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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'A greve geral'

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Carlos Carvalho Cavalheiro: ‘A greve geral’

A greve sempre foi um dos instrumentos históricos de combate mais utilizados pelos trabalhadores na luta pela conquista – e manutenção – de direitos. No Brasil, ainda no século XIX, registram-se as ocorrências das primeiras paralisações de trabalhadores. Em Sorocaba, por exemplo, a primeira greve ocorreu em 1885 quando os pipeiros (carroceiros que abasteciam a cidade com água em tonéis pipa) reclamaram do fato de o Poder Público impedi-los de retirar água de determinado ponto do rio Sorocaba.

Com o passar dos anos, a greve se tornou um dos mais eficazes meios de obtenção de negociação entre empregadores e empregados. Em certa medida, o seu uso constante desgastou a imagem e prejudicou a eficácia de tal ferramenta. Tempos outros em que a especialização das funções diminui a força e a importância das organizações de trabalhadores.

Por esse motivo, a busca do caminho inverso, qual seja o da união de diversas categorias, tem apontado uma luz no fim do túnel. Longe das discussões das peculiaridades de cada função ou atividade, que sempre serviu para afastar os trabalhadores, a conjuntura muitas vezes faz brotar um brilho de razão nas mentes, esclarecendo que a despeito de onde estamos posicionados, se na proa ou na popa, o fato é que todos nós estamos dentro do mesmo barco. Se a embarcação afunda, afogam-se os que nela estão.

É um pouco dessa consciência que parece ter surgido entre as diversas organizações sociais e de trabalhadores ao propor uma Greve Geral nesta sexta-feira, dia 28 de junho.  Dessa vez a Greve se faz em protesto às reformas Trabalhista e da Previdência que apontam um futuro – se é que existirá – tenebroso para todas as categorias de trabalhadores. As propostas, como a terceirização a todas as atividades e a vergonhosa proposta de aumento da idade mínima para aposentadoria, atingem a todo e a qualquer trabalhador. Amplos setores da sociedade, que inclui a Igreja Católica, Centrais Sindicais, CNBB, Sindicatos e movimentos sociais já anunciaram a adesão ao movimento.

Sobre a Reforma de Previdência, por exemplo, o governo alega a existência de um rombo que impossibilitaria o pagamento futuro de todas as aposentadorias. O jornal O Globo noticiou: “A Previdência registra rombo crescente: gastos saltaram de 0,3% do PIB, em 1997, para projetados 2,7%, em 2017. Em 2016, o déficit do INSS chega aos R$ 149,2 bilhões (2,3% do PIB) e em 2017, está estimado em R$ 181,2 bilhões. Os brasileiros estão vivendo mais, a população tende a ter mais idosos, e os jovens, que sustentam o regime, diminuirão”. Como solução proposta pelo governo, a idade mínima para aposentadoria deverá ser elevada: “O relatório final da comissão da Reforma da Previdência fixa idade mínima para requerer aposentadoria – 65 anos para homens e 62 anos para mulheres – e acaba com a possibilidade de aposentadoria exclusivamente por tempo de serviço no INSS” (http://oglobo.globo.com/economia/reforma-da-previdencia-entenda-proposta-em-22-pontos-19744743).

Por outro lado, o advogado Plauto Holtz postou nas redes sociais, em 16 de março, um comentário – não fica claro se dele ou de outra pessoa – em que argumenta que o referido “rombo” da Previdência não existe e que o Governo propositalmente deixa de contabilizar arrecadações (como PIS e COFINS) das quais são extraídas porcentagens que compõem o fundo da Previdência. De acordo com essa publicação, até mesmo em contas de água, luz, energia, ou em atividades como jogar na loteria ou assistir a uma partida de futebol profissional em estádio, ou mesmo construção ou reforma, há recolhimento de contribuição à Previdência. Também de acordo com essa publicação, há uma retirada mensal de 20% do fundo de Previdência para atender a outras pastas do governo.

Desse modo, e sem que se tenha de fato a transparência dos números, é legítimo e moral que o povo se levante contra as reformas. Afinal, esse mesmo povo já se cansou de ver pela televisão a avalancha de escândalos de corrupção e desvios, cujos valores ultrapassam sobremaneira o suposto rombo da Previdência.

Os industriais brasileiros, por meio de sua entidade de classe, a FIESP, lançaram a campanha de “não pagar o pato”, diante da crise econômica que começava a assolar o país. É justo que agora os trabalhadores digam um sonoro “Basta!” aos desmandos e à tentativa de fazer com que o povo pague novamente a conta dos banquetes da corja de parasitas que controlam o Brasil.

Este ano, no dia 9 de julho, será comemorado o centenário da Primeira Greve Geral do Brasil, que paralisou a cidade de São Paulo e, depois, estendeu-se por outras cidades. Naquela época, os trabalhadores conquistaram suas reivindicações. Que possamos ter a mesma sorte. Que tenhamos a mesma coragem dos nossos antepassados para que façamos jus ao mesmo sucesso que eles tiveram há cem anos.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

26.04.2017

 

Sergio Diniz da Costa
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