A peça ‘Os que chegam com a noite’ será apresentada nos dias 08 (sábado), às 20h30 e 09 (domingo), às 20h00
A peça é um trabalho de pesquisa que envolveu a Cia Clássica por mais de um ano e também revolucionou o estilo da companhia, além de ter recebido criticas extremamente positivas pela coragem e ousadia demonstradas tanto na escolha do tema, como na construção das cenas e trabalho dos atores.
Fruto de uma pesquisa de campo junto a travestis, dependentes químicos, garotos de programa, as histórias foram sendo criadas pelos atores e, posteriormente, elaboradas por Mario Pérsico, responsável também pela dramaturgia da peça.
O espetáculo é já no título uma referência ao cinema, ou mais diretamente ao filme inglês de 1972 – The Nightcomers, estrelado por Marlon Brando. Como o próprio título sugere, a apresentação vai costurando cenas que procuram mostrar com sensibilidade o cotidiano de personagens marginais, seres noturnos, mas nem sempre soturnos, em seus momentos mais variados. Para tanto, vimos documentários, trouxemos alguns Garotos de Programa que concordaram em falar sobre o dia a dia das ruas e, também, como se dá a relação cliente/garoto em ambiente fechado como as saunas.
Foi uma pesquisa bastante interessante e rica essa aproximação de um mundo que está aí, mas nem sempre lançamos sobre ele um olhar humano ou de mera compreensão.
Findo esse processo de estudos resolvi, com o elenco da CIA CLÁSSICA DE REPERTÓRIO, iniciarmos o trabalho de criação e elaboração de novas histórias/cenas.
O tema em si da prostituição (masculina ou não) nos interessa como metáfora de um sistema econômico onde tudo vira moeda, até mesmo o que teoricamente seria invendável, como o “amor”, o “prazer”, ou o “próprio corpo”. “Money makes the world goes around”, máxima proferida por um dos personagens desse mercado humano.
Desse processo de pesquisa saiu o espetáculo que dialoga com várias licenças poéticas. A começar pelos nomes dos garotos, todos com nomes de anjos (caídos ou não). O espaço onde o espetáculo acontece fica no alto, (Céu ou Inferno? Não importa, mas o caminho até ele é árduo e longo) e tudo se passa na semana entre o Natal e o Reveillon. Uma semana onde, teoricamente, nossos sentimentos mais nobres e solidários estão mais à flor da pele.
Uma preciosidade da montagem é Jeanne Moreau cantando “Each man kills the thing he loves”, canção com base em poema de Oscar Wilde, que ajuda a redimensionar a ideologia de nossos nigthcomers. Outra referência que pontilha tudo são os filmes de “Wester spaguetti”, aqueles que fizeram a glória de Sergio Leone, Ennio Morricone e tantos outros.
Surpreendentemente, essa visão européia do Velho Oeste revelou-se bem mais crua e verdadeira que a dos filmes americanos, as tramas se desenvolviam de maneira mais direta, com um clima sombrio e tendo a vingança como temática principal. O “mocinho” era quase sempre sujo, mal vestido, com motivações misteriosas e poucos escrúpulos, enfrentando vilões protegidos por um exército de bandoleiros, em cidades imundas e hostis. Ao contrário dos filmes americanos, onde os heróis, limpos e barbeados, eram sempre exemplos de virtude.
O grande precursor da música Western italiana foi Ennio Morricone, que traçou um estilo próprio para compor a música de um “Spaghetti”, com a utilização de assovios melódicos, corais estranhos, flauta e guitarra. Nossos personagens noturnos também se assemelham aos heróis hostis que contavam a saga da colonização americana. Deles se pode esperar tudo. Mas o trabalho acredito eu, trás um olhar humano, até carinhoso que se pode ver na construção e defesa desses personagens pelo elenco da Cia Clássica, que apesar de jovens se apropriam com muita segurança e maturidade na execução de suas cenas. Todos ali já trabalharam ou foram meus alunos, então já conhecem meu modo de trabalho e o que eu espero de cada um. Os personagens são desenhados sem moralismos. Eles não são bons ou maus, eles são o que são. E estão na próxima esquina. Na praça central, na mesa ao lado do boteco. Frutos de um sistema selvagem onde sobreviver é a regra. Podemos olhar pra eles… Ou não. Licenças a parte, nossa única meta foi não idealizar, mas também não atenuar nada.
Mario Persico
FICHA TÉCNICA
ELENCO:
Dani Dias
Danilo Panayotou
Bruno Casagrande
Amilton Sanches
Irene de Meira
Ivone Martins
João Vieira
Lucas Bertoni
Marcos Sanson
Mario Pérsico
Rai Queiroz
Tiske Reis
André Lui Stabille
Douglas Pagangrizo
Anthony Haschigushi
Sergio Bacetti
DRAMATURGIA, SONOPLASTIA E DIREÇÃO
Mario Pérsico
PRODUÇÃO
Teatro Escola Mario Persico
REALIZAÇÃO
Cia Clássica de Repertório
SERVIÇO:
Local: TEATRO ESCOLA MARIO PERSICO
Datas: Dias 08 E 09 – Sábado e Domingo
Horários: Sábado as 20h30
Domingo as 20h00
Censura: 16 anos
Ingressos: R$ 30,00 E R$ 15,00
Pagam meio entrada: Estudantes, Terceira idade, Professores, Classe artística, Ingressos Antecipados ou Reservados.
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024