Interfaces da Psicologia e da poesia
Aprendemos todos os dias que campos diferentes de saberes encontram-se e por vezes completam-se, trazendo um crescimento para humanidade. Todavia, lidamos com os “saberes específicos” e quando fechamo-nos a um único saber, reduzimos as possibilidades que resultariam em crescimento. Neste contexto, vamos expor um pouco sobre a Psicologia e a poesia.
Quando paramos para pensar sobre a poesia e seu significado, compreendemos que vai muito além de um texto lírico normalmente em versos; busca mais do que uma combinação estética de palavras, uma vez que, para quem a escreve, os significados são grandiosos e cheios de “sensibilidade”. A Poesia oferece ao poeta uma liberdade inigualável. O poeta através da poesia pode gritar usando o silêncio, dizer alegremente sobre a dor; com o ódio, falar de amor e por vezes, imerso na própria escuridão, discursa sobre a claridade; isto oferece ao poeta uma oportunidade de encontrar a sua luz. A poesia apresenta o humano em suas variantes claras e obscuras, serenas ou não, e, é neste ponto, que temos um admirável encontro com a Psicologia.
A Psicologia vai além de tratar psicopatologias; é um espaço para o desenvolvimento humano com fidelidade á realidade que se propõe estudar e intervir; busca a modificação de fatos que impede o crescimento do sujeito, ou seja, abrange um leque de conhecimentos e oferece ao psicólogo a liberdade para complementar suas intervenções com uma “ferramenta terapêutica” denominada “criatividade”.
Quando falamos da criatividade, afirmamos que a poesia pode ser utilizada como um instrumento terapêutico. Ao assumir esta função, textos poéticos são criados de acordo com a necessidade da intervenção, deixando margem para construção de uma resposta mais assertiva pelo sujeito e acarretando um movimento daquilo que estava estagnado.
A proximidade entre a Psicologia e a poesia envolve elementos afetuosos, cognitivos, inesperados e mutáveis, pois as poesias são ativas e a psicologia busca compreender a dinâmica do sujeito, para uma efetividade na intervenção. Falamos sobre visualizar a alma humana para além de teorias e técnicas. Na Psicologia, Jung nos disse sobre a capacidade do humano de dar sentido às experiências, sejam positivas ou negativas, destrutivas ou transformadoras. Na literatura, Quintana, prefere não definir poema.
Percebemos pontos de encontro entre a poesia e a Psicologia. Na Psicologia, a completude do ser está na inconstância, ou seja, para haver um ser construtivo, este deve ser passível de desordens em determinados momentos e de adaptação em diferentes circunstâncias, na busca de um ponto de equilíbrio que resulta na transformação.
A poesia oferece ao poeta liberdade para escrever o que sente; esta liberdade traz para a poesia uma característica única, onde o primordial na escrita não são as regras ditadas, mas a expressão do ser; porém é necessária uma harmonia, uma musicalidade oferecida muitas vezes pelas rimas.
Afirmamos o entrelaçamento da Psicologia e da poesia, quando percebemos em ambas a busca de equilíbrio e harmonia; mas não necessariamente permanecem fixas neste lugar, pois constituem, em suas essências, a natureza do ser, ou seja, expressam realidades vivas que constroem os cenários da mente e carreiam o conhecimento e a liberdade de ser.
Finalizo este texto com uma poema que expõe os lugares diferentes que a Psicologia e a poesia ocupam, e, ao mesmo tempo um lugar de encontro.
Psicologia e poesia
Poesia usa palavras que vêm do coração,
Psicologia usa a palavra como solução,
Poesia tira a amargura,
Psicologia torna a vida menos dura,
Em ambas, a palavra é via de cura.
Na poesia, podemos descarregar,
Na psicologia, iremos nos encontrar;
A poesia sempre irá nos tocar,
A psicologia vem para ajudar;
Com poesia, posso me deliciar,
Com psicologia, posso a vida apreciar.
Poesia fala de sentimento,
Psicologia faz tratamento;
Poesia fala de amor,
Psicologia cura a dor.
Poesia pode trazer alegria,
Psicologia nos acalma…
Não há dúvida!
Ambas são remédios para alma.
Rejane Nascimento
rejane.d@hotmail.com
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Rejane Luzia do Nascimento Damasceno, mais conhecida como Rejane Nascimento, mineira nascida na cidade de Caratinga (MG), é Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga -UNEC, (2010). Especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC (2012) e Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro Universitário Amparense – UNIFIA (2017). Possui também a Formação em Terapia do Esquema pelo Núcleo de Estudos em Psicologia –NEPSI(2019). Iniciou sua experiência profissional como psicóloga, dentro de uma escola, em 2011, atuando por cinco anos consecutivos nesta área, desenvolvendo um importante trabalho com grupos, enfrentando o desafio da atuação da psicologia na educação. Foi nesse cenário que a autora começou seus afazeres com o escrever, produzindo metáforas e poesias como forma de intervenção. É autora do livro de poesias ‘Para Escrever… Tenho Minhas Razões. Tem participação como coautora nos livros: Além Da Palavra – Volume V, Caratinga 170 anos: Múltiplos Olhares e na obra Rabiscos Confinados, promovida pelo cartunista Edra Amorim. É Acadêmica Correspondente da FEBACLA – Federação Brasileira das Ciências, Letras e Artes.