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Jorge Fakury: 'Aprendendo com a banalidade'

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Jorge Fakury: ‘Aprendendo com a banalidade’

No dia 29 do mês de dezembro de 2013 tive um aprendizado importante que começou com uma coisa simples e banal e transformou-se em lição para não ser mais esquecida. Algo pequeno, de repente, agigantou-se em significado.

Encontrava-me na casa de meus falecidos pais, que não estava ocupada, quando vi uma dessas mamangavas pretas voando, em busca de sair pela telha transparente. Ela entrou na área de serviço da casa e, com aquele zumbido alto, tentava sair pelo teto, atraída pela transparência da telha.  Esse bichinho dificilmente passa despercebido pelo som forte e característico de seu zumbido. Quem já o provocou sabe que costuma ficar bem zureta e voar destemidamente atrás da gente; aí, o negócio é dar no pé!

Bem, embora nem todo mundo entenda ou veja uma coisa dessas com naturalidade, mas, é verdade que costumo falar com os bichos. Muitas vezes dá certo. E eu disse a ela:

– Não é por aí, você tem que ir praquela direção lá, ó! Vai pra lá!

Falei mais de uma vez e depois saí.

Ao fim da tarde eu a encontrei inerte. Ela pousou sobre um pano que eu havia deixado com sabão em pó em um balde. Foi beber daquela água e por ali ficou, envenenada. Entristeci-me quando vi a cena, afinal, fui eu o causador de seu perecer.

Não tinha mais o que fazer e retirei-a dali colocando num parapeito da parede. Dois dias depois ela ainda estava no mesmo lugar e resolvi jogá-la ao fundo do quintal, quando percebi que uma perninha mexeu-se lentamente. Que sensação estranha isso me deu! Ali ainda havia vida!

Estava em coma… E o culpado era eu. Óbvio, sem qualquer poder de retirá-la do coma, só me restava sacrificá-la. Lembrei-me que tenho guardado um vidro grande de benzina, ainda do tempo de meu pai e não titubeei em buscá-lo. Umas gotas de benzina em qualquer inseto e a morte é instantânea. Quando verti o líquido, reagiu de imediato, fechando-se…

Naquele momento lamentei pela pequena energia que se extinguiu. Afinal, somos capazes de tirar vidas inocentes, mas,  absolutamente incapazes de restituí-la, pois esta vem de uma fonte única, primordial e soberana.

Munido de um facão, fiz um buraco no chão do quintal e depositei-a, cobrindo com terra.

As mamangavas atualmente estão meio raras, pois agrotóxicos as têm dizimado. São bichinhos importantes para a polinização de várias plantas,inclusive para o maracujá. Einstein afirmou que quando as abelhas começassem a desaparecer a humanidade deveria preocupar-se… Já li artigos em jornais e revistas abordando o princípio dessa temeridade.

Bem, para resumir, esta foi a lição que extraí de um tão simples acontecimento: uma fonte de água disponível qualquer atrairá sempre algum ser inocente, alado ou não, porque a água é um direito divino deles, assim como nosso.

Se a água está boa, é uma situação. Se estiver carregada quimicamente é outra, e o bichinho que para ela se dirigir perecerá. Buscando garantir a vida encontrará a morte… Foi o que aconteceu e o preparador da água mortal, por inconsciência, fora eu.

E como em direito divino não se mexe, seja para que criatura for, aprendi que a partir de agora, se necessitar deixar algo de molho, o recipiente deverá ser bem tampado.  Isso muda tudo… Eis o poder da lição.

 

 

Sergio Diniz da Costa
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