Bianca Agnelli
“Arquitetura da Dor: ‘O Brutalista’, de Brady Corbet”
“Architettura del dolore: ’The Brutalist’ di Brady Corbet”

Fevereiro na Itália é um mês frio, cortante, brutal. O lançamento de The Brutalist (O Brutalista, em português) não poderia ser mais pertinente: não apenas pelo clima meteorológico que nos aperta no gelo, mas também pelo clima emocional e político que parece permear o Velho Continente – e o mundo inteiro – nos últimos meses, deixando-nos com arrepios e uma vaga sensação de inquietação.
A imagem promocional do filme – que também é o que o protagonista vê ao chegar ao porto de Nova York – já é uma declaração de intenções: a Estátua da Liberdade invertida, torta, prestes a desabar. Um presságio, talvez um aviso. A América, o país das iguais oportunidades e dos sonhos realizados, ainda é o ideal que nos foi prometido? Ou o sonho americano se transformou em uma relíquia distorcida, uma ilusão que desmorona sob o peso da realidade?
Em The Brutalist, dirigido por Brady Corbet, a ilusão se desfaz na história de László Tóth (interpretado magistralmente por Adrien Brody) ), um gênio da arquitetura, um judeu húngaro sobrevivente do campo de concentração de Buchenwald. Embora o protagonista seja fruto da imaginação de Corbet, seu contexto e as experiências que o moldam estão firmemente ancorados em eventos históricos reais. A trama se inspira nas histórias de arquitetos europeus do pós-guerra, como Marcel Breuer e Louis Kahn, que emigraram para os Estados Unidos. Esses homens, com as cicatrizes das dores do passado, trouxeram consigo uma visão inovadora e revolucionária da arquitetura, dando vida a uma nova linguagem estética que marcaria profundamente a América. Após perder todos os seus referenciais – a esposa, a pátria, a segurança – László chega em Filadélfia para reconstruir sua vida das cinzas. Mas todo recomeço é doloroso, e para László, o Sonho Americano se revela um calvário de paradoxos e abusos.
Sua salvação – ou talvez sua danação – é a arquitetura: a linguagem que ele domina, a única forma de beleza em que encontra refúgio. Corbet consegue tornar visível essa tensão em cada quadro do filme, esculpindo a película com um rigor quase arquitetônico. As linhas, sombras e geometria urbana se tornam o eco do trauma e da busca pela redenção de László.
Adrien Brody oferece uma interpretação impecável, intensa e visceral, que – como todos esperávamos – lhe valeu o Oscar. A atuação de Brody está imbuída de uma verdade pessoal que vai além do personagem: sua mãe, Sylvia Plachy, é uma fotógrafa e jornalista húngara sobrevivente da ocupação nazista, e seu pai, Elliot Brody, é filho de imigrantes poloneses de origem judaica. A história de László, no fundo, é uma história que Brody conhece nas profundezas do sangue e da memória familiar.
Por trás da força narrativa e visual de The Brutalist está também uma colaboração artística e pessoal que moldou profundamente a estrutura do filme. A esposa de Brady Corbet, Mona Fastvold, contribuiu significativamente para o filme, não apenas como corroteirista, mas como parceira criativa de longa data. Fastvold, diretora norueguesa, colaborou com Corbet na escrita de vários filmes desde 2012, ano em que também começou o relacionamento pessoal entre os dois. A sinergia deles é palpável na delicadeza com que o filme aborda o tema da imigração e da perda: Fastvold, ela mesma imigrante, enriqueceu o projeto com uma perspectiva autêntica sobre a experiência do exílio e da reconstrução. Essa fusão de olhares e sensibilidades faz de The Brutalist uma investigação sobre a identidade coletiva e as raízes destruídas.
Este não é apenas um filme sobre imigração ou sobre arte; é um hino à sobrevivência, uma crônica da dor que se esconde por trás das paredes de um sonho desfeito. É a história de quem, apesar de tudo, ousa tentar construir beleza sobre os escombros, de quem tenta dar sentido ao caos com a precisão de uma linha, com a força de um ângulo. E, acredite, isso me tocou profundamente.
No elenco, destaca-se também Felicity Jones com sua interpretação de Erzsébet, a esposa sobrevivente do Holocausto; Joe Alwyn no papel de Harry Lee Van Buren; Raffey Cassidy como Zsófia; Stacy Martin como Maggie Van Buren, irmã gêmea de Harry; e Alessandro Nivola interpretando Attila, primo de László, proprietário de uma loja de móveis na Filadélfia e mais assimilado à cultura americana.
