Pedro Israel Novaes de Almeida – IDIOTICE HUMANA
Os fogos de artifício e outros aparatos sonoros fazem parte do rol de idiotices humanas, que resistem às tentativas de engrandecimento do respeito humano, como ingrediente indispensável ao convívio social.
Pessoas de fraterna religiosidade e pacífica índole, muitas, acham natural a soltura de rojões, em homenagem a santos e eventos relacionados à fé. Para tão cândida categoria, a massa de estampidos afirma crenças e espalha a fidelidade e cultos e valores.
Traficantes também fazem uso dos mesmos fogos, para alardearem, com poucos riscos e alta eficiência publicitária, a chegada da mercadoria, para delírio do público comprador. Em guetos os mais diversos, os estampidos alertam para a iminente chegada da polícia.
Torcedores fazem dos estampidos o meio predileto de comemorar vitórias, alardeando orgulho e agradecimento, a cada gol. Políticos, comemorando vitórias e animando carreatas, fazem dos rojões demonstração de adesão e popularidade.
Festas juninas são tão animadas e atrativas quanto mais estampidos envolverem. Até mesmo a aprovação em concurso vestibular costuma ser anunciada pelo foguetório de sempre.
Pessoas comuns utilizam rojões para afastar pombas e outros frequentadores indesejados do ambiente. Até mortes ou prisão de adversários políticos costumam ser comemorados de maneira ruidosa.
De religiosos a bandidos, poucos, pouquíssimos, atentam ao absurdo das manifestações que operam, fingindo desconhecer os malefícios que tal procedimento gera. Há, por aí, um profundo, irresponsável e criminoso cinismo, por parte dos usuários de fogos de artifício barulhentos.
Conseguem, as hordas ruidosas, emprestar ares de tradição e manifestação cultural, a atos que causam desespero, desorientações e até mortes em cães, gatos, aves e seres humanos, participantes involuntários da idiotice e vítimas do barulho. Os malefícios surgem, com maior intensidade, em idosos e crianças, notadamente autistas.
Crianças cujos pais dedicam-se aos horrores dos fogos apresentam, não raro, perdas auditivas. Proprietários de animais ficam reclusos, em dias de comemoração, para socorrerem e acalmarem cães e gatos, durante o festival de estampidos.
As legislações começam a surgir, ainda tímidas, aqui e acolá, e não são raras as edilidades acovardadas, que alegam tradições e hábitos, para manter ativas as crueldades que fingem ignorar. A depender do espírito público de muitos legisladores municipais, estamos todos fadados à surdez ou perpétua indignação.
Poucos estendem que o malefício dos fogos também gera transtornos ambientais, com muitas aves abandonando ninhos, e com poluição do ar que respiramos.
Os fogos de artifício barulhentos constituem artefatos absolutamente inúteis, perfeitamente dispensáveis à vida humana. No entanto, em pleno século 21, ainda encontramos ardorosos e suspeitos defensores e usuários, despidos de qualquer respeito a seres humanos, animais e aves. A maldade e desfaçatez humana continuam sem limites.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.