A sensibilidade histórica e humana aos olhos de John Steinbeck
“De todos os animais da Criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada que dizer” (Steinbeck)
Quando se fala dos ganhadores do prêmio Nobel de Literatura, impossível não rememorar as palavras imbuídas nas obras do californiano nascido em Salinas, no ano 27 de fevereiro de 1902, como John Ernst Steinbeck, autor de uma das obras mais importantes do século passado. Em uma entrevista famosa, o autor Jô Soares, renomado intelectual por todos reconhecido, cita o romance ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel Garcia Marques, como leitura fundamental do século XX. O mesmo poderia ser dito acerca de ‘As Vinhas da Ira’, originalmente publicado em 1939, quando o escritor já detentor de considerável sucesso, após uma número considerável de trabalhos, inclusive como roteirista, narra os dramas da grande depressão dos anos vinte nos EUA, por meio da saga da família Joad.
No citado período histórico, inúmeras almas erravam pelo território norte-americano em busca de trabalho, não raro, acabando nas filas do pão e albergues, com a fome insaciável de reconstrução individual, deflagrada pela Crash de 1922, que afetou toda a nação. Nesse contexto, a família protagonista, cruza as estradas poeirentas em busca de um dia de labor por um prato de comida. Vislumbram-se, naquele cenário, os anseios de um futuro melhor, pelo olhar ingênuo das crianças, alheias à sua cruel realidade por suas mentes pueris.
Vários romances históricos revelaram nas descrições de cenários e acontecimentos, a alma de um período, entrelaçada entre colóquios de personagens dissecados numa trama envolvente. Ainda que involuntariamente político combativo, ecoava em suas obras as vozes dos oprimidos. Com uma escrita dramática, inclusive no romance ‘Homens e ratos’, retrata em ‘As Vinhas da Ira’, os desprezados trabalhadores migrando – ou melhor seria, vagando – para a Califórnia na Grande Depressão, traçando um sensível diagnóstico da apatia social. Decerto, alguns poderiam paralelizar tais feições ao conceito de modernidade líquida de Zigmund Bauman em contraposição à modernidade sólida, em sua roupagem, ainda que não contemporânea, elevada à sua forma mais intensa.
Embora alvo de críticas, tanto pela qualidade de sua escrita por algumas vertentes críticas, e por uma premiação controversa no Nobel de 1962, o que se descortina como inquestionável, tal como retratado pela pena dos mais requintados e sensíveis artistas, é a visão do sofrer impingido aos sem escolha. Os entregues às vicissitudes do acaso e ao poderio do baronato, de uma forma crua, direta e verdadeira. Nesse viés analítico, repise-se, ao lado de Garcia Marquez, Umberto Eco, Thomas Mann e outros gigantes, Steinbeck é literatura fundamental/obrigatória do século XX.
Marcus Hemerly
marcushemerly@gmail.com
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Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim/ES, em 1989. Formado em Direito, é servidor do Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo. Autor da obra “Verso e Prosa: Excertos de Acertos”, originalmente publicada em formato físico, coautor em antologias poéticas e de contos. Membro de Academias Literárias, recebeu prêmios e comendas, tais como: “Prêmio Monteiro Lobato”, “Prêmio Cidade de São Pedro da Aldeia de Literatura”, “Grande Prêmio Internacional de Literatura Machado de Assis”, “Medalha Patrono das Letras e das Ciências, Dom Pedro II”, “Medalha Notório Saber Cultura” e foi um dos vencedores do concurso internacional de poesias “Covid Times Poetry” promovido pela ONG “WHD – World Humanitarian Drive”. Foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa em Literatura, pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Históricos e Filosóficos, com a Comenda Olavo Bilac Príncipe dos Poetas, pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes (FEBACLA), o título de Cavaleiro Comendador da Ordem de Gotland, pela Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente, dentre outras honrarias. É colunista de cinema e literatura, contribuindo para sites e jornais eletrônicos