Crônica # 273: Um encontro no céu
Naquele dia, num canto do céu, o Profeta do Islã olhava entristecido para o nosso mundo, sem entender os motivos de tantas loucuras, muitas delas em seu nome e sofria ao ver suas palavras perdidas nos ventos quentes dos desertos de sua terra.
Por que não ouviram seus ensinamentos? Eles eram simples, fáceis de seguir, e os homens poderiam viver em paz.
Repentinamente, percebeu alguém ao seu lado; virou-se e viu seu irmão de fé, com a mesma expressão de dor, usando um manto branco manchado de sangue.
─ Assalamu Aleikum!(¹) – Eles não entenderam a minha mensagem, diz o Profeta.
─ Shalom Aleichém!(²) – Também a mim não entenderam, respondeu o Nazareno!
Veja todo o mal que já causaram em meu nome! Desde as cruzadas até os dias de hoje, quantos já morreram pelo uso errado das minhas palavras. Os homens perderam a capacidade de ouvir e de entender. Nós fomos claros, demos exemplos, e eles não nos ouviram. Infelizmente eles se perderam ao longo do caminho, Profeta.
Naquele instante olharam para baixo e viram a Faixa de Gaza, a Síria, a Ucrânia e muitas outras partes da Terra em chamas e repleta de mortos e mutilados. De um lado, os seguidores do Torá invadem a Palestina enquanto aguardam o Messias. Do outro, os seguidores do Alcorão bombardeiam Israel enquanto alguns clamam por uma Jihad(³). Os dois lados perdem a conta dos seus mortos e feridos e se esquecem de que nunca vai existir uma guerra santa, pois uma guerra não pode ser santa.
Lá embaixo, as luzes assassinas dos mísseis mostram toda loucura humana e são embaladas pelo som de todos os tipos de armas criadas por mentes doentias, como uma sinfonia triunfal da morte contra a espécie humana.
Um rápido balanço mostra que, a cada ano que passa, existem mais conflitos e parece que o mundo inteiro está perdido. O som das cabeças cortadas pelo Estado Islâmico chega aos céus, misturado aos apelos dos que pedem a interferência divina.
─ O que sugere Nazareno? Tentaremos mais uma vez?
─ Você sabe a resposta, Profeta. Você sabe que existem muitos deles que ainda têm esperança, que acreditam em nós e num mundo melhor. Não podemos decepcioná-los.
─ Eu sei Nazareno! Por estes, faremos tudo de novo quantas vezes forem necessárias. Um dia, eles encontrarão uma forma de viver em paz.
─ Assim seja, Profeta!
─ Allah, o Misericordioso! Bendito seja! O nascente e o poente Te pertencem e notamos a Tua presença! ─ Falaram alguns fiéis que olhavam para o céu naquela hora.
─ O Messias está chegando, profetizaram outros! O tempo das mudanças está próximo!
(1) – Assalamu Aleikum! Que a paz esteja contigo! (saudação árabe)
(2) – Shalom Aleichém! A paz esteja convosco! (saudação hebraica)
(3) – Jihad – conceito islâmico que pode ser entendido como uma luta interna para se buscar e conquistar a paz em Deus. Ao contrário do que muitos pensam, não significa “guerra santa”, nome dado pelos europeus às lutas religiosas na Idade Média.
Célio Pezza
Julho, 2015
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.