
Mármore
Não aprecies o meu semblante pálido,
Dento em mim, pulsa um coração cálido.
Dilacera-me, se me contemplares triste.
Nessa minh’alma a morte inexiste,
Embora meu corpo seja mortal e inválido.
Penetre o olhar, me olharás verde;
Fora em mim, se veres,
Alcançarás somente minha pútrida carcaça,
Vírus, tumores, desgraça.
Sou, na entranha, árvore, e tenho sede…
Carpir minha morte externa é tempo perdido;
Ame meu espírito, mais vívido.
Não queiras a imperfeição desse corpo
Que arde, no fogo fátuo, pelo teu corpo.
Ah, corpo juvenil e atrevido!
Mas caso queiras corpo e alma,
Que sejam ligados quão amálgama;
Amarás, a mim, então por completo,
Mais à alma que ao corpo, de certo;
Amarás a mim com exatidão, querida dama.
Converterás meu invólucro esquálido
Num servo do amor fiel e válido,
Ainda que inerme à mortalidade.
No entanto, usa-me a vivacidade
Que a amo, e espero teu beneplácito.
Tenho sede de amor mais que perfeito.
Amo-a quão criança de inocência desfeita,
Amo-a sem censuras, além do além;
Do amor, ainda que efêmero, não foge ninguém;
Quem foge, ao certo, é agredido no peito.
É voraz o desvario; é ardente a paixão que inflama;
Das órbitas saltam os olhos em chamas,
Madeixas longas criam vida, serpenteiam,
Bailam nas têmporas, nos ombros vagueiam;
Cabeça e coração, em mesma razão, se irmanam.
Minha face é uma máscara de cera
Que se dilui na primavera
Quando efloresce a flor do amor,
Exalando, no ar, o teu olor;
Vão-se, então, os desvãos que me imperam.
Não contemples o meu estado nimboso
Que o miasma da tez é espantoso,
Meu espírito é mais puro em fragrância.
Corre! Adentra-o criança!
Minha carne é só prazer pecaminoso.
Sou uma árvore de demasiada beleza,
Adentra minhas vísceras, vê minha realeza;
Não dês crédito tamanho ao corpo,
Não dês crédito ao espírito louco:
Os dois, fundidos, é metal de muita riqueza.
Não faças do amor e da paixão, suplício
Que o corpo, à alma, é submisso;
O corpo é paixão; a alma, amor;
O amor, eterno; a paixão, ardor;
A paixão fala em gritos; o amor, em cicios.
Às vezes sou duro, confia-me;
Sou gélido quão pedra-mármore.
Tenho sede do amor amado,
Sem restrições, embora sem pecados.
Ouça-me: – Dentro em mim, sou árvore…
Gélida… tão gélida quão pedra-mármore.
Márcio Castilho
marciocastiho74outlook.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALA, e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre vários titulos: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos, Pesquisador em Artes e Literatura; Pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia, o Título Imortal Monumento Cultural e Título Honra Acadêmica, pela categoria Cultura Nacional e Belas Artes; Prêmio Cidadão de Ouro 2024, concedido por Laude Kämpos. Pelo Movimento Cultivista Brasileiro, o Prêmio Incentivador da Arte e da Cultura,

