O dia em que a Terra parou
Em 1977 Raul Seixas compôs a música ‘O dia em que a terra parou’, cuja letra menciona a paralisação de todas as atividades ao redor do mundo. Após quarenta e três anos, assistimos à paralisação das nossas atividades em razão da pandemia causada pela Covid-19.
Iniciada a contaminação na cidade chinesa de Wuhan em dezembro de 2019, alastrou-se e contaminou a Itália, França, Espanha, Alemanha e outros países, inclusive de outros continentes, como o Brasil e os Estados Unidos da América.
Declarada a pandemia pela Organização Mundial de Saúde, pôs o mundo em polvorosa e os governos de várias nações decretaram a quarentena, obrigatória ou não, para a população permanecer nas residências com o fim de evitar contágios.
Essa situação criou medidas inusitadas, como a do presidente da Indonésia, que em abril de 2020 determinou a execução sumária pela polícia ou exército de quem saísse às ruas. Em outros países o descumprimento da quarentena deu causa à prisão em flagrante delito de quem estivesse nas ruas sem motivo justificante.
Nesses países e até o presente, as pessoas que saem às ruas usam máscaras e criam um ambiente surreal, como um filme de ficção científica. A situação, porém, é muito real e pode causar paranoia em várias pessoas.
Por meses lojas e ruas inteiras de comércio de bens não essenciais estiveram às portas fechadas e, mesmo abertas, continuam sem movimento suficiente; muitos trabalhadores perderam o emprego, enquanto outros os mantiveram com parcos salários…
O confinamento doméstico ainda tem motivado distorções de comportamento nas famílias, que devem manter o distanciamento entre seus membros: beijar, abraçar, fazer ‘cafuné’ ou outro gesto de intimidade ou afeto pode causar a contaminação de todos e levar à morte quem for dos grupos de risco à Covid-19. O lar de cada pessoa, casal ou família foi acometido da nocividade de um assustador agente patogênico.
Pobreza econômica, falta de saneamento básico e insalubridade das favelas (comunidades), no amálgama de habitações e ruelas claustrofóbicas, conspiram com mais ênfase para a contaminação dos habitantes. Nestes espaços urbanos ‘a morte pede carona’… (filme de 1986, com Rutger Hauer no papel principal).
Sair para passear ou viajar se tornou arriscado, ainda que as rodovias estejam com mais veículos do que no início das quarentenas. Ao redor do mundo a maioria dos aeroportos e rodoviárias acolhem raras viagens, todas com poucos passageiros.
Enfim, a pandemia produzida pela Covid-19 mudou o comportamento das pessoas, mesmo transitoriamente, mas seus efeitos serão permanentes devido às perdas humanas e econômicas. E, se Raul Seixas foi profético ao compor a mencionada música, não imaginava que duraria mais de um dia… Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(arquiteto e urbanista)
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Natural de São Paulo (SP), Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista