Na Revolução Liberal de 1842, um (bom) governador itinerante…
Estive hoje em Resende, a convite do meu caríssimo Prof. Júlio Fidelis para falar sobre o que mais gosto, História do Brasil, em uma reunião da Academia Resendense de História. Momento muito especial em companhia de uma atenta plateia.
Estudarmos história sempre é um desafio, com muitas surpresas ! Ou você não sabia, por exemplo, que parte de uma extensa região que hoje constitui, o Vale do Paraíba um dia pertenceu à província do Rio de Janeiro ? Pois é…
Abordamos nesta reunião, a história de um grande personagem – Honório Hermeto Carneiro Leão (futuro Marquês de Paraná), que muito relacionado à história de Resende (RJ), no período da Revolução Liberal de 1842.
Por este tempo, o mineiro de Jacuí (MG) era o presidente da Província do Rio de Janeiro. Um misto de grande político e excelente administrador. Então, quando o meio de locomoção era a velha e boa montaria, deslocou-se como um obstinado, com seu cavalo, por toda a região que fazia divisa com as províncias de Minas Gerais e São Paulo.
Sabemos que o decreto 180, de 16/6/1842, em meio a esta rebelião, desmembrou e passou à jurisdição do estado vizinho os municípios de Bananal, Areias, Silveiras, Queluz, Lorena, Guaratinguetá e Cunha ! Não demorou muito é certo, pois logo outro decreto (o de número 216, de 29/8/1842) devolveria a “São Paulo o que era de São Paulo”…
A revolta terá um curto tempo. Começando em 17/5/1842 em Sorocaba, liderada por Rafael Tobias de Aguiar, será sufocada na região de Campinas, na batalha de Venda Grande em 7/6/1842. Minas Gerais havia se comprometido a participar, mas só entrará na luta em 10/6/1842, tempo suficiente para, o então, barão de Caxias se deslocar à região de Santa Luzia (hoje grande Belo Horizonte) e ai, sufocar a revolta em 20/8/1842.
Com o gesto conseguiu isolar a revolta, e a mesma não atingiu a sede do Império. Partiu em 16/6/1842 para Resende, e em cinco dias estava em Paraíba do Sul. Em 4/7/1842 em Valença, e em 7/7/1842 em Rio Preto. Em 10/7, já colocava os pés em Mar de Espanha. Aqui, atravessou o Rio Paraibuna, pernoitando em Matias Barbosa. Mas, não esquentou banco, e em 20/7/1842 chegou em Resende. Foram quase 50 dias na estrada deixando pelo caminho além da presença política um lastro de feitos.
Organizou batalhões (o Magé brilhará em Santa Luzia), e envolveu-se na construção de estradas, com um detalhe, atento aos custos ! Estranhou, por exemplo, os valores gastos na estrada da Estrela com os da estrada de Mangaratiba e recomendou ao construtor (Köeler) “que observasse a economia”. Como este não tenha observado acabou por fim o demitindo.
Se meteu com todos os aspectos da administração. A instrução pública foi uma constante. Em Resende, 250 mil réis foram disponibilizados para que o professor Joaquim José Jorge “abrisse e desse exercício a sua escola”. Ainda em Resende, expediu ordem “para arrematação do edifício e terreno da cadeia velha”. A guerra não o fez parar.
No rastro do sucesso chegará a lista tríplice do Senado, sendo o escolhido pelo “lápis” do Imperador para a “Câmara Vitalícia”, e daí, para o mais alto posto do Império será um pulo, sendo chamado a organizar o novo Gabinete, mas não demoraria muito. Um pouco, pelas inseguranças de D. Pedro II, e muito pelo gênio, ganhará um apelido que ora o acompanhará pelo resto da vida “El Rei”; caindo do cargo um ano depois.
Porém, esta é outra história para um outro dia…
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.