Pedro Israel Novaes de Almeida
Ser vestibulando não é fácil.
São poucos os que não hesitam na escolha do curso e profissão que pretendem seguir. Uma série de fatores influenciam a decisão.
A comodidade tende à escolha de uma profissão que aproveite alguma estrutura familiar já montada, como escritório, clínica, comércio ou indústria. A comodidade não costuma ser boa conselheira.
O atrativo econômico e financeiro tende a afastar profissões pouco remuneradas, quase franciscanas. São poucos, e felizes, os que colocam a vocação acima das perspectivas salariais, e seguem vida afora confundindo lazer e profissão.
A busca por uma formação de nível superior espelha a segurança oferecida por um bom diploma e conhecimento, patrimônios que continuam valiosos em qualquer crise ou contexto.
Antes do advento do ENEM, o vestibular era uma dispendiosa e estressante maratona país afora, aproveitando os exames não coincidentes. Universidades estaduais, muitas, privilegiavam seus conterrâneos com questões pertinentes a temas locais, pouco familiares a concorrentes de outras terras. É como se perguntassem o apelido do bêbado da praça ou o nome completo da primeira dama.
O ENEM democratiza e populariza a concorrência, tornando nacional o certame e aumentando as chances de todos os candidatos.
Um fantasma, contudo, continua rondando, apavorador, nossos vestibulandos. Os exames continuam exigindo conhecimentos pouco relevantes à carreira escolhida.
Optantes da área das ciências humanas, como História e Letras, são submetidos a complicadas provas de física, química e matemática, e candidatos à engenharia e física submetem-se a questões que envolvem poetas gregos e filósofos da idade média.
A educação e cultura devem abranger todos os temas, até a conclusão do segundo grau, mas os vestibulares podem e devem privilegiar assuntos da área escolhida, humanas ou exatas.
A adoção de cotas, racistas ou sociais, nos exames vestibulares, gera mais inconformismos que inclusões. As cotas pressupõem muitas inverdades, não raro injustas.
O governo federal é, hoje, grande mantenedor de faculdades privadas, subsidiando mensalidades ou adiantando recursos, quitados após a conclusão dos cursos. Tal política vem gerando grande inclusão social.
Contudo, o governo deve, e pode, exercer maior fiscalização, sindicando continuamente a efetividade do ensino que custeia. Sem uma fiscalização rigorosa, produzimos mais diplomas que profissionais habilitados.
O vestibulando precisa, como poucos, de apoio familiar. O país possui mais filhos que aprovados, e ninguém pode exigir nada além de dedicação e estudo.
Na verdade, o vestibular é iniciado na pré-escola, e segue pouco percebido, até a conclusão do segundo grau. Infelizmente, pais e escolas ainda comemoram a aprovação ano a ano, e parece pouco importar o conhecimento efetivamente acumulado.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.