A Cia Razões Inversas comemora 30 anos de existência trazendo para o palco a adaptação do poema narrativo de Alfred Tennyson, traduzido por Paulo Marcello, que está em cena ao lado do músico Fernando Esteves, com direção de Marcio Aurelio
Essa é a primeira tradução e versão integral do poema no Brasil. O espetáculo Enoch Arden estreia dia 10 de dezembro no CBB (Centro Brasileiro Britânico) onde faz apresentações também nos dias 11 e 12. Em seguida, vai para a Oficina Cultural Oswald de Andrade para temporada de 15 a 18 de dezembro de 2021. Projeto contemplado pelo Edital ProAc Expresso LAB n° 47/2020, pelo Histórico em Teatro da Companhia.
Como parte das comemorações de 30 anos da Cia, também serão colocados à disposição do público no Youtube o registro dos seguintes espetáculos: Vem, senta aqui ao meu lado e deixa o mundo girar… Jamais seremos tão jovens (1990 – espetáculo de formatura da primeira turma que deu origem à companhia), A Comédia dos Erros (1991), Ricardo II (1992), A Bilha Quebrada (1993), Senhorita Else (1997), Maligno Baal, o Associal (1998), A Arte da Comédia (1999), Édipo Rei 2001), Filoctetes (2015) e Caixa de Memória (2018).
Enoch Arden é um poema narrativo publicado em 1864 por Alfred Lord Tennyson, durante seu período como Poeta Laureado da Inglaterra. A história em que foi baseada foi fornecida a Tennyson por Thomas Woolner. O poema emprestou seu nome a um princípio legal de que, depois de desaparecer por certo número de anos (normalmente sete), uma pessoa poderia ser declarada morta para fins de novo casamento e herança.
A Cia Razões Inversas, que está completando 31 anos, vem desenvolvendo há anos uma profunda pesquisa sobre teatro narrativo que levou à criação de espetáculos premiados e de grande sucesso como Agreste e Anatomia Frozen. Além disso, a utilização do elemento musical na construção da estrutura espetacular se tornou uma das características distintivas de linguagem cênica dentro do trabalho do grupo.
Estes dois elementos de linguagem podem ser observados em diversos trabalhos. Neste sentido, a obra Enoch Arden reúne estas características de modo perfeito para a continuidade e aprofundamento da pesquisa de linguagem teatral da Companhia. Além disso, ele propicia a oportunidade para que a Companhia investigue a linguagem do melodrama, um desejo antigo que agora se concretiza.
O herói do poema, o pescador que virou marinheiro mercante Enoch Arden, deixa sua esposa Annie e três filhos para ir ao mar com seu antigo capitão, que lhe oferece trabalho depois que ele perdeu o emprego devido a um acidente; refletindo a visão masculina do herói sobre o trabalho e as dificuldades pessoais para sustentar sua família, Enoch deixa sua família acreditando assim servi-los melhor como marido e pai. No entanto, durante sua viagem, naufraga em uma ilha deserta com dois companheiros: ambos eventualmente morrem, deixando Arden sozinho lá.
Esta parte da história é uma reminiscência de Robinson Crusoé. Enoch Arden permanece perdido e desaparecido por mais de dez anos. Ele descobre ao retornar do mar que, após sua longa ausência, sua esposa, que imaginava morto, está casada novamente, um casamento feliz com outro homem, seu amigo de infância Philip (Annie conhece os dois homens desde a infância, daí a rivalidade) e tem um filho com ele. A vida de Enoque permanece vazia, com um de seus filhos agora morto, e sua esposa e os filhos restantes sendo cuidados por seu antigo rival. Enoque nunca revela à esposa e aos filhos que está realmente vivo, pois a ama demais para estragar sua nova felicidade. Contudo, com o coração partido, Enoch vem a morrer de tristeza.
A OBRA DE RICHARD STRAUSS
O Enoch Arden (Op, 38, TrV. 181, de Richard Strauss) é um melodrama para narrador e piano escrito em 1897 para o poema narrativo de Tennyson.