Filmado principalmente em Budapeste, o filme também se desloca para a Itália, mais especificamente para Carrara, onde László e seu rico cliente, Harrison Lee Van Buren (interpretado por Guy Pearce), escolhem o mármore para seu ambicioso projeto. As históricas cavernas de Bettogli e Bombarda, que há séculos fornecem o precioso mármore usado nas maiores obras de arte do mundo, conferem ao filme uma beleza sublime e uma conexão tangível com a tradição artística italiana.
Filmado em 70mm, o filme oferece uma qualidade visual que remete aos grandes clássicos do cinema épico, conferindo a cada cena uma dimensão quase palpável. É o resultado de dez anos de trabalho, de uma visão que Corbet aperfeiçoou com paciência e ambição, criando uma obra que não apenas homenageia o cinema do passado, mas também redefine a linguagem visual contemporânea. A duração de 215 minutos, com um intervalo de quinze minutos, convida o espectador a se imergir completamente na experiência cinematográfica, lembrando a época em que o cinema era um evento para ser vivido por completo. Pessoalmente, fui envolvida pelo filme e seu ritmo angustiante: não queria perder nem um minuto do que estava vivenciando.
Outro aspecto que realmente me entusiasmou: a trilha sonora composta por Daniel Blumberg. Conhecido por seu estilo vanguardista e não convencional, ele criou uma composição musical que reflete os desafios e os sofrimentos do protagonista. Achei fascinante o uso de sons que remetem ao processo de construção, juntamente com outros elementos que imitam materiais e ferramentas de canteiro de obras. Essa abordagem não só enfatiza a profissão do protagonista como arquiteto, mas também simboliza sua luta para reconstruir sua identidade e encontrar redenção por meio da criação.
A qualidade da composição foi reconhecida internacionalmente, com o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original. Esse prêmio sublinha a contribuição excepcional de Blumberg para o cinema contemporâneo e a eficácia da música em contar histórias poderosas e universais.
Nas mãos do diretor, a arquitetura se torna uma linguagem de resistência e memória.
A beleza que László tenta construir não é pura: ela é marcada pelas rachaduras da História, pelas sombras da violência, pelos fantasmas do passado que se insinuam entre as geometria perfeitas dos edifícios. A própria construção se torna o coração pulsante da história, desempenhando um papel crucial na evolução da trama. O Instituto Van Buren, o imenso edifício imaginário no centro da narrativa, construído em concreto e projetado com um jogo habilidoso de espaços negativos entre duas torres que se erguem em direção ao céu formando o símbolo de uma cruz, foi idealizado pela designer de produção Judy Becker. Aqui, a engenhosidade criativa se torna metáfora de uma dor coletiva, transformada em uma obra simbólica, um monumento à memória e ao desejo de não ser esquecido.
E é assim que The Brutalist se torna verdadeiramente provocador: nos obriga a confrontar as histórias de dor, racismo, imigração. László não constrói para esquecer, mas para dar forma ao vazio, para dar voz a um destino marcado pela exclusão, para contar a história de um judeu brutalizado pelo mundo. Observando seu frágil sonho se erguendo contra o céu, me pergunto: qual será o preço que nós, como sociedade, pagaremos se continuarmos a ignorar as feridas do passado?
Adrien Brody, ao receber seu Oscar, abordou os temas centrais do filme, ressaltando como o ator, mesmo no aparente encanto da profissão, vive em um terreno frágil. “Estou aqui para representar os traumas persistentes e as repercussões da guerra, da opressão sistemática, do antissemitismo e do racismo”, afirmou, lembrando como a história de László é uma reflexão sobre os danos profundos deixados pelas atrocidades históricas. “Rezo por um mundo mais saudável, mais feliz e mais inclusivo, e acredito que, se o passado pode nos ensinar algo, é que devemos impedir que o ódio passe despercebido.”
Talvez seja justamente a coragem de se identificar com essas realidades – cruas, dolorosas, injustas – que pode ajudar a reconstruir não apenas edifícios, mas uma sociedade mais justa. E, no fim, enquanto László tenta desesperadamente dar forma a um mundo que o rejeitou, nós também devemos nos perguntar se não chegou a hora de ouvir realmente as vozes daqueles que estão vivendo à margem.
Bianca Agnelli
“Architettura del dolore: ’The Brutalist’ di Brady Corbet’
Febbraio in Italia è un mese freddo, graffiante, brutale. L’uscita di The Brutalist non poteva essere più azzeccata: non solo per il clima meteorologico che ci stringe nella morsa del gelo, ma per quello emotivo e politico che sembra permeare il Vecchio Continente – e il mondo intero – negli ultimi mesi, lasciandoci con la pelle d’oca e un vago senso di inquietudine.
