novembro 21, 2024
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Celso Lungaretti: 'Será Lula o Petain brasileiro?'

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Celso Lungaretti

Será o Lula o Pétain brasileiro?

Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain, mais conhecido como Marechal Pétain, foi um herói francês da 1ª Guerra Mundial, aclamado principalmente por sua liderança militar excepcional na Batalha de Verdun, mas que se tornaria colaboracionista com o nazismo no conflito mundial seguinte.
 
Em 1940, com a queda iminente da França, o presidente Lebrun o nomeou primeiro-ministro da França. Pétain logo retiraria o que restava do seu governo para uma região que ainda não havia sido invadida pelas tropas alemãs: a cidade de Vichy e seu entorno. 
 
Solicitou o armistício a Hitler, conformando-se com que a República da França ficasse sob a ocupação direta do inimigo histórico, com exceção do regime de Vichy, que permaneceria como um Estado teoricamente autônomo, mas, na verdade, uma miniatura do nazismo, incluindo a perseguição aos judeus.
 
Condenado à degradação militar e à morte depois da Libertação, Pétain teve sua pena comutada para prisão perpétua em função de seus méritos anteriores e de sua idade avançada (89 anos).
 
É o exemplo histórico mais emblemático do qual me recordo de um grande homem numa fase tornar-se o oposto noutra. Embora Pétain provavelmente acreditasse estar prestando serviço aos franceses ao evitar que uma parte deles ficasse sob a dominação direta de Hitler, o fato é que seu regime fantoche só se diferenciava do das nações ocupadas pela terceirização da tirania nazista, já que os locais se incumbiram do serviço sujo.
 
Não especularei sobre os motivos que levam o ex-presidente Lula a estar agindo de forma parecida desde que foi libertado em novembro de 2019. O certo é que ele tudo tem feito para evitar que a esquerda brasileira assuma firmemente a bandeira do impeachment de Jair Bolsonaro:

— quando, mais do que nunca, deveria pacificar e unir a dita cuja, continuou insistindo em manter a postura imperial e arrogante do PT que é um enorme estorvo para qualquer tentativa de formação de uma frente abrangente de todos que estão contra o pior presidente do Brasil de todos os tempos;

— boicotou as manifestações de secundaristas e torcedores de futebol que reconquistaram as ruas para o nosso lado, contribuindo para que o mentecapto decidisse moderar seu golpismo e voltar para os braços do Centrão, com o ônus de ter sido obrigado a abrir mão de bandeiras que ainda lhe davam alguma aura de idealismo, como o combate à corrupção e à velha política
— explicita ou veladamente, Lula tem sempre desestimulado o impeachment do genocida e favorecido a inconcebível permanência do dito cujo no cargo até janeiro de 2023 (como se a explosão social que ele está incubando não fosse ocorrer muito antes disso!);
— acaba de unir forças com o bolsonarismo na eleição para presidente do Senado.
Não vou embarcar em teorias da conspiração incomprováveis, mas a mim parece bem claro que Lula voltou à cena política para salvar o PT e não para livrar o Brasil do celerado que o está destruindo.
É possível que Lula não tenha pactuado com o inimigo e que suas decisões deploráveis e aparentemente incompreensíveis se devam ao fato de ter como aspirações máximas as que convém ao seu futuro político, mas não, necessariamente, ao do Brasil: sua reabilitação judicial e conquista do 3º mandato. E, seja o que for que as inspire, a consequência prática de suas posturas acaba sendo o pior possível.
Assim, o Lula pavimentou o caminho para a vitória do demente em 2018, puxando o tapete de Ciro Gomes (o que detonou as chances de união da esquerda em torno de uma candidatura única) e desperdiçando tempo precioso com a palhaçada da candidatura fantasma, que até as pedras das ruas sabiam ser insuficiente para mudar a decisão do TSE.
 
E agora chega ao ponto mais baixo de sua trajetória, exatamente num ano em que são enormes as possibilidades de salvarmos brasileiros da infinidade de mortes inúteis causadas: 
— pela administração catastrófica da pandemia de covid-19 (pois, apesar da vacinação enfim ter começado, a forma caótica como está sendo feita retardará por vários meses a imunidade de rebanho); e 
— pela devastação econômica decorrente da adoção de políticas simplesmente insanas, que tende a acentuar-se cada vez mais ao longo de 2021. 
Ou seja, fazendo exatamente o jogo desse sórdido inimigo a quem convém magnificar o pleito distante para desviar a atenção das desgraças atuais, Lula incumbe Fernando carisma zero Haddad de sair pelo Brasil trombeteando a candidatura petista para a eleição de 2022.
 

Novamente Haddad é escolhido como candidato-estepe, pois Lula também deve estar ciente de que sua candidatura nem desta vez será consentida, como antecipou a Mônica Bergamo e eu reproduzi. Se acontecer o improvável, Lula é quem vai ser o candidato e o Haddad ficará chupando o dedo.

 
Então, quando muitos contingentes de esquerda se mostram dispostos a não trair seus princípios e travar o bom combate que ora se impõe, Lula faz uma verdadeira chantagem com todos partidos e forças do nosso lado, contando com que, por medo de perder o trem da História, eles adiram à candidatura petista ou lancem desde já outro candidato.
 
Nos dois casos, isso contribuirá para mudar o foco da esquerda, do flagrantemente imperativo (o afastamento do sociopata com a máxima urgência) para o absolutamente irrelevante neste momento (a eleição que, se não for levada de roldão pela explosão social, ocorrerá daqui a 20 intermináveis meses).
 
De minha parte, não tenho mais nenhuma dúvida de que as prioridades máximas da esquerda, no curto prazo, sejam derrubar Bolsonaro e superar Lula, as duas faces da moeda do populismo que é uma âncora do atraso nos impedindo de avançar para estágios superiores de civilização. (por Celso Lungaretti)

 

 

 

 

 

 

 

ADM
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