setembro 20, 2024
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Celso Lungaretti: 'Outras facetas do blogue 'Náufrago da Utopia'

Celso Lungaretti: JANOT DISPARARÁ SUAS FLECHAS COMO:
1) TARZAN; 2) CHITA; 3) ROBIN HOOD; 4) UM TRAPALHÃO; 5) QUEM ACERTA O PRÓPRIO PÉ.

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Vou pegar carona numa notinha zombeteira do Elio Gaspari. Esta:

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TARZAN OU CHITA.

A tática do “enquanto houver bambu, lá vai flecha”, enunciada pelo procurador-geral Rodrigo Janot, insinua que, depois da primeira denúncia contra Michel Temer, virão outras.

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Se as novas flechas trouxerem fatos novos e gordos vindos de gente como Eduardo Cunha ou Lucio Funaro, Janot será um Tarzan, o rei das selvas. Se vierem flechas magras, a ameaça do bambu terá sido coisa do macaquinho.

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OU O TRAPALHÃO DIDI

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Afora o paralelo que o Gaspari traça acima com Tarzan e Cheetah, personagens de Edgard Rice Burroughs imortalizados em livros, HQ e filmes, caberia acrescentar que, se Janot e a Globo lograrem finalmente o objetivo de derrubar Temer, a flechada terá sido certeira como a de Robin Hood na maçã; caso contrário, lembrará uma velha comédia brasileira estrelada por Renato Aragão…

(clique aqui para assistir ao filme Robin Hood, o Trapalhão da Floresta)

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dalton rosado

A VELHA ÁRVORE E O VELHO HOMEM

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“A tragédia da vida é que ficamos velhos cedo demais. E sábios, tarde demais” (Benjamim Franklin)

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De repente o carro estacionou no engarrafamento do trânsito e ali estava ele olhando para aquela árvore. Uma árvore retorcida no seu tronco enrugado, mas ainda frondosa, mesmo com aquele aspecto de quem já estava na idade madura, ou até passando dela.

O velho teve a estranha sensação de que ela o olhava como alguém da mesma idade pedindo algum tipo de carinho; e se perguntou como poderia ser aquela vida vegetal inerte, apesar dos galhos que balançavam ligeiramente ao vento, indefesa, mas com a vantagem de se nutrir do solo, sem ter de brigar por uma mísera aposentadoria cada vez menor, sob a ameaça de colapso de um sistema previdenciário cada vez mais imprevidente.

Será que ela sentiria a aflição de não poder se defender diante da possível agressão de uma moto-serra, ou da possibilidade de sofrer o choque violento de um carro desgovernado, ou mesmo de uma tempestade com ventos fortes?

Aquela era uma árvore urbana e, por isto mesmo, isolada, longe da companhia de outras árvores que. habitando as florestas, ficam menos expostas (pelo menos enquanto não há desmatamento predatório). Sentirá falta de companhia? Sentirá saudade, palavra cara ao idioma português e que expressa tão bem o sentimento de ausência daquilo que se quer ter por perto e não se tem?

Será que, ao contrário da possível angústia de sua inércia e solidão, ela compartilha a alegria dos pássaros que, em todos os fins de tarde e começo das manhãs, a ela se juntam numa algazarra de felicidade, comemorando a liberdade?

A primeira impressão do velho é que, tal como todos os seres da vida animal, aquele ser vegetal tinha consciência da sua efemeridade e finitude;

– que parecia agradecer à natureza por ter crescido e chegado à velhice; e

– que, como uma pessoa velha e satisfeita com a sua própria história, não tinha medo da morte.

Encarava-a com serenidade, porque os momentos de turbulência, quando ainda era frágil e temia ser arrancada da vida com facilidade, prematuramente e sem vivê-la e compreendê-la na sua plenitude, agora já eram coisa do passado.

As suas raízes e tronco, de tão bem fincados na terra, já não podiam ser arrancados por qualquer atitude inconsequente (para arrancá-la teria de haver um ato de força, como uma violenta tempestade tropical destes tempos de aquecimento global que muda o clima!), embora tivesse também a consciência da fragilidade decorrente do processo de falência e decomposição orgânica própria do inevitável ciclo de nascimento, vida e morte.

