CRÔNICA TEMA ‘MINHA MÃE E EU’:
Nesta emocionante crônica, a colunista Adriana Rocha aponta, nas falhas, defeitos e tropeços exacerbados de sua mãe, justamente a divindade dela
‘Minha mãe e eu’
Preciso da distância para vê-la melhor! Somos tão diferentes que nos tornamos parecidas e talvez resida neste ponto a minha dificuldade de conviver tão próximo: não é fácil ver no outro (espelho) o reflexo do que somos…
Para longe dos clichês, a relação mãe e filha não costuma ser tranquila, tampouco pacífica. Não foi e não é diferente conosco. Amor e frustração se mesclam de forma escandalosa.
Não acredito no sentimento incondicional: mães têm condições sim, mas são impedidas de exigi-las, porque foram cobertas pelo “manto cultural” da santidade. Mas minha mãe sempre foi tão humana! E foi exatamente em sua humanidade exacerbada pelas falhas, defeitos e tropeços que ela se tornou divina para mim…
Aprendeu a tocar violão e fizemos belas canções juntas. Brincou comigo debaixo da mesa, na minha caverninha secreta na sala (mesmo que comprometesse toda a estética). Contou histórias belíssimas e me ninou muitas vezes.
Mas, de toda nossa trajetória, o que mais me marcou foi sua capacidade em me ouvir. Eu, a menininha tagarela, que “falava pelos cotovelos”, nunca ouvi de minha mãe um “cala a boca”. Tenho certeza que essa postura me levou para os caminhos do diálogo.
Nice não é uma mulher que fala muito (talvez porque meu pai e eu dificultássemos sua manifestação). Alguns a acham séria e fechada, até mesmo carrancuda, porém quem a conhece sabe o quanto nada disso se revela no dia a dia. Sua rotina é de cuidados e sempre para o outro: para meu pai, meu irmão, meu avô, meus tios, a comunidade em que participa e a quem mais precisar. Não é sem razão que minha avó Aparecida quis estar com ela no momento em que deixou este mundo: elas estavam conversando!
Precisei cortar o cordão umbilical para entender a importância da maternidade. Optei por não ser mãe, mas jamais abdicaria do meu posto de filha! Porque Nice é intensa, ainda que calada. Quer entender o que está muito longe e quer deixar tudo bem perto, para ser sentido, vivido e experimentado.
Ela, ainda que o faça com carinho, não é das que se destacam pelo alimento que preparam. Ela não teve uma profissão, embora pudesse exercer, brilhantemente, qualquer uma que escolhesse.
Seu potencial controlador (que mãe não o tem?) se esvazia na ação carinhosa de quem quer simplesmente amar.
Saiba, Nice, que não foi você quem me escolheu para ser sua filha, FUI EU quem a escolheu para ser minha mãe!!!
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024