novembro 21, 2024
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Celso Lungaretti: 'Como ficarão o Brasil e a esquerda após o bode ser retirado da sala'

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Celso Lungaretti

Como ficarão o Brasil e a esquerda após o bode ser retirado da sala

Já dá para enxergarmos a luz no fim do túnel: a tentativa de imporem ao Brasil um retrocesso de séculos na marcha para a civilização esfarela a olhos vistos. 

 Não serão os mais predatórios dos capitalistas selvagens,  os mercadores da fé que trocaram a Bíblia pelo Evangelho da Prosperidade, os obscurantistas que ecoam os disparates de um astrólogo picareta,  os frutos tardios do tenentismo e do integralismo ou os milicianos homicidas que determinarão nosso futuro; somos nós, os decentes e civilizados, que o construiremos.
O quadro que se desenha é o seguinte: o Jair Bolsonaro, cuja total falta de condições psíquicas e intelectuais para o exercício do cargo que um destino insólito lhe jogou no colo está sendo escancarada pelas crises sanitária e econômica, vai se tornar cada vez mais errático, tempestuoso, destrutivo e autodestrutivo, até tornar imperativo o seu afastamento imediato.  
Isto tende a acontecer ainda em 2020, ascendendo então ao governo uma composição de forças políticas de centro-esquerda, centro e centro-direita. O pacto dos governadores contra o presidente negacionista já é um embrião desse arco de forças centrista.
E será dessa composição que vai sair o próximo presidente eleito. Por enquanto, quem desponta com mais força são o Rodrigo Maia, o Flávio Dino,  o João Dória e o Ciro Gomes. 

Uma incógnita é se o Sergio Moro vai entrar nesse balaio ou se tornará o líder da direita intransigente.

Outra, se o Lula conseguirá manter o PT aferrado ao populismo de esquerda que caducou na atual década ou o Fernando Haddad o conduzirá para a composição centrista. 

No primeiro caso, vai consumar sua trajetória para a irrelevância. No segundo, terá chance de sobreviver politicamente, mas não como força majoritária da esquerda; tal página da História já foi virada, embora a ficha demore a cair para alguns.

No cenário futuro que delineei, não vejo motivo para apoiar ninguém. Minhas simpatias pessoais, claro, iriam para o Flávio Dino e o Ciro Gomes. Mas, está claro para mim que não são os santos milagreiros capazes de tornar a democracia burguesa algo além do tapume que encobre a dominação do poder econômico.
Nossa prioridade absoluta é a depuração e reconstrução da esquerda, que precisa libertar-se das ilusões democrático-burguesas e, pouco a pouco, ir resgatando sua credibilidade e combatividade.
O norte da esquerda tem de ser uma atuação em escala nacional na defesa dos interesses dos explorados, participando intensamente de suas lutas cotidianas, de forma a ir acumulando forças até voltar a ser capaz de apresentar-se como alternativa de poder.
Colocar seus representantes em posições de destaque no Executivo e Legislativo é secundário, pode no máximo ter utilidade tática, pois se trata do que a esquerda vem fazendo desde o advento da Nova República sem conseguir realmente mudar o Brasil, que continua sendo um dos países mais desiguais do planeta e sempre tendente ao autoritarismo. 
As conquistas obtidas nos períodos em que os donos do PIB consentiram que a esquerda populista gerenciasse a dominação burguesa em troca de algumas migalhas do banquete dos poderosos não passaram de miragens: o poder de facto as revogou como quis e quando bem entendeu.

Então, seremos os piores cegos se continuarmos não querendo ver que nada de permanente obteremos em favor dos explorados atuando como coadjuvantes do reformismo e dos jogos de carta marcada eleitoreiros. Estaríamos apenas os coonestando.

 Temos de caminhar por nossas próprias pernas de novo, fixando como objetivo final a construção de uma sociedade que priorize o bem comum e a cooperação solidária entre os seres humanos para que todos obtenham seu quinhão das conquistas da civilização, podendo então usufruir da verdadeira liberdade (aquela que não é limitada pela insuficiência do necessário para uma sobrevivência digna).
Esta, claro, será uma longa caminhada. Mas, é melhor darmos logo o primeiro passo do que continuarmos patinando sem sair do lugar, como vimos fazendo desde 1985. (por Celso Lungaretti)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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