Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO’
Max Weber, na sua obra objeto deste artigo, mostrou que foi o Protestantismo a corrente religiosa (ou Igreja) responsável pela formação ética do capitalismo racional, cujas origens remontam ao período da Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero (século XVI) e se imiscuíram nas variantes da Igreja Reformada, que foram o Calvinismo, o Pietismo (em especial o inglês), o Metodismo e as seitas Batistas como as principais. Seguem as diferenças entre as correntes religiosas:
- o Catolicismo é uma atividade espiritual (ascetismo extramundano), isolado das atividades mundanas e o trabalho não é valorado como meio à salvação;
- o Protestantismo (Luteranismo) é uma atividade laboral (ascetismo intramundano) e o trabalho é valorado como meio à salvação;
- o Calvinismo é uma atividade laboral sistematizada e o trabalho com lucro (somente pelos eleitos) é tido como meio de glorificar o Criador;
- o Pietismo Alemão é uma atividade laboral sistematizada e o trabalho é valorado como meio à salvação, mesmo sem buscar lucro;
- o Metodismo exige o arrependimento do pecador para sua salvação e, estando salvo pelo Criador, deverá seguir o Calvinismo;
- as seitas Batistas tem apego às atividades laborais privadas e formam instituições independentes (seitas) e não a Igre
O ascetismo extramundano consiste na graça alcançada com a renúncia à vida mundana e dedicação aos valores espirituais (vida monástica). O ascetismo intramundano consiste na graça alcançada com as atividades do dia-a-dia, como exteriorização da vocação designada por Deus a cada indivíduo.
A característica elementar dessas correntes protestantes foi a de santificar as obras seculares (ascetismo intramundano), atribuindo à vocação (desígnio divino) o meio para a salvação da alma. E, quem a exercesse com mais eficácia e sistematização, seria por Deus abençoado com a riqueza material resultante, sempre devendo o agraciado a glorificá-Lo.
A ética protestante, fundamental para a elaboração do espírito do capitalismo, consiste na eficiência e nas virtudes da honestidade, pontualidade, industriosidade e frugalidade, sem as quais não se desenvolve o ânimo criativo nem o sistemático, limitando o indivíduo ao trabalho do dia-a-dia (sem perspectivas de futuro).
De todas as correntes protestantes, a que mais influiu para a formação do espírito do capitalismo racional foi o puritanismo inglês, cujas máximas eram, basicamente:
- a vocação deve ser exercida para glorificar a Deus, e não apenas um dever religioso, devendo ser sistematizada (frugal ou moderada);
- a especialização laboral, desenvolvida por Lutero, permite ao indivíduo mais de uma vocação, se for eficiente em todas;
- condena a riqueza como fonte do ócio (preguiça).
O capitalismo atual (utilitarista) dissociou-se da origem religiosa (capitalismo racional) para sobreviver por si só, sem buscar o lucro para assegurar a salvação da alma. Surgiu com a Revolução Industrial (séc. XVIII) e prossegue até os dias atuais. O capitalismo atual busca o lucro pelo lucro.
O espírito do capitalismo racional é, portanto, a obtenção do lucro mediante eficiência e virtudes (honestidade, pontualidade, industriosidade e frugalidade (moderação)) aplicadas exclusivamente na vocação designada por Deus ao indivíduo, para glorificá-Lo e assegurar a salvação da própria alma. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(o autor é advogado)
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.