Ranielton Dario Colle, o ‘Ranie’: novo artigo: ‘Divórcio’
– Você abasteceu o carro? ─ ela me perguntou antes de sair. ─ Sim, querida, o tanque está cheio. ─ eu respondi, com ironia.
Não vivíamos exatamente uma lua de mel, e era mais comum trocarmos farpas que carícias. E nem mesmo de longe isso lembrava o casal apaixonado de dez anos…
O tempo e a convivência fazem isso: vão nos mostrando o lado feio de tudo. E então, não sei porque, em vez de aceitarmos, e entendermos, nos apoiarmos e nos ajudarmos, ficamos nos acusando mutuamente. Como se um quisesse que o outro mudasse, mas fosse incapaz de mudar.
Não que não mudássemos. Todos mudam, a própria convivência faz isso. Só que nossas mudanças seguem em ritmos lentos, conforme mudam também nossos hábitos, e nunca são como gostaríamos que fosse: racionalmente tomadas como uma decisão após um debate. É como a diferença da teoria para a prática. Ou como o ditado: “Falar é fácil, fazer é que são elas”. Isso porque, no dia a dia, tendemos a repetir velhas formas de comportamento.
Não era maldade, mas nosso casamento estava falido. Eu sabia disso. E eu pensava nisso quando soube do acidente.
Na hora, me odiei por ter esses pensamentos. Prometi a mim mesmo que faria de tudo para fazer as coisas darem certo, caso ela ficasse bem. “Minha vida está acabada. – pensei – Se ela morrer, o que será de mim?” Eu me odiei por ter desejado me separar. Por ter tido fantasias com a garota da lanchonete e com a secretária de meu chefe, e com cada menina atraente que cruzava o meu caminho. Por que eu fazia isso? Instinto? Era tão primitivo… odiei tê-la tratado tão mal, e odiei que minhas últimas palavras para ela tenham sido tão ironicamente ácidas!
Então, no hospital, soube que ela se recuperaria sem maiores sequelas. Fiquei aliviado. Agradeci. E lembrei com alegria de nossos primeiros anos juntos. Tudo agora parecia mágico. Até os momentos que foram ruins pareciam bons. E eu estava certo, ela era a mulher da minha vida.
Ela estava tão linda na cama do hospital. Fiquei pensando na sorte que eu tinha de ter uma mulher como ela como esposa. Ela era inteligente, hábil, e amorosa.
Então, ela acordou. E as primeiras palavras que ouvi de sua boca foram:
─ Eu quero o divórcio!
(foi ai que meu mundo desabou de verdade)
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.