Ciclos
Eu percebia meu corpo se modificando rapidamente. Comprei calças largas e vestidos. Desde que nos descobrimos mães, é incrível, já não pensamos mais em nós. Nossa vida passa a girar em torno dos enxovais, móveis de quarto, fraldas, perfumes e pomadinhas para assadura. Fiz três cesarianas, mas as marcas maiores da maternidade ficaram no coração. Tão lindas as minhas criancinhas, foram três bebês muito tranquilos, os meninos choravam a noite apenas para mamar e a menina nem isso. Uma graça aqueles pimpolhinhos começando a andar, caiam de testa, ralavam joelho, choravam, e depois voltavam a brincar. Era uma escadinha de três, eu ouvia toda a hora a palavra “mãe”, ou “ele/ela me bateu!”, “não quer me emprestar o brinquedo!”. Foram noites mal dormidas com febres, nebulizadores, diagnósticos, e também noites maravilhosas quando eu olhava minhas crianças dormindo ao meu lado.
Vieram a escola, as provas, as conquistas, e também derrotas. A gente gostava de tomar sorvete junto, comer pizza no fim de semana, ir para a casa da vovó. Eu ouvia também “Mãe, eu te amo!”, principalmente do meu carinhoso caçula.
O tempo passou, a adolescência, namorados, namoradas. Estão aprendendo a andar com suas próprias pernas, caem, se levantam. O choro deles no meio da noite já não é por fome.
Meu corpo também se modificando ao longo dos anos, em lugar daquele barrigão, a flacidez. A vivência e o tempo branquearam meus cabelos, a face já quase cinquentenária. Perdi a companhia da pizza, da sorveteria. Eles desejam viver, cortar o cordão umbilical, uma vida separada da minha. Eu saio para o trabalho, eles também. O meu caçula ainda estuda, mas agora já é grande, não quer dormir com mamãezinha, e seu passeio preferido já não é a casa da vovó.
A solidão de filhos veio, e isso dói. Mas Deus sabia disso, e por isso os ciclos vão se renovando. O meu vigor já não é o mesmo dos meus 20, 30 anos, por isso, os netos não são nossos, como os filhos. Tudo se repete, mas com menos frequência. Novamente olho para o lado e as vezes vejo um bebê dormindo. Costumo ter apneia do sono, mas é incrível, quando ele dorme comigo, não tenho. Em uma parte do meu armário, roupinhas de bebê. Perfuminho, shampoo, condicionador, toalha, fraldinha. Tomamos banho juntos, exatamente como era com os meus pequenos. Beijos e abraços, chorinhos, gargalhadas e pirracinhas. Brinquedinhos espalhados. Com ele, volto a andar de mãos dadas. Ele sempre topa tomar sorvete comigo, ele me pede bala, vamos nas lojas e quer pegar tudo o que vê. Tudo aquilo que eu havia perdido com os filhos crescidos, voltou.
Tudo bem, ele toma todo o meu milk shake, come toda minha batata e ainda quer um pedaço do meu sanduíche, mas eu o amo mesmo assim!
Claudia Lundgren
tiaclaudia5@hotmail.com
Texto em homenagem ao meu querido neto Apollo, que nasceu em 23/05/2017.
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Claudia Lundgren, natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.