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Márcio Castilho: 'Mármore'

Márcio Castilho

Mármore

Não aprecies o meu semblante pálido,

Dento em mim, pulsa um coração cálido.

Dilacera-me, se me contemplares triste.

Nessa minh’alma a morte inexiste,

Embora meu corpo seja mortal e inválido.

 

Penetre o olhar, me olharás verde;

Fora em mim, se veres,

Alcançarás somente minha pútrida carcaça,

Vírus, tumores, desgraça.

Sou, na entranha, árvore, e tenho sede…

 

Carpir minha morte externa é tempo perdido;

Ame meu espírito, mais vívido.

Não queiras a imperfeição desse corpo

Que arde, no fogo fátuo, pelo teu corpo.

Ah, corpo juvenil e atrevido!

 

Mas caso queiras corpo e alma,

Que sejam ligados quão amálgama;

Amarás, a mim, então por completo,

Mais à alma que ao corpo, de certo;

Amarás a mim com exatidão, querida dama.

 

Converterás meu invólucro esquálido

Num servo do amor fiel e válido,

Ainda que inerme à mortalidade.

No entanto, usa-me a vivacidade

Que a amo, e espero teu beneplácito.

 

Tenho sede de amor mais que perfeito.

Amo-a quão criança de inocência desfeita,

Amo-a sem censuras, além do além;

Do amor, ainda que efêmero, não foge ninguém;

Quem foge, ao certo, é agredido no peito.

 

É voraz o desvario; é ardente a paixão que inflama;

Das órbitas saltam os olhos em chamas,

Madeixas longas criam vida, serpenteiam,

Bailam nas têmporas, nos ombros vagueiam;

Cabeça e coração, em mesma razão, se irmanam.

 

 

Minha face é uma máscara de cera

Que se dilui na primavera

Quando efloresce a flor do amor,

Exalando, no ar, o teu olor;

Vão-se, então, os desvãos que me imperam.

 

Não contemples o meu estado nimboso

Que o miasma da tez é espantoso,

Meu espírito é mais puro em fragrância.

Corre! Adentra-o criança!

Minha carne é só prazer pecaminoso.

 

Sou uma árvore de demasiada beleza,

Adentra minhas vísceras, vê minha realeza;

Não dês crédito tamanho ao corpo,

Não dês crédito ao espírito louco:

Os dois, fundidos, é metal de muita riqueza.

 

Não faças do amor e da paixão, suplício

Que o corpo, à alma, é submisso;

O corpo é paixão; a alma, amor;

O amor, eterno; a paixão, ardor;

A paixão fala em gritos; o amor, em cicios.

 

Às vezes sou duro, confia-me;

Sou gélido quão pedra-mármore.

Tenho sede do amor amado,

Sem restrições, embora sem pecados.

Ouça-me: – Dentro em mim, sou árvore…

 

Gélida… tão gélida quão pedra-mármore.

 

Márcio Castilho

marciocastiho74outlook.com

 

Sergio Diniz da Costa
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