A sessão era pirata… Tinha que acontecer na calada da noite. O golpe estava em marcha. Furiosa, a bancada da bala comandava as ações no plenário. A votação anterior, realizada havia apenas dois dias, fora contrária à proposta de redução da maioridade penal. O resultado não agradou ao ditador… Ops, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Sempre que o resultado contraria a vontade ou os interesses de sua majestade… Ops, de sua excelência, ele estende o tapetão e resolve à sua maneira. Não deu outra. Soberano, armou o circo e, ao arrepio da Constituição, do bom senso e da lógica do processo democrático, deu início à pantomina… Ops, à sessão.
Passava da meia noite quando o orador, na tribuna, vociferou: “Os direitos humanos são para os humanos direitos.
“Deus seja louvado e nos livre da barbárie. Será que a alma penada, do sinistro “Inquisidor General”, Tomás Torquemada, ronda a Câmara, nas madrugadas de arbítrio e obscurantismo? Será que o deputado pretende retroceder às fogueiras da Idade Média? Na sua interpretação maniqueísta dos Direitos Humanos, o orador, foi além. Considera-se “humano direito”.
Mas, será que é?
Vejamos o que nos revela sua folha corrida… Ops, sua biografia:
Anos atrás foi conduzido, algemado, ao cárcere da Polícia Federal. Ele mesmo, o falastrão, que, sem abandonar a costumeira arrogância, teve a cara de pau de reclamar da comida dos presos:
“Nem meus cachorros comem essa quentinha.”
Não creiam que é só: “Em ações na Justiça a Promotoria aponta que US$ 344 milhões foram desviados das obras (…) durante a gestão de Paulo Maluf (1963-1966) na prefeitura paulistana e nos dois anos seguintes.” (Folha de São Paulo; 14/02/15; P. A7.) Na mesma reportagem, o jornal destaca: As instituições financeiras, Citibank (USA) e UBS (Suiça), fecharam acordo com o Ministério Público e a Prefeitura para pagamento de indenizações no valor de “… 71 milhões de reais, por terem sido usadas para movimentar quantias que, segundo a Promotoria, foram desviadas pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP)”. (Folha de S.P; 14/02 ; p A7).”
Ademais, condenado pela Justiça dos Estados Unidos, está na lista dos procurados pela Interpol. No exterior ele não tem imunidades. Se puser os pés fora do Brasil, vai em cana.
Quantas crianças foram empurradas para o crime porque os “humanos direitos”, ou seja, os cidadãos que se dizem honrados, lhes negam justiça e oportunidades? Quantos adolescentes teriam sido salvos, se os bilhões desviados por corruptores, corruptos e doleiros tivessem sido aplicados na educação, na saúde, na geração de emprego? Por que tamanha hipocrisia se, sabemos todos, que nossa sociedade fracassou na abordagem dessa questão fundamental, arruinando o presente e comprometendo o futuro? Até quando vamos perseverar na cultura da ganância, do medo e do ódio?
Afinal, o que prometemos às futuras gerações, senão a iniquidade, a violência e a escola do crime e do horror das prisões brasileiras…
É possível virar esse jogo? Podem a esperança e a fraternidade substituírem a descrença e a vingança?
Os ensinamentos do Papa Francisco chegam em boa hora:
“Queremos uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta. Trabalhadores, comunidades e os povos, tampouco o aguentam.”
P.S. Leia mais no post “Procurados” de J. C. S. Hungria; 22/03/15)