Élcio Mário Pinto: ‘As carinhas de Laila’
Uma homenagem à menina Laila Vitória, de Taperoá-PB
Era domingo à noite, quando Laila sentou-se em sua cadeira que estava em frente à mesa de estudo no escritório de sua mãe. Desde que algumas coisas da casa foram colocadas naquela sala, a menina resolveu e também colocou suas coisas lá: uma mesa, uma cadeira, livros, materiais da escola e alguns brinquedos.
Naquela noite, o papai de Laila percebeu que a criança fazia muitos desenhos de carinhas nas folhas de caderno. Então, todo interessado, perguntou:
– O que você está fazendo?
A criança, sem tirar os olhos daqueles desenhos, sorriu e respondeu:
– Desenhando carinhas.
– Por quê? – queria saber seu pai, agora, mais interessado ainda!
– Sabe o que é, pai?
– Não filha, eu não sei, mas gostaria muito de saber.
A criança, nesse momento, parou de fazer os desenhos e começou a falar:
– São carinhas. Acontece que meus amigos na escola têm irmãozinhos. Eles são muito pequenos, ainda bebês, de 1 e 2 anos. Às vezes, os bebês querem alguma coisa e não sabem falar. Então, eles me pediram uma ajuda.
– Você é quem vai ajudá-los?
– Sim!
– Como?
– Fazendo muitos desenhos de carinhas. Aí, os bebês podem aprender e, quando quiserem alguma coisa, é só mostrar a carinha com o dedo.
– Você já fez muitas carinhas?
– Já!
– Pode me mostrar?
– Posso!
– Então, me mostre.
E assim, Laila começou a mostrar para seu pai todas as carinhas já desenhadas. Enquanto o papai olhava, parou, apontou com o dedo e disse:
– Mas, Laila, nem todos os desenhos são carinhas de gente.
– É isso mesmo! – respondeu a menina, que não via nenhum problema nisso.
– Eu pensei que eram carinhas de pessoas, talvez, as suas carinhas.
– São minhas, porque eu desenhei.
– Tudo bem, mas, não são as carinhas do seu rosto.
– Mas, são carinhas de muitas coisas!
– Estou vendo. Por quê?
– Porque cada coisa tem uma carinha também.
Enquanto explicava, Laila mostrou um pequenino desenho de camisa, saia, vestido, tiara, flor, camiseta, batom, blusa e tantos outros objetos e coisas que ela já conhecia em sua vida de quase 4 anos de idade.
– Então, você desenha muitas carinhas de muitas coisas. É isso?
– Sim, é isso, papai!
– Mas, então, não são carinhas, são só desenhos.
– Não, não. São carinhas sim!
– Só pessoas têm carinhas.
– As coisas também têm.
– Como?
– Quando eu desenho essas carinhas das coisas, elas também se mexem.
– O que fazem?
– Dão uma risadinha, uns pulinhos e gostam de conversar.
– O que elas falam?
– Perguntam se está tudo bem e o que eu gosto de fazer.
– Você responde?
– Eu respondo e digo que estou desenhando mais carinhas para os bebês que não sabem desenhar e, às vezes, nem sabem falar.
– Quando você leva essas carinhas, o que é que os bebês fazem?
– Eles gostam muito!
– Como você sabe?
– Seus irmãos, que estão na escola, me contaram.
– O que disseram?
– Que as carinhas também brincam com os bebês, por isso eles gostam tanto delas.
– Veja só, Laila. Você ensinando para os bebês sobre o jeito de ser, o que se quer e até, sobre desenhos e vontades que eles têm. Parabéns, filha!
– Obrigada, papai! Agora, preciso terminar.
– O que você está desenhando?
– Estou fazendo sua carinha.
– Nossa! Posso ver?
– Depois que eu terminar, pode!
– Por que você está desenhando minha carinha?
– Para que os bebês não tenham medo.
– Eles têm medo?
– Só quando ficam sozinhos. Mas, com a sua carinha, eles vão dormir e sonhar.
– Então, filha, continue e ajude os bebês.
– Beijo, papai!
– Beijo em você, filha!
ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024