L’immagine promozionale del film – che è anche ciò che il protagonista vede una volta attraccato al porto di New York – è già una dichiarazione di intenti: la Statua della Libertà rovesciata, storta, decisamente sul punto di crollare. Un presagio, forse un ammonimento. L’America, il paese delle pari opportunità e dei sogni realizzati, è davvero ancora l’ideale che ci è stato promesso? O il sogno americano è ormai solo una reliquia distorta, un’illusione che si sgretola sotto il peso della realtà?
In The Brutalist, diretto da Brady Corbet, l’illusione si infrange attraverso la storia di László Tóth (interpretato magistralmente da Adrien Brody), un genio dell’architettura, un ebreo ungherese sopravvissuto al campo di concentramento di Buchenwald. Nonostante il protagonista sia frutto della fantasia di Corbet, il suo contesto e le esperienze che lo definiscono sono saldamente ancorati a eventi storici reali. La trama si ispira infatti alle storie di architetti europei del dopoguerra come Marcel Breuere Louis Kahn, che emigrarono negli Stati Uniti. Questi uomini, con le cicatrici delle sofferenze passate, portarono con sé una visione innovativa e rivoluzionaria dell’architettura, dando vita a una nuova lingua estetica che avrebbe segnato profondamente l’America. Dopo aver perso ogni riferimento – la moglie, la patria, la sicurezza – László arriva a Filadelfia per ricostruire la propria vita dalle macerie. Ma ogni rinascita è dolorosa, e per László l’American Dream si rivela un calvario di paradossi e abusi.
La sua salvezza – o forse la sua dannazione – è l’architettura: il linguaggio che riesce a dominare, l’unica forma di bellezza in cui riesce a rifugiarsi. Corbet riesce a rendere visibile questa tensione in ogni frame del film, scolpendo la pellicola con un rigore quasi architettonico. Le linee, le ombre, le geometrie urbane diventano l’eco del trauma e della ricerca di redenzione di László.
Adrien Brody regala un’interpretazione da manuale, intensa e viscerale, che – come tutti speravamo – gli è valsa l’Oscar. La performance di Brody è intrisa di una verità personale che va oltre il personaggio: sua madre, Sylvia Plachy, è una fotografa e giornalista ungherese sopravvissuta all’occupazione nazista, e suo padre, Elliot Brody, è figlio di immigrati polacchi di origine ebraica. La storia di László, in fondo, è una storia che Brody conosce nel profondo del sangue e della memoria familiare.
Dietro la potenza narrativa e visiva di The Brutalist si nasconde anche una collaborazione artistica e personale che ne ha plasmato la struttura profonda. La moglie di Brady Corbet, Mona Fastvold, ha contribuito significativamente al film, non solo come co-sceneggiatrice, ma come partner creativa di lunga data. Fastvold, regista norvegese, ha collaborato con Corbet alla scrittura di diversi film dal 2012, anno in cui è iniziata anche la loro relazione personale. La loro sinergia è palpabile nella delicatezza con cui il film affronta il tema dell’immigrazione e della perdita: Fastvold, lei stessa immigrata, ha arricchito il progetto con una prospettiva autentica sull’esperienza dell’esilio e della ricostruzione. Questa fusione di sguardi e sensibilità rende The Brutalist anche un’indagine sull’identità collettiva e sulle radici spezzate.
Questo non è solo un film sull’immigrazione o sull’arte; è un inno alla sopravvivenza, una cronaca del dolore che si nasconde dietro i muri di un sogno infranto. È la storia di chi, nonostante tutto, osa cercare di costruire bellezza sulle macerie, di chi tenta di dare un senso al caos con la precisione di una linea, con la forza di un angolo. E, credetemi, questo mi ha colpita nel profondo.
Nel cast, spicca pure Felicity Jones con la sua interpretazione di Erzsébet, la moglie sopravvissuta all’Olocausto, Joe Alwyn nei panni di Harry Lee Van Buren, Raffey Cassidy come Zsófia, Stacy Martin è Maggie Van Buren, la sorella gemella di Harry, e Alessandro Nivola interpreta Attila, cugino di László, proprietario di un negozio di mobili a Filadelfia e più assimilato nella cultura americana.
Girato prevalentemente a Budapest, il film si sposta anche in Italia, precisamente a Carrara, dove László e il suo facoltoso committente, Harrison Lee Van Buren (interpretato da Guy Pearce), scelgono il marmo per il loro ambizioso progetto. Le storiche cave di Bettogli e Bombarda, che da secoli forniscono il prezioso marmo utilizzato nelle più grandi opere d’arte del mondo, conferiscono al film una bellezza sublime e una connessione tangibile con la tradizione artistica italiana.
