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Célio Pezza: 'A história do corvo'

Célio Pezza   – Crônica # 364 – A história do corvo

 

  

 Geralmente o fantástico é definido como uma violação das leis naturais, como a aparição do impossível. Na verdade, não é nada disto. É simplesmente uma manifestação das leis naturais, um contato com a realidade desconhecida, quando ela nos chega diretamente, não filtrada pelo véu do sono intelectual, pelos hábitos, preconceitos e conformismos. Em verdade, é muito tênue a fronteira entre o universo visível e o invisível. Ambos são reais, mas só conhecemos um deles.

O antropólogo, ecologista e poeta americano Loren Eiseley (1907-1977) conta uma bela história que exprime o que pretendemos dizer:

Descobrir outro mundo, diz ele, não é apenas um fato imaginário. Pode acontecer aos homens e também aos animais. Por vezes as fronteiras resvalam ou interpenetram-se naturalmente; basta estar presente neste momento.

Ele conta a história de um homem e um corvo seu vizinho; nunca ninguém lhe fez mal algum, mas o corvo sempre teve o cuidado de voar alto e de evitar a proximidade dos homens.

Por muito tempo, todos os dias, ao amanhecer, o homem se dirigia a estação, e via lá no alto, o corvo cruzando seu caminho.

Uma certa manhã, os campos estavam mergulhados em um espesso nevoeiro, anormal, e o homem se dirigiu normalmente a estação, como sempre fazia, sem praticamente enxergar o seu caminho. Bruscamente, à altura dos seus olhos, surgiram duas asas negras e um bico gigantesco, seguidos de um grito de terror como nunca havia escutado.

Refeito do susto, o homem percebeu que a fronteira entre dois mundos resvalara devido ao inédito nevoeiro e, neste momento, o corvo trombara com ele.

Aquele corvo, que supunha voar na sua altitude habitual, ficou desorientado pelo nevoeiro e, subitamente, teve uma experiência espantosa, contrária às leis da sua natureza.

Ele viu um homem caminhar no espaço, bem no mundo dos corvos. Ele se deparou com a manifestação de estranheza mais completa que um corvo pode conceber: um homem voador! Aquele fenômeno desafiou as suas crenças, de que os homens não podem voar. Ele tinha visto um homem ao seu lado, onde nunca poderia estar, de acordo com suas crenças! Para ele, este fenômeno anormal não tinha explicação.

Agora, quando este corvo vê um homem, lá do alto, solta pequenos gritos e podemos reconhecer nesses gritos a existência de um espírito cujo universo foi abalado.

Já não é e nunca mais será como os outros corvos!

Assim como aconteceu com esse corvo, acontece com alguns homens. Estes também, quando tocados pelo desconhecido, nunca mais serão como os outros homens.

 

Célio Pezza   

Outubro, 2017

escritor@celiopezza.com

Helio Rubens
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