“Aquele garoto bonito, de lindos olhos verdes, estava aliando a sua beleza física à capacidade de compor músicas belas, bem elaboradas e com letras primorosas. E, cada vez mais, assumindo um lugar de destaque no universo da MPB. Seu nome: Chico Buarque de Holanda.”
Aquele garoto bonito, de lindos olhos verdes, estava aliando a sua beleza física à capacidade de compor músicas belas, bem elaboradas e com letras primorosas. E, cada vez mais, assumindo um lugar de destaque no universo da MPB. Seu nome: Chico Buarque de Holanda.
Esse garoto oriundo de tradicional família nasceu no Rio de Janeiro, mas aos dois anos de idade, com os seus familiares mudou-se para São Paulo, onde iniciou sua formação. Nos seus nove anos, transferiu-se, com a família para a Itália, onde seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, foi lecionar, na Universidade de Roma.
Na Itália, Chico estudou em uma escola americana e, em pouco tempo, falava três idiomas, o português em casa, o italiano na rua e o inglês na escola. De volta a São Paulo, cursou o Colégio Santa Cruz e, ali, escrevia contos e crônicas, no jornal escolar. Essa experiência o levou a acreditar que um dia seria um escritor (o que realmente acabou por acontecer), isso, se não houvesse surgido em sua vida o LP Chega de Saudade de João Gilberto e o direcionasse para a música. Ele passava horas e horas tentando imitar os acordes de João. Da imitação, para a composição foi um pulo.
Em 1963, Chico ingressa na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) e tendo desistido de outro sonho, o de ser jogador de futebol – chegou a treinar no Clube Atlético Juventus, na Mooca – voltou sua atenção para a música, participando nos barzinhos e shows escolares.
Já havia composto várias músicas, quando, em 1965, participou, sem nenhum sucesso, de um Festival. Mas, em outubro de 1966, inscreveu despretensiosamente, uma marchinha no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record que, para sua surpresa, foi classificada. O nome da marchinha era “A Banda”.
Essa música acabou por polarizar o público do festival, metade torcia por ela e a outra metade aplaudia “Disparada”, de Geraldo Vandré. Quando chegou a apresentação das vencedoras, o público ficou na expectativa de ver a quem caberia o primeiro lugar. À medida que os apresentadores iam anunciando, em ordem decrescente, o 5º, o 4º, o 3º e o 2º lugares, criou-se um suspense na plateia, pois nenhuma das duas mais aplaudidas tinham sido anunciadas, e só restava uma colocação, o 1º lugar.
Até que Blota Jr. viesse e anunciasse ter havido um empate entre as duas, e que a organização do festival resolveu dividir o prêmio entre elas.
Posteriormente, soube-se que Chico, nos bastidores, percebendo – ou já sabendo – que venceria, sugeriu que houvesse empate. Os organizadores estavam indecisos, e só aceitaram essa proposta, em face de que Chico se recusaria publicamente a receber o prêmio sozinho.
No entanto, Chico jamais fez qualquer alusão a esse fato. O resultado da votação – sete a cinco em favor de A Banda – foi mantido em sigilo por quase quatro décadas. Os votos ficaram em um cofre na casa de Zuza Homem de Melo, que só o revelou em seu livro: A Era dos Festivais – Uma Parábola.
Com isso, A Banda tornou-se um tremendo sucesso, o que aumentou ainda mais a popularidade de Chico, passando a ser considerado uma unanimidade nacional, em comparação a Noel Rosa.
Para se ter uma ideia dessa empolgação com ele, basta lembrar que, em 1967, a apresentadora Hebe Camargo, então na TV Record, fez uma apresentação com Chico, em que subiram ao palco, nada mais nada menos que a “Santíssima Trindade do Samba”, que havia começado tudo isso, no inicio do século passado: Donga, Pixinguinha e João da Baiana, somente para efusivamente saudarem Chico Buarque de Holanda, como o novo rei da MPB.
Mas, como bem dizia Nélson Rodrigues: – Toda unanimidade é burra! E para desmentir essa unanimidade, aquele menino bonito, e de bom caráter, começou a deixar o “bom-mocismo” de lado e passou a pôr as garras para fora, isso, no ponto de vista das autoridades, ou melhor, da Ditadura Militar.
De repente, Chico passou de herói a vilão, sendo o artista mais perseguido pela Censura, eram os “anos de chumbo”. Bastava submeter qualquer obra com o nome de Chico Buarque para que ela fosse revirada por todos os lados e invariavelmente proibida.
A situação chegou a tal ponto que Chico, para cumprir o compromisso com a gravadora de produzir um disco, não tinha composições suas devidamente liberadas, para completar o LP. Ele, então, optou por gravar só com composições alheias, com o nome de Sinal Fechado.
Foi quando ele conheceu um compositor, na favela da Rocinha. Esse compositor tinha algumas características nas suas músicas que eram semelhantes às suas próprias. Era o Julinho da Adelaide, Chico, então, gravou no disco uma composição dele, Julinho, com Leonel Paiva, é a faixa “Acorda Amor”. Posteriormente, gravaria outras duas composições de Julinho: “Jorge Maravilha” e “Milagre Brasileiro”.
Em setembro de 1974, Julinho da Adelaide concedeu uma longa entrevista ao então jornalista, Mário Prata, publicada no jornal Última Hora de São Paulo, na qual, entre tantas coisas, rasgou-se em elogios à Censura e demonstrou certo ciúme de Chico Buarque.
Mais tarde, porém, descobriu-se que tanto Julinho da Adelaide quanto Leonel Paiva, eram pseudônimos que Chico utilizou para burlar a Censura. Aí foi que a Censura recrudesceu, e Chico acabou por exilar-se na Itália. A partir de então as autoridades passaram a exigir a apresentação do CPF e do RG do compositor.
(Gonçalves Viana)
A BANDA
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar a passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024