Pessoas, amores e desamores vêm e vão de nossas vidas, mas a sua eterna companhia é você mesmo carregando suas lembranças e as consequências de suas escolhas
Tantos sentimentos e conflitos precedem ao inexorável instante do ultimato aceno do adeus.
As almas enrugadas pelos seus corações dilacerados na exaustão provocada pela dor colecionada e, por fim, potencializada pelo final abandono.
O nefasto fim de uma história de amor, pode ser comparado a um acontecimento catastrófico de dimensão de tal magnitude, a nos varrer da própria existência da alma.
Assim, impiedosamente atingidos, naquilo que nos é de preciosidade vital, passamos a vagar por solo inóspito, desabrigados de nossas almas, apenas como personagens errantes de nossa própria biografia.
O romper de uma história a dois, nem sempre significa o fim do amor, do qual o adeus insiste se despedir também agora.
E, por sobreviver esse sentimento, o amor, mesmo que soterrado aos escombros do próprio relacionamento, é muito difícil dissociá-lo dos sabores do ressentimento e do ódio pelo adeus.
O adeus contraria a própria vontade do amor em ficar.
Misto de alívio e repentino arrependimento na decisão terminal, o adeus, ardilosamente, confunde a racionalidade e a emoção humana, na medida em que a vontade é de ficar mas a decisão, ainda assim, é de partir.
E o adeus, aliado do orgulho e da limitação humana, é o vencedor entre os unânimes derrotados do amor.
Mas das ruínas desse acontecimento ainda podemos emergir em direção à pacificação existencial, se formos capazes de escolher pela suavidade e retidão do caminho.
O amor nos fará crescer em versões mais completas de nós mesmos desde que tenhamos responsabilidade emocional também com o outro e o compromisso incondicional com a dignidade.
Pior dor não é a da partida mas a das costas da indiferença e do desprezo.
É o sair da vida do outro como se nunca nela tivesse antes entrado, batendo a porta no vazio da ingratidão e do esquecimento.
Ao se despedir, somente a você caberá decidir a herança emocional que deseja transmitir e quais as marcas que tatuará na alma e na vida de quem está deixando.
Na partida pode ser grande, do tamanho da dignidade, ou encolhido na insignificância da decepção causada.
A escolha é sua em qual imagem deseja eternizar-se na lembrança da vida de seu despedido amor.
Pode ser a do doce rosto amigo de alguém que, até o último segundo depois do adeus, se importou com o outro, com os sentimentos que cativou no coração alheio, no mesmo coração em que fez a morada de seus sonhos um dia.
Ou da face assustadoramente cruel de um inimigo oculto até então despercebido eis que camuflado pela máscara que se apresentava diante do amor, dispensando ao então parceiro de outrora o tratamento de um algoz, ao ferir-lhe com a humilhação das armas cruéis do desprezo e da frieza ao completo abandono.
Insensível, a descartar ao lixo da humilhação o sentimento alheio, apregoa agora o ódio e a indiferença de sua imagem ao olhar do outro, antes tão bem cuidada, sobre si mesmo.
Ao término do relacionamento, será medido por suas atitudes, seus princípios e sua ética, podendo crescer ao topo de um gigante ou reduzir-se a um diminuto tamanho.
Encolhido, poderá assim ser invisível a todos, mas não escapará de ser observado pelos olhos da imagem tortuosa a refletir do espelho.
As pessoas são seres sentimentais, que carregam planos e sofrem traumas, não coisas para serem adicionadas e descartadas ao depois sem qualquer cuidado e compromisso.
A maturidade reside na preservação da integridade e do respeito à própria história, preservando o outro da destruição.
A escolha pode ser ainda pela vala do abismo emocional, ao tentar enxotar das lembranças a sua história de amor, repudiá-la em sua mente e em seu coração, ou alimentar seu ódio por ela.
É como se o ressentimento pudesse ocupar o lugar vazio do amor que partiu.
Iludido, acredita que pode assim esquecer os sentimentos de amor e de apego que ressuscitam a dor.
O desprezo e o ódio pelo que viveu lhe trarão uma aparente sensação de saciedade ao vazio de sua dor, e assim em desespero os tomará para si.
Então, o vazio lhe engolirá mais e mais pelas profundezas dos escombros, até que a luz desaparecerá por completo pelo cerrar das janelas e portas de sua alma.
Assim, se perderá da esperança, ficará cego perante as infinitas possibilidades de renovação da vida, e nessa aridez existencial se aprisionará no calabouço do conformismo da derrota.
Entretanto, poderá aprender e, ao mesmo tempo lutar com essa experiência existencial ao render-se à melhor das escolhas para a superação, sendo generoso consigo mesmo ao recusar o abismo emocional.
Compreensível não nos darmos mais em empatia por quem escolheu o caminho de nos soterrar impiedosamente a alma ao tripudiar sobre nossos sentimentos mais caros.
Por aquele a quem foram dadas várias oportunidades para repensar suas atitudes e corrigir a rota, mas decidiu por agravar ainda mais as feridas alheias.
Porém, não é preciso violentar-se extirpando aquele que amou do seu coração, mas é necessário exercitar-se a conviver emocionalmente com a perda ou a renúncia ou a decepção, pelo tempo e no formato que forem necessários para a sua superação.
Raízes dos traumas nascem das sementes vingativas do erro do rompimento forçado, imediato e a qualquer preço, com a dolorosa morte do outro dentro do coração, como meio de sobrevivência da alma cuja memória, entretanto, embora adormecida, é eterna.
Os sentimentos têm que ser trabalhados, compreendidos e aceitos e não abandonados em luto perpétuo pelas frestas do caminho.
Lembrar que as despedidas são portas para outras chegadas e para novos caminhos, no círculo dinâmico que é a vida.
E que o sopro do vento sempre muda de direção embaralhando as folhas na surpresa do inusitado.
Depois do adeus, que você, em trauma, não tenha medo de não esquecer, mas que consiga, mais do que suportar a lembrança, ser capaz de conviver pacificamente com ela e lapidá-la, gentilmente, até que, por fim, se encaixe confortavelmente dentro de você.
Pessoas, amores e desamores vêm e vão de nossas vidas, mas a sua eterna companhia é você mesmo carregando suas lembranças e as consequências de suas escolhas.
Escolha o certo, escolha ser feliz na paz do seu sorriso no acalentar do seu coração.
Inspiração , 13 de fevereiro de 2.018.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.