História de uma foto
João Perdigão Gutierrez nasceu em Fuerteventura, arquipélago das Canárias (Espanha), em 1895. Por volta dos 9 anos, sua família mudou-se para Santos. Desde criança participou dos meios sindicais e frequentou a escola mantida pela Federação Operária Local de Santos. Tornou-se pedreiro de profissão e um ativo militante anarquista.
Um ano após se manifestar no 1º de maio de 1927 e divulgar a campanha pela libertação dos trabalhadores Sacco & Vazetti, sua foto foi publicada no jornal A Tribuna, como procurado pela polícia, juntamente com um processo de expulsão. Fugiu a pé para São Bernardo do Campo. De lá conseguiu ir até Sorocaba, foi recebido pelo seu companheiro de ideias, Vicente de Caria, e posteriormente, casou-se com sua filha, Anarchia de Caria.
Nos anos 60, Edgar Rodrigues pretendia escrever sobre a história do anarquismo no Brasil. Os anarquistas mais velhos, baseados em suas experiências de muitas perseguições e repressão, não acreditavam que alguma editora comercial se interessaria em publicar um livro sobre esse tema. Um dos primeiros anarquistas mais velhos a colaborar com Edgar Rodrigues foi, justamente, João Perdigão Gutierrez que, além de escrever um texto sobre suas memórias, também fez inúmeras indicações para Edgar Rodrigues, e também pediu para que outros companheiros mais velhos lhe escrevessem.
Somente após a publicação do livro ‘Socialismo & Sindicalismo no Brasil’ (1969), Edgar Rodrigues conseguiu convencer outros anarquistas mais velhos a colaborarem com seu trabalho. Numa carta escrita em Sorocaba, com a data de 15 de abril de 1961, João Perdigão escreve para Rodrigues: “Também consegui a fotografia de um grupo, tirada em 1º de maio de 1904, aqui em Sorocaba. Estou procurando ver se consigo outra fotografia que traz o Florentino entre a Maria Antonia Soares e a Penélope”. A foto foi enviada para o RJ.
No início dos anos 2000, Edgar Rodrigues enviou essa foto histórica, muito maltratada pelo tempo, para os coordenadores de um acervo que surgiu na União Libertária da Baixada Santista e, hoje, encontra-se para consulta pública na Biblioteca Carlo Aldegheri. Em 2021, essa foto fez parte da exposição virtual “1° de Maio: Sorocaba de Lutas!”, organizada pelo Centro de Memória Operária de Sorocaba, e foi recuperada digitalmente pelo historiador e companheiro Carlos Carvalho Cavalheiro. A foto é o registro mais antigo das manifestações do 1º de maio em Sorocaba, um marco da história do sindicalismo brasileiro.
Achamos interessante registrar a trajetória dessa foto e o esforço coletivo de várias pessoas em conservá-la (mesmo em períodos ditatoriais), pois demonstra que a classe trabalhadora deve ser sempre a principal interessada em preservar a sua própria história.
# Memória é Luta !!! – Marcolino Jeremias (Biblioteca Carlo Aldegheri).
- O admirável mundo de João de Camargo - 2 de maio de 2024
- No palco feminista - 26 de dezembro de 2023
- Um país sem cultura é um corpo sem alma - 9 de agosto de 2023
Natural de São Paulo (SP, atualmente reside em Sorocaba. É professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz (SP). Licenciado em História e em Pedagogia, Bacharel em Teologia e Mestre em Educação (UFSCar, campus Sorocaba). Historiador, escritor, poeta, documentarista e pesquisador de cultura popular paulista. Autor de mais de duas dezenas de livros, dentre os quais se destacam: ‘Folclore em Sorocaba’, ‘Salvadora!’, ‘Scenas da Escravidão, ‘Memória Operária’, ‘André no Céu’, ‘Entre o Sereno e os Teares’ e ‘Vadios e Imorais’. Em fevereiro de 2019, recebeu as seguintes honrarias: Título de Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça e Medalha Notório Saber Cultural, outorgados pela FEBACLA – Federação dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e o Título Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória de Sorocaba, outorgado pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. É idealizador e organizador da FLAUS – Feira do Livro dos Autores Sorocabanos