Célio Pezza: # Crônica 396: ‘Lilith, a primeira mulher’
“Um dos mitos mais conhecidos da humanidade é o da criação dos primeiros humanos e os episódios do Jardim do Éden.”
Um dos mitos mais conhecidos da humanidade é o da criação dos primeiros humanos e os episódios do Jardim do Éden. Por muitos anos, temos escutado que Adão e Eva foram nossos primeiros pais, viviam no Jardim do Éden, comeram uma maçã da árvore proibida por Deus e, através desse ato de desobediência, o mundo inteiro mergulhou em pecado.
Bem, vejamos outra versão dessa história: No primeiro capítulo do Gênesis está escrito “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem; homem e mulher os criou”. Já no segundo capítulo, versículo 18, está escrito: “E disse o senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só: farei uma auxiliadora, que lhe seja idônea”.
Segundo o Zohar, livro sobre a cabala e conhecimento místico judaico, o Talmud, um dos livros da sabedoria hebraica e alguns evangelhos apócrifos, a primeira mulher, Lilith, é criada por Deus ao mesmo tempo que Adão e, juntos, viviam no Jardim do ‘Éden.
Antigos textos babilônicos relatam que, com o tempo, Lilith se rebela por não se conformar em estar em uma condição inferior à Adão, já que ambos foram criados juntos. Ela não aceita ficar sempre por baixo do homem, até nas relações sexuais. Adão disse que ficaria sempre por cima, porque era superior. Lilith argumentou sobre a igualdade, considerando que ambos foram criados do pó da terra, mas não foi ouvida.
Em busca da igualdade, ela se revolta e contesta o Criador, tendo que escolher entre permanecer no Éden e ser submissa a Adão, ou deixar o jardim. Ela decide ir embora e parte para o Mar Vermelho, onde viviam os demônios. Deus manda três anjos para convencê-la a voltar mas ela prefere viver fora do Éden a ser submissa. Adão então pede a Deus uma outra mulher, para que não vivesse sem uma companheira, já que a primeira tinha ido embora. Deus mergulha Adão em um sono profundo e cria Eva, a partir de uma costela de Adão.
Em Gênesis 2:23, Adão diz: “Esta é agora osso de meus ossos e carne de minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi formada”. Vemos claramente que houve uma primeira mulher, feita do mesmo barro de Adão, que foi Lilith e não Eva. Mais tarde, Lilith volta ao jardim, assume a forma de uma serpente, seduz Eva a comer do fruto proibido e esta convence Adão a também comer deste fruto. Deus questiona Adão, que diz ter sido induzido por Eva; esta diz ter sido enganada pela serpente e todos são expulsos do jardim.
Eva é estereotipada como aquela que dá ouvidos ao demônio. Essa crença perseguiu as mulheres por muitos séculos. Durante a Inquisição, só o fato de ser mulher já dava motivos para uma acusação de pactos demoníacos, bruxarias e feitiçarias, com consequente morte nas fogueiras santas.
Lilith, por sua vez, desde o início, se recusou ser inferior e representa a mulher independente, insubmissa, intelectual, guerreira, sensual, orgulhosa, que preferiu deixar o paraíso a viver na submissão. Pagou por isso, sendo transformada em um demônio pelos textos machistas da época.
Lilith, na verdade, pode ser considerada um exemplo de coragem do espírito feminino, ao desafiar Adão e o Criador. Lilith, por ter sido a primeira mulher da Terra, teria o direito de ter sido a mãe de toda a humanidade. Talvez, dessa forma, a História das primeiras mulheres fosse menos hipócrita e cheia de pecados, complexos e submissão.
Célio Pezza – Fevereiro, 2019 – celiopezza@yahoo.com.br
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024