O velho compreendeu que esse era e é o interminável ciclo da vida: começamos frágeis, ficamos fortes, e depois voltamos a ser frágeis. Voltamos a ser filhos dos nossos filhos, daqueles mesmos filhos que um dia carregamos pelas nossas mãos fortes, e dos quais agora somos dependentes para coisas elementares como subir uma escada mais íngreme ou pular uma pequena poça d’água. E isto quando os temos, e quando os temos solidários.

Será que a maturidade tem o dom de nos aguçar a sensibilidade? É o que o velho perguntou a si mesmo diante da velha árvore.
Será que tem a capacidade de nos fazer ver as coisas a partir de um olhar sentimental que busca o verdadeiro sentido de tudo?

Será que agora, ao final, podemos ver as coisas com um olhar mais profundo, captando todos os detalhes e nuances pelos quais a pressa da juventude nos fazia passarmos batidos?

Será que a maturidade nos fornece o dom de compreendermos nossa imensa responsabilidade, de sermos pais de todos os filhos da humanidade, para que possamos nos habilitar a sermos os filhos de todos os filhos dessa mesma humanidade?

Será que poderemos incluir, agora e sempre, à nossa própria vida, todos os seres humanos e todas as árvores, num conceito de perpetuação e proteção da espécie e da vida comum aos animais racionais, irracionais e aos vegetais?

Afinal, não é isto o que representa o sentido de solidariedade e a emancipação humana?

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apollo natali

A CIGARRA E EU

Falo a verdade.

Desci do ônibus na avenida Paraguaçu Paulista, na Cidade Patriarca, para cruzar a linha férrea, sem muros nem cercas, em direção à minha casa, na Vila Ré. O metrô ainda não havia chegado no pedaço.

Era uma tarde de sol. O silencio da tarde era a calma para os nervos.

Acontece que eu estava cansado e apático. Aqueles trens, elétricos, eram silenciosos. De cor azul, confundiam-se com o céu. No instante em que, distraído, ia cruzar os trilhos, ouço um canto de cigarra.

Era um canto exagerado, riiiiiiiaaaaaaaaa!!! que me fez parar e voltar para localizar uma provável enorme criatura, numa árvore de tronco e galhos finos, seca, como na história religiosa, de onde partia a gritaria.

Assim que parei, o trem azul e silencioso passou, agora sim, rodas barulhentas, a um palmo de mim. Não fosse o canto da cigarra a me chamar a atenção eu teria morrido.

Quando o trem passou, examinei os galhos secos e não consegui ver cigarra nenhuma. Cruzei os trilhos na esperança de que, distante da árvore, a cigarra se animasse a berrar outra vez. Porque o que ela deu foi um autêntico berro, ao pé do meu ouvido. Nada de cigarra.

Com as pernas bambas, fui embora.

Um dia, sei que vou desencarnar. Entre o inferno, o purgatório e o paraíso, acho que irei para o purgatório, ridícula modéstia à parte, junto com alguns bilhõezinhos de irmãos por aí. Quem um dia viu de perto a morte por estraçalhamento, sabe o que eu senti.

Consegui me tranquilizar com a brilhante ideia de agradecer a Deus, muitas vezes, por me permitir continuar vivendo.

Na manhã seguinte, mais lúcido, voltei à linha férrea para tentar localizar, na árvore seca, a querida cantora que driblou minha morte no berro. O terreno a lado dos trilhos é pedregoso desde que o conheço, faz mais de meio século. Lá nunca teve árvore nenhuma.

henning mankell

A SOCIEDADE DE CONSUMO TORNOU TUDO 

DESCARTÁVEL. ATÉ OS SERES HUMANOS.

Quando eu era pequeno, a Suécia ainda era um país onde as pessoas cerziam suas meias. Eu mesmo aprendi a fazer isso na escola. 

Mas, de repente, isso acabou. Meias furadas iam para o lixo. Ninguém se dava ao trabalho de cerzi-las. Toda a sociedade mudara. ‘Use e jogue fora’ era a regra que imperava. 

