatoriano Rafael Correa, é semantica e revolucionariamente equivocado.

Reivindicação como “patriótico”, contida nos seus documentos, inclui implicitamente a ideia do nacionalismo militar xenófobo capitalista, da mesma forma que o combate ao sionismo e ao anti-sionismo são conceitos que derivam de uma mesma absurda concepção para quem se propõe ao contraponto às bandeiras equivocadas da direita e da esquerda tradicional.

A plataforma de luta da Nova Esquerda é reformista e, portanto, anti-revolucionária. Proposições como:

– reforma política (que admite implicitamente a existência da política);

– reforma institucional, orgânica e administrativa nos três poderes (que admite a existência dos poderes do estado);

– reforma agrária no campo (bandeira capitalista por excelência, pois admite implicitamente a propriedade da terra);

– reforma sindical (que, admitindo sindicatos e trabalhadores, como consequência avaliza o trabalho abstrato, fonte original do capitalismo);

– criação do fundo popular dos movimentos sociais (que implica a conservação e existência de reservas em dinheiro, principal categoria capitalista);

– redivisão territorial do país (que implica a existência de estados-membros e do próprio Estado);

– redução de 50% do número de parlamentares (que implica a conservação do parlamento e da existência dos parlamentares e políticos);

– intensificação das relações políticas e comerciais com a América latina e seus organismos (que admite, implicitamente, o comércio internacional e a produção de mercadorias).

Francamente, com tais postulados reformistas e ingênuos, a nova esquerda, que se reivindica revolucionária, constituir-se-á como uma heterogeneidade de pensamentos e postulações atrasadas que muito cedo se evidenciarão como inconciliáveis e irremediavelmente destinadas ao fracasso.

A nova esquerda, antes mesmo de nascer, já é velha, ou natimorta.

CELSO LUNGARETTI
LINHAS MESTRAS PARA A ESQUERDA PÓS-PT

Lançamento do movimento Mais, no final de julho.

Se ainda havia dúvidas quanto ao fato de o Partido dos Trabalhadores ter-se descredenciado para o papel de força hegemônica da esquerda brasileira, as últimas eleições municipais as dissiparam. A derrota acachapante provou que a narrativa do golpe não convenceu a opinião pública nem levou o eleitorado a absolver o PT. Pelo contrário, a condenação foi inequívoca.

Emblematicamente, um dos agrupamentos que se propõem a ocupar o vazio deixado pelo PT marcou para este sábado (8) encontros municipais que pretende realizar em várias cidades: a Nova Esquerda.

No final de julho, já fora fundado o Mais – Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (vide aqui). Iniciativas semelhantes pipocam pelo País.

Sentindo-me um pouco como pai dessas crianças, encaro com simpatia todas as tentativas de recolocar a esquerda nos trilhos.

Foi no terceiro trimestre de 2014 que me dei conta, simultaneamente, da iminência de uma grave crise econômica e do esgotamento do papel positivo do PT, que já não era capaz de formular propostas que empolgassem os explorados, apontando-lhes objetivos e direcionando suas lutas. Em desespero de causa, tentava sobreviver à custa da satanização dos adversários e do mais primário e falacioso alarmismo, já não mais pretendendo ser o melhor partido, mas sim martelando que “os outros são piores”.

 
Nova Esquerda inicia sua trajetória

Percebi que a decadência do PT era irreversível e que a recessão vindoura criaria um caldo de cultura muito perigoso, pois poderia até propiciar um golpe como o de 1964, mergulhando o país numa nova ditadura.

Hoje admito ter superestimado a força que ainda restava ao partido.

Conseguiu reeleger Dilma Rousseff na bacia das almas, à custa do pior estelionato eleitoral até hoje cometido num pleito presidencial em nosso país, mas foi praticamente destruído pela insistência em tentar corrigir os erros até então cometidos na condução da política econômica rendendo-se incondicionalmente ao inimigo.

Como eu também alertara, caiu na mesma armadilha de João Goulart: governo de esquerda que encampa o receituário econômico da direita acaba não conquistando a confiança do grande capital nem convencendo suas próprias hostes, que passam a alvejá-lo com um desmoralizante fogo amigo. Resultado: bastou um piparote do Congresso para encerrar o segundo mandato de Dilma. Caiu de podre.

O QUE FAZER?

Agora, só nos resta juntarmos os cacos, começando de novo a empurrar a pedra para o topo da montanha.

Após o fiasco no pleito municipal, salta aos olhos que não adianta continuarmos questionando a legalidade do Governo Temer, pois ele já se consolidou.

Nem combatermos furiosamente suas propostas, antes mesmo de implantadas, pois é o outro lado que detém o poder de mídia e nos apresentará como inimigos do Brasil, sabotadores da recuperação do país (a ditadura militar utilizou amplamente tal lengalenga e a maioria da população engoliu a patranha, pelo menos até o milagre econômico começar a fazer água).

Em vez de darmos murros em ponta de faca numa conjuntura que nos é desfavorável, temos mais é de limparmos e reformarmos nossa casa, reagrupando-nos, fazendo rigorosa autocrítica dos erros cometidos, discutindo o que deve ser mudado, atualizando estratégias e táticas, depurando nossas fileiras (quem utilizou a causa para obter benefícios pessoais de forma ilícita não pode nelas permanecer, caso contrário o povo jamais voltará a acreditar em nós), criando novas forças, dando oportunidade à afirmação de outras lideranças, etc.

Não será num passe de mágica que vão surgir movimentos com propostas totalmente satisfatórias e incontroversas, há um caminho a percorrermos até tal estágio ser atingido. Até lá, convém sermos tolerantes com algumas inconsistências e impropriedades, na esperança de que sejam corrigidas adiante (vale, contudo, criticá-las francamente, como fez o Dalton Rosado, pois este é o momento em que tudo deve ser colocado em xeque, questionado e discutido).

Quanto às linhas mestras para nossa atuação neste novo momento das lutas sociais, a minha visão é de que:

  • ruíram as ilusões reformistas, não fazendo mais sentido acreditarmos que o capitalismo possa ser maquilado ou humanizado (ou seja, contentarmo-nos em dele arrancar pequenas concessões, que acabam sendo esvaziadas num momento posterior, como hoje ocorre com a volta da nova classe de remediados à velha pindaíba);
  • ruíram as ilusões eleitorais, não compensando mais coonestarmos uma democracia flagrantemente a serviço da classe dominante mediante nossa participação no Executivo e Legislativo, pois o poder político hoje não passa de um patético fantoche do poder econômico;
  • o foco principal de nossa atuação tem de voltar a ser a sociedade, com empenho total em recuperarmos as ruas, pois a praça que é do povo como o céu e do condor (Castro Alves) não tem nada a ver com a Praça dos Três Poderes;
  • temos de travar de novo as lutas do povo ao lado do povo, pois é assim que acumularemos força para voos maiores, evitando a violência que só dará pretextos para nossa criminalização e deixando sempre claro que todas as vitórias obtidas sob o capitalismo são transitórias e a solução definitiva só virá quando o primado da competição canibalesca e da ganância desenfreada der lugar à livre cooperação dos homens em prol do bem comum.
Helio Rubens
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