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Pedro Novaes: 'Boa idade'

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Pedro Israel Novaes de Almeida

     BOA IDADE

 

        Por camaradagem e incentivo, ficou estabelecido que a velhice seria conhecida como a melhor idade.

Na realidade, não dá para reconhecer que a velhice começa aos 60 anos. A tecnologia e os hábitos humanos já permitem o atingimento de idades superiores a 90 anos, e houve um tempo em que os sessentões eram debilitados e pagadores de carnês de funeral e jazigo.

Embora a conveniência e a própria legislação condenem diferenciações de procedência racial, forçoso notar que negros e japoneses insistem em retardar, naturalmente, o envelhecimento. Diziam os antigos que “japonês e preto, quando pinta, tem cento e trinta”.

Por absoluta necessidade orçamentária e fiscal, além da crescente participação de idosos na população, a maioria dos países tem realizado modificações nos sistemas de aposentadorias e pensões. Aquela cantilena de que filhas solteiras, mesmo que já avós e bisavós, são eternamente pensionistas, tende a ser extirpada da face da terra.

Hoje, idosos que não são funcionários públicos aguardam a aposentadoria para verificação da necessidade de continuar ou não trabalhando.  A aposentadoria do idoso segue sendo o responsável pelas finanças familiares.

O cidadão, ao ficar idoso, recebe novas e incômodas responsabilidades. Começa por assumir a direção dos veículos, quando das multas conseguidas pelos filhos, e toma, como se próprio fosse, empréstimos consignados, destinados a parentes e amigos.

A maioria dos idosos aposentados acaba como motorista da família, ou aguardando a entrega de mercadorias adquiridas pela internet. Um dos raros prazeres do idoso é rever, bem acabadinha, aquela donzela que o rejeitou, quando bonita e atraente.

Idosos pouco encontram amigos, nas reuniões ou eventos sociais. Tendem a ser caseiros, planejando com antecedência uma simples ida à padaria. Os encontros, numerosos, ocorrem nas farmácias e laboratórios clínicos.

Desde logo, o idoso percebe as limitações físicas que sofre, partindo naturalmente para reduzir a própria velocidade e esforço. Tende a entender melhor a fraqueza e defeitos humanos, amadurecendo os relacionamentos e evitando contatos que estressam e deprimem.

Idosos espertos tentam evitar a ferrugem cerebral, buscando atividades e pensares que exercitem a mente. Falta-lhes, na maioria dos casos, interlocutores verbais, e o próprio seio familiar tende a considera-lo inútil, um eterno contador de nenhuma novidade.

Uma das maravilhas da terceira idade é a absoluta desconsideração da opinião alheia, no tocante a roupas, hábitos e status social. A idade parece livrar o cidadão das superficiais conveniências de cunho meramente social.

 

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.

Helio Rubens
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