Enquanto a coisa se aplicava só a meias, a mudança não fazia muita diferença. Mas aí a coisa começou a se expandir, até terminar por constituir uma espécie de código moral. Isso mudou nosso conceito de certo e errado, ou do que é permitido fazer aos outros ou não.


Mais e mais pessoas passaram a se sentir incomodadas no próprio país. Como eles reagem? Com agressão e desprezo. O mais assustador é que estamos apenas no começo de algo que vai piorar muito. 

A geração atual vai reagir de forma ainda mais violenta. E eles não têm a menor lembrança de uma época em que cerzíamos nossas meias. Em que não jogávamos tudo no lixo, fossem meias de lã ou seres humanos” (reflexão do personagem Kurt Wallander no livro A quinta mulher, do escritor sueco Henning Mankell, o melhor novelista policial da atualidade)

celso lungaretti

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO 

(E DA CANÇÃO JAMAIS ESQUECIDA)

O saudoso cine Patriarca virou oficina mecânica

Muita água passou debaixo da ponte desde aquele domingo em que, como quase sempre fazia, acompanhei meu pai ao seu  bico  de fim de semana.

Além do trabalho exaustivo numa fiação, ele sacrificava seu repouso para botar mais dinheiro em casa: recolhia apostas nas corridas de cavalo, em troca de uma comissão de 10%. Repassava-as por telefone a um tio-avô que vivia disto.

Este parente (*), que lembrava muito o personagem  Amigo da Onça (grande Péricles!), descarregava os jogos pesados em outras bancas, segurando só os que teria como pagar.

Então, na ampla casa do meu avô, os apostadores iam fazer sua fezinha e alguns passavam a tarde lá, assistindo ao futebol, torcendo ruidosamente na hora dos páreos televisionados (Vai! Vai! Vai! VVVVVVAAAAAIIII!!!), jogando cartas.

Eu tinha uns seis anos e brincava com um ou outro amigo da turminha da rua sem coisa melhor para fazer em pleno domingão.

Certa vez, o único que estava por lá me convidou a ir até o cine Patriarca olhar os cartazes, a cinco quarteirões de distância. Fomos.

Para minha surpresa, ele levou um papo de coitadeza e convenceu um bom velhinho a nos pagar um ingresso. Parece que fazia sempre isto, pois o porteiro, sem discutir, permitiu que eu também entrasse, dois pelo preço de um.

O filme era sobre Ali Babá. Adorei a canção tipo chiclete (gruda no ouvido…) que acompanhou os letreiros iniciais, mas… passados uns 10 minutos eu resolvi ir embora, pois não avisara o meu pai e sabia que ele se preocuparia se não me encontrasse.

O senso de responsabilidade falou mais alto; no entanto, fiquei tão frustrado que a tal musiquinha jamais me saiu da cabeça…
Quase 60 anos depois, deparei-me num blogue de downloads com o filme Ali Babá and the forty thieves, de 1944, dirigido por Arthur Lubin. Fiquei curioso: seria este?

Fui atrás do vídeo no Youtube e constatei que não. Mas, na busca apareceu também o menos conhecido The adventures of Hajji Baba, de 1954 (d. Don Weis). Bingo!
Aquele tema que me deslumbrara tinha assinatura ilustre: Dimitri Tiomkin, de quem simplesmente adoro as composições para Sem Lei e Sem Alma. E o cantor era ninguém menos do que o Nat King Cole. Ouçam

O filme, falado em inglês e sem legendas, podia ser assistido no Youtube, mas logo desisti. Não valia mesmo a pena vê-lo por completo.

Pelo menos a canção não me decepcionou, como costuma acontecer com as lembranças que o tempo e a imaginação colorem na nossa mente.

Caso dos gols guardados com tanto carinho na memória, mas que hoje, revistos no Canal 100, mostram-se até banais, não resistindo à comparação com os de Messi e Neymar.

No fundo, talvez gostemos mesmo é de evocar o que éramos… e nunca mais seremos. A vida escorre dentre nossos dedos.

Helio Rubens
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