A noite interior
Fazemos parte desta mesma aldeia,
não há de como me chamar de humano,
se não me atinge a dor e a angústia aleia,
e me nego a quem me chamar de mano.
Ouço gemidos (não me encontro mouco),
clamando pelos braços da ciência,
pelos corredores ouço o alarido rouco
de quem da dor de alguém tem consciência.
Nas cidades inteiras, vilarejos,
as notícias só trazem a tristeza,
são notas tétricas de realejos
pelo meio da noite na frieza.
Esta é uma noite insípida do ermo,
mas há outra noite, a noite interior,
que é onde habita a fé sem meio-termo,
poesia que alça ao cômoro do amor.
Não abandonarei minha esperança,
minha poesia é um navio ao mar
de tormenta esperando a calmaria,
porque conjugo o verbo esperançar.
Quando o luar se lança na montanha
e vem banhar a alfombra da ribeira,
vai se ter consolação tamanha,
e vai-se a abelha da espirradeira.
Antônio Fernandes do Rêgo
aferego@yahoo.com. br
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