Girato in 70mm, il film regala una qualità visiva che richiama i grandi classici del cinema epico, conferendo a ogni scena una dimensione quasi tangibile. È il risultato di dieci anni di lavorazione, di una visione che Corbet ha affinato con pazienza e ambizione, dando vita a un’opera che non solo omaggia il cinema del passato, ma ridefinisce anche il linguaggio visivo contemporaneo. La durata di 215 minuti, con un intervallo di un quarto d’ora, invita lo spettatore a immergersi completamente nell’esperienza cinematografica, ricordando l’epoca in cui il cinema era un evento da vivere pienamente. Personalmente, sono stata inghiottita dal film e dal suo angosciante ritmo: non avrei voluto perdermi nemmeno un minuto di ciò che stavo vivendo.
Altro aspetto che mi ha davvero entusiasmata: la colonna sonora composta da Daniel Blumberg. Già noto per il suo stile avanguardista e non convenzionale, ha creato un accompagnamento musicale che rispecchia le sfide e le sofferenze del protagonista. Ho trovato affascinante l’uso di suoni che richiamano il processo di costruzione, insieme ad altri elementi che imitano materiali e strumenti da cantiere. Questo approccio non solo enfatizza la professione del protagonista come architetto, ma simboleggia anche la sua lotta per ricostruire la propria identità e trovare redenzione attraverso la creazione.
La qualità della composizione è stata riconosciuta a livello internazionale, con l’Oscar per la migliore colonna sonora originale. Questo premio sottolinea l’eccezionale contributo di Blumberg al cinema contemporaneo e l’efficacia della musica nel raccontare storie potenti e universali.
Nelle mani del regista, l’architettura diventa un linguaggio di resistenza e di memoria.
La bellezza che László cerca di costruire non è pura: è segnata dalle crepe della Storia, dalle ombre della violenza, dai fantasmi del passato che si insinuano tra le geometrie perfette degli edifici. La costruzione stessa diventa il cuore pulsante della storia, giocando un ruolo cruciale nell’evoluzione della trama. L’Istituto Van Buren, il mastodontico edificio immaginario al centro della narrazione, realizzato in cemento e concepito con un abile gioco di spazi negativi tra due torri che si ergono verso il cielo formando il simbolo di una croce, è stato ideato dalla designer di produzione Judy Becker. Qui l’ingegno creativo si fa metafora di un dolore collettivo, trasformato in un’opera simbolica, un monumento alla memoria e al desiderio di non essere dimenticati.
Ed è così che The Brutalist si fa veramente provocatorio: ci costringe a confrontarci con le storie di dolore, di razzismo, di immigrazione. László non costruisce per dimenticare, ma per dare forma a un vuoto, per dare voce a un destino segnato dall’esclusione, per raccontare la storia di un ebreo brutalizzato dal mondo. Guardando il suo sogno fragile ergersi contro il cielo, mi chiedo: quale sarà il prezzo che noi, come società, pagheremo se continuiamo a ignorare le ferite del passato?
Adrien Brody nel ritirare il suo Oscar ha toccato gli argomenti centrali del film, sottolineando come l’attore, pur nell’apparente glamour del mestiere, si trovi a vivere su un terreno fragile.“Sono qui per rappresentare i traumi persistenti e le ripercussioni della guerra, dell’oppressione sistematica, dell’antisemitismo e del razzismo”, ha dichiarato, ricordando come la storia di László sia una riflessione sui danni profondi lasciati dalle atrocità storiche. “Prego per un mondo più sano, più felice e più inclusivo, e credo che se il passato ci può insegnare qualcosa, è che dobbiamo impedire che l’odio passi inosservato.”
Forse è proprio il coraggio di immedesimarsi in queste realtà – crude, dolorose, ingiuste – che può aiutare a ricostruire non soltanto edifici, ma una società più giusta. E, in definitiva, mentre László cerca disperatamente di dare forma a un mondo che lo ha rifiutato, anche noi dobbiamo chiederci se non sia giunto il momento di ascoltare, davvero, le voci di chi sta vivendo ai margini.
Bianca Agnelli
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Natural de Siena (Itália) é uma atriz e cineasta com uma paixão pelo cinema e histórias não convencionais. Depois de estudar filmagem e atuação cinematográfica em Florença, seguiu seu amor pelo design e criatividade, até gerenciar um bed & breakfast literário nas colinas do Chianti. Um refúgio onde escritura, arte e vida se encontram, com uma estética que mistura nostalgia e modernidade. Escreve para quem gosta de descobrir pequenas maravilhas nas dobras do cotidiano.