Pedro Novaes: FOFOCAS
Pedro Israel Novaes de Almeida
A fofoca é tão amaldiçoada quanto praticada.
Poucos reconhecem, mas são raros os ouvidos que não ficam entusiasmados, ao primeiro sinal de uma fofoca inédita. A curiosidade é a mais comum das características humanas.
Há muito foi desacreditado o mito de que a fofoca é uma especialidade feminina. Homens são tão fofoqueiros quanto as mulheres, só que comentam a vida alheia com pose de sérios.
Houve um tempo em que o cenário das fofocas era uma lata ou alguns tijolos, próximos ao muro, que permitiam a conversa entre vizinhas. Os homens preferem fofocar em padarias ou clubes.
Em salões de beleza e barbearias, a fofoca corre solta, e a vítima é sempre o ausente. A fofoca é a mais antiga das mídias, e foi iniciada ainda nas cavernas.
Originalmente, a fofoca, bem intencionada, era só noticiosa, dita novidadeira. Tratava-se de relato informal de algum fato, ocorrido com algum conhecido.
Ocorre que a maldade humana cuidou de apimentar a fofoca com versões injuriosas, desmerecendo personagens. O fofocado é sempre o último a saber do fato que circula de boca em boca, a seu respeito.
Fofoqueiras e fofoqueiros tradicionais costumam pedir, a outros, o segredo que não souberam guardar. De segredo em segredo, a versão acaba atingindo o domínio público.
A fofoca maldosa tem o condão de indispor pessoas, sem motivo declarado. Aos poucos, conhecidos vão se distanciando, sem que a fofoca que motivou o afastamento fosse sequer comentada.
Fofocas podem transformar um próspero empresário em traficante, um político sério em corrupto, uma esposa fiel em amante de todo o quarteirão, e assim em diante. A fofoca é a mais terrível das armas, pois não oferece qualquer chance de defesa.
A fofoca integra o rol de artifícios das campanhas políticas e concorrências comerciais, além de interferirem nas relações familiares, profissionais e até religiosas. Quanto menor o ambiente urbano, maior o malefício da fofoca.
Um divertido empresário, em épocas de eleição, divertia a todos com experiências de fofoca, em Piraju. Ia a um bairro afastado, soltava uma fofoca, e saia correndo para a padaria da praça, onde ficava cronometrando o tempo que a mesma levava para chegar ao estabelecimento. Era rapidíssimo !
Ouvidos precavidos soam como antídotos, e é fácil perceber que não há qualquer boa intenção na cidadã que diz ter ouvido que o vizinho tem um filho com uma amiga da prima da empregada.
A fofoca é um fenômeno social, e todos a praticamos, quando meramente novidadeira. Quando inventada, ou circulada para prejudicar, é pura maldade.
Mais uma vez, a falta de assunto, para o artigo da semana, conduz a inusitado tema. Sem fofoca !
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.