setembro 07, 2024
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Geraldo Bonadio: 'O tropeiro nos versos de Benedicto Cleto'

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Geraldo Bonadio
Eleito em 2018 ‘Personalidade Cultural do Ano em Sorocaba’

Um poema de Benedicto Cleto apresentado na ASL durante a Semana do Tropeiro

O tropeiro nos versos de Benedicto Cleto

Em 9 de maio de 1988, em reunião da Academia Sorocabana de Letras comemorativa da Semana do Tropeiro, o escritor Benedicto Cleto encantou os presentes com a leitura do poema, escrito especialmente para aquela ocasião, que celebrava o Tropeiro Sorocabano.
Unindo com perfeição a linguagem poética e conhecimento histórico e sociológico, publicada unicamente num caderno de circulação interna da Academia, é obra que merece ser lembrada e perenizada e que, em homenagem à sabedoria e ao talento do autor, sócio fundador da Academia e instituidor da Cadeira Guimarães Rosa, transcrevo a seguir.

Tropeiro sorocabano
BeneCleto

Senhores, peço licença
Por que eu lhes possa falar,
Não me tomeis por ofensa
Este meu fraco trovar.
Pois tenho a honra sem par
De estar na vossa presença.,
Minha alegria será imensa,
Se eu vos puder agradar.
Porque tenho benquerença
Convosco, meu povo ordeiro,
Conforme a vossa sentença,
Prossigo no meu roteiro.
E o faço já, sem detença,
Pronto, rápido, ligeiro.
Eu junto a minha homenagem
À vossa, povo altaneiro:
Trago aqui a minha mensagem
Ao valente pioneiro
– Por que hoje seja louvado,
Hoje e sempre celebrado
Esse nosso herói tropeiro.
Louvada, senhores meus,
Seja a máscula figura:
Que se eleve a grande altura,
Louvada seja abaixo de Deus.
Louve-se em todas as idades;
Louvemos de coração
Esse abridor de sertão
E plantador de cidades.
Salve, tropeiro valente,
Orgulho de nossa gente.
Orgulho desta Nação.
Esperamos que te agrades
Com este nosso presente;
Crê que por nossas vontades
Viverás eternamente,
Com as eternas verdades.
Bendita a tua semente
Por todas posteridades
Deste Brasil continente.
Tu não morreste tropeiro,
Vives em nossa memória,
Vives nos fastos da História
Deste povo hospitaleiro
Que aprendeu tua lição
De luta e abnegação.
Vê em cada cavaleiro
Dessa imensa multidão
Um bravo herói, um guerreiro,
Que é teu legítimo herdeiro
Dessa imortal tradição.
Isso é ser sorocabano,
Ser paulista ou paulistano,
Ou Melhor – ser brasileiro.
Não és apenas lembrança,
És a perene certeza
– Foste e és nossa esperança,
Luz em nosso peito acesa;
Embora seja verdade
A nossa imensa saudade,
Certo é que nossa cidade
Te deve muito em grandeza,
Pelo espírito de luta,
Pela força às vezes bruta
Contra a própria natureza:
Varaste por picadões
Os inóspitos sertões,
Vales, rios, chapadões,
Sem nunca mostrar fraqueza.
Às vezes com tropa arreada,
O sol e a chuva enfrentando,
O dia inteiro marchando
Em busca de uma pousada.
Na frente a mula madrinha
De enfeites na cabeçada,
Retinindo a guizalhada,
Como orgulhosa ela vinha
Por saber-se admirada!
Logo atrás vinha o menino
Na garupa do cargueiro.
Começava assim o destino
Desse futuro tropeiro
Guardião da matalotagem
Do mantimento e a equipagem
Da alçada do cozinheiro,
Por que chegados no pouso,
Antes da bóia, primeiro
Aprontasse um “ amargoso”
Que recendesse de cheiro,
Forte e doce, bem gostoso.
Às vezes solta a mulada,
Não mais em lotes apenas,
Porém de muitas centenas
A grande tropa formada.
Madrinha agora uma égua,
Ponteira, quase uma lgua,
Pelo menino montada.
Subiam balcões de poeira,
Tal que os peões de rabeira
– O patrão e o capataz
Que também vinham atrás,
Enxergavam quase nada.
Porém no pouso a viola
Sempre os corações consola,
Chorosa e bem ponteada.
Outros ferravam no truco,
Mas sempre à mão o trabuco,
Prevenção contra a “pintada”,
Ou contra ladrões, gatunos
Que pelos campos reúnos
Eram praga desgraçada.
Viagem de muitos meses,
Quase um ano até por vezes,
Mas sempre com peito forte;
Por inóspitos lugares,
Lutando contra os azares
Num rumo quase sem norte;
Vendo outra gente, outros ares,
Tão longe dos familiares,
Desgostos de todo porte;
Encarando mil perigos,
Toda espécie de inimigos,
Confiando em Deus e na sorte
– Brejos, rios caudalosos,
Enfrentando criminosos,
Olhando de frente a morte.
Enfim o mundão sem porteira
Já se alonga da fronteira
E a lonjura então se acaba,
Quando a tropa viajeira,
Depois da grande canseira
Vai findando a viagem braba,
Eis a esperança fagueira,
Já se avista a cabeceira
Do Morro do Araçoiaba.
E assim a gente tropeira
Já se aproxima da Feira Famosa de Sorocaba.
Agora os grandes negócios,
Ganha o patrão, ganham sócios,
Camaradas e peões.
Depois é gozar os ócios,
Alguns viram capadócios
Que há sobra de diversões.
Adeus cargueiros, bruacas,
Tempo agora é das guaiacas
Recheadas de patacões;
Mulheres, jogo, bebida,
Importa é gozar a vida
E alegrar os corações.
Era assim, meu rico povo,
Até começar de novo
Em se acabando os dobrões:
Volve-se ao horizonte azul
Para o Rio Grande do Sul,
Para os longínquos rincões.
Novas tropas vai buscar
Para de novo voltar
Enfrentando desafios;
Sempre afeito a suportar
Verões de sol de queimar
Ou os invernos mais frios.
Terríveis invernos frios.
Da semente salutar
Que o tropeiro vai semear
Por esses sertões bravios,
Cidades vieram vingar,
Progressos em todo lugar
– Estradas, pontes nos rios.
Ninguém negará, pois não.
Que o tropeiro nosso irmão,
Essa raça de gigantes,
Foi quem garantiu a união
Dessa imensa imensidão
Das regiões mais distantes,
Engrandeceu a Nação,
Foi a continuação
Dos antigos bandeirantes.
Meu poema aqui se acaba
– Salve, salve Sorocaba
Do ensino e labor fabril
De que meu povo se gaba
No vale do Araçoiaba
Do Monarca varonil;
Salve, salve o pioneiro,
Salve o nosso herói tropeiro,
Salve São Paulo e o Brasil.

Helio Rubens
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