novembro 21, 2024
A força dos ipês: mais que uma reparação
O reconhecimento que não alimenta professores…
Conversa de bêbados
Membrana, de Maurício Limeira
Vernissage de exposição artística
Dia da Bandeira
Marota mente
Últimas Notícias
A força dos ipês: mais que uma reparação O reconhecimento que não alimenta professores… Conversa de bêbados Membrana, de Maurício Limeira Vernissage de exposição artística Dia da Bandeira Marota mente

Celso Lungaretti: 'Juiz nenhum tem autoridade para impor censura prévia a espetáculos teatrais no Brasil: a Constituição veda!

image_pdfimage_print

 Celso Lungaretti: ‘AGORA SÃO OS PORTUGUESES QUE FAZEM PIADAS SOBRE NÓS: “NO BRASIL, OS JUÍZES SÃO OS PRIMEIROS A IGNORAREM AS LEIS”

 
Ele exibe o código eleitoral. Deveria ler a Constituição!

É assustador que um juiz de 1ª instância desconheça o art. 5º da Constituição Federal e cometa um indiscutível abuso de poder. Mas, foi o que fez Luiz Antonio de Campos Jr., titular da 1ª Vara Cível de Jundiaí (SP), ao anular por conta própria os seguintes preceitos dos direitos e deveres individuais e coletivos dos brasileiros:

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

O meritíssimo, como qualquer cidadão comum, não concordou com o tema da peça que estrearia no Sesc daquela cidade, O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que reconta a história bíblica tornando Cristo uma mulher transgênero.

E, como autoridade judicial, decidiu que ninguém a assistiria, alegando que figuras religiosas e sagradas não podem ser expostas ao ridículo. Fixou uma multa de mil reais por dia caso sua determinação ilegal fosse descumprida.

Ora, o cidadão comum tinha o pleno direito de fazer campanha contra a peça como bem entendesse, desde que não transgredisse as leis do País. Já a autoridade judicial estava obrigado a cumprir tais leis, que vedam toda e qualquer forma de censura prévia.

 Como não consegue conciliar estas duas esferas, ele deveria abandonar a toga. Seria a atitude mais honesta da sua parte.

Caso contrário, os prejudicados devem acionar o Conselho Nacional de Justiça, pois o furor censório do meritíssimo se enquadra perfeitamente nesta atribuição do CNJ: “realizar sindicâncias, inspeções e correições, quando houver fatos graves ou relevantes que as justifiquem”.

É difícil imaginarmos algo mais grave e relevante do que a grotesca tentativa de fazer o Brasil regredir aos anos terríveis da ditadura militar, com sua medonha censura prévia.

Quanto à atrabiliária e, repito, ilegal proibição da peça, poderá facilmente ser revertida por habeas corpus, afinal já faz um tempinho que o Brasil é um estado laico: nada menos que 127 anos (por força do Decreto nº 119-A, de 07/01/1890, de autoria de Ruy Barbosa).

E, em estados laicos, as figuras religiosas e sagradas podem ser, sim, expostas ao ridículo em representações teatrais, assim como os espectadores indignados podem depois acionar os tribunais para que os responsáveis sejam eventualmente punidos.

 

Depois, não antes – este detalhe faz toda a diferença.

De resto, quem não é militante da TFP e demais grupúsculos ultraconservadores, certamente preferirá a opção mais simples de… não ir ao teatro.

Em casos assim, quando a 1ª instância toma decisões estapafúrdias, as superiores inevitavelmente corrigem a besteira. Os responsáveis pelo espetáculo poderão inclusive ser ressarcidos pelos prejuízos que lhes foram arbitrariamente causados.

No mais, está certo o Hélio Schwartsman ao enfocar de maneira diferente a forma como o banco Santander se vergou às mesmíssimas pressões obscurantistas noutro episódio recente:

“Embora tenha sido profundamente lamentável, a decisão do Santander de cancelar a exposição Queermuseu não constituiu tecnicamente um caso de censura. O banco se acovardou diante dos protestos dos supostos liberais e resolveu suspender o patrocínio, o que é um direito seu”.

Como é direito dos civilizados encerrarem suas contas em bancos que, por convicção ou oportunismo, fazem média com os nostálgicos da Idade Média.

Helio Rubens
Últimos posts por Helio Rubens (exibir todos)
PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com
Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Pular para o conteúdo