Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘APARÊNCIAS’
As aparências, quando não enganam, demonstram.
É secular o ensinamento de que não devemos julgar alguém pela simples aparência. Também é secular a constatação de que a aparência é a primeira informação disponível a qualquer julgamento.
No campo da segurança, a aparência, popular jeitão, perdeu por completo o significado. Bandidos já não ostentam aparências próprias, e alguns transmitem indicativos angelicais.
Houve um tempo em que a tatuagem era indicativo de ser o portador marinheiro, e o piercing indicativo de hippie. Hoje, embora disseminados, tais adereços encontram sérios obstáculos, principalmente no campo do emprego.
Idosos inconformados tentam mascarar a idade com o uso de adereços e vestes despojadas. É comum vê-los com tênis gritantemente coloridos e camisetas com frases em inglês.
Todos buscamos uma melhor aparência, até que a idade conduza ao amadurecimento, quando a boa aparência é colocada em segundo plano, logo após a satisfação e conforto pessoal. É comum a opção por roupas já velhas e puídas, sempre perseguidas pelo anseio da família, em descartá-las.
A sociedade valoriza a aparência, como sinalizadora de sucesso profissional, posses e higiene pessoal, à primeira vista. Grandes humoristas podem possuir feição sisuda, e corruptos notórios feições fraternas.
Ultrapassada a barreira da aparência, os relacionamentos humanos passam a ter como base a realidade pessoal de cada um, sem penduricalhos. Para alguns, o apressado e não raro injusto julgamento pelas aparências sepulta qualquer possibilidade de conhecimento e entendimento pessoal.
A aparência costuma ter, como vítimas preferenciais, os pobres e miseráveis, sem recursos para melhorá-la. No fundo, o julgamento pela aparência envolve preconceitos, confortados no foro íntimo como meras intuições.
Mulheres feias, de aparência assustadora, tornam-se lindas, quando realmente conhecidas. A busca pela boa aparência atinge igualmente homens e mulheres, essas mais honestas nos adereços e consertos.
Conheço milionários que podem ser confundidos com mendigos, e que se divertem com as reações humanas, ao primeiro contato.
Sou uma vítima conformada da aparência. Venho de uma família de eméritos e sociais bebedores, todos com caras de santo. Sou o único que não bebe, e o único com cara de bêbado.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.