Richard Strauss escreveu Enoch Arden para o ator Ernest von Possart, que em 1896 o ajudou a obter o posto de Maestro Chefe na Ópera do Estado da Bavária, em Munique. Ele o escreveu enquanto se dedicava à composição de Dom Quixote e o terminou em fevereiro de 1897. Strauss e Possart viajaram muito com o melodrama, em uma tradução alemã de Adolf Strodtmann, sendo a obra bem recebida pelo público e fazendo crescer a reputação de Strauss mais pela força dela do que por seus poemas sinfônicos. No ano seguinte, Strauss capitalizou seu sucesso escrevendo Das Schloss am Meere (O castelo junto ao mar) com palavras de Ludwig Uhland.
O gênero do trabalho foi descrito como de música incidental. Consiste principalmente em breves interlúdios indicativos de mudanças de tempo e ambiente, bem como momentos de pontuação e comentários. Cada uma das duas partes é introduzida por um prelúdio e conclui com um poslúdio. Strauss usa leitmotifs para identificar cada um dos personagens: Enoch Arden (uma sequência de acordes em Mi bemol), Annie Lee (uma figura crescente em Sol), Philip Ray (uma melodia em Mi), o mar (Sol menor). Ele não as desenvolve em melodias, mas as usa estaticamente. Existem longas passagens onde o piano fica em silêncio enquanto permanece apenas a narrativa.
Devido à natureza esparsa da música, as apresentações de Enoch Arden dependem muito mais do narrador e do que do pianista. Não se trata de uma obra musical em si, já que ela nunca teve a intenção de ser principalmente uma peça musical, mas uma apresentação dramática com acompanhamento musical.
Enoch Arden foi muito popular em sua época, mas caiu na obscuridade quando a moda mudou e recitações, declamações e melodramas passaram a ser considerados ultrapassados. Contudo, nos últimos anos, o trabalho atraiu alguns nomes notáveis no papel do narrador, incluindo Dietrich Fischer-Dieskau, Jon Vickers, Michael York, Claude Rains, Benjamin Luxon, Patrick Stewart e Gwyneth Jones, e no papel do pianista, incluindo Glenn Gould, Emanuel Axe e Mark-André Hamelin.
Sobre a Companhia Razões Inversas
A Companhia Razões Inversas foi criada em 1990 pelo diretor Marcio Aurelio e a primeira turma de formandos do curso de teatro da Unicamp. Nesses trinta anos construiu uma trajetória voltada para o constante processo de pesquisa, para a formação de seus intérpretes, artistas criadores, na busca do diálogo com o público contemporâneo e da excelência do fazer teatral. Durante este longo período, a Companhia criou 22 espetáculos partindo de textos consagrados da dramaturgia internacional, textos inéditos de autores nacionais e criações dramatúrgicas coletivas a partir de longos processos de pesquisa e criação. Em seus primórdios, a pesquisa da Companhia se deu a partir do estudo de encenadores do século XX que nortearam nosso trabalho. Iniciando com um estudo aprofundado do método de ações físicas de Stanislavski, passando em seguida pelo estudo dos encenadores Tadeusz Kantor e Jerzy Grotowski. Essa pesquisa levou a criação do primeiro espetáculo da Companhia, Vem, Senta Aqui ao Meu Lado e Deixa o Mundo Girar (…) Jamais Seremos Tão Jovens criado a partir do texto Fala Comigo como a Chuva e me Deixa Ouvir, de Tennessee Williams, improvisações, performances, resultando em mais de seis horas de material cênico que foram utilizados na criação do espetáculo. Outra grande influência foi o estudo do teatro de Bertolt Brecht. Ela está presente em montagens como Ricardo II, de Shakespeare, em 1992. Na peça, o rei Ricardo, após confiscar os bens dos nobres e exilar Henrique Bolingbrok, sofre um golpe e é obrigado a renunciar à coroa. A encenação evidenciava o paralelo com a realidade do Brasil sob a presidência de Fernando Collor, tendo o processo de impeachment e renúncia ocorrido durante nossa temporada, surpreendendo a todos com a realidade incrivelmente imitando a arte. A pesquisa sobre o teatro didático de Bertolt Brecht levou à criação do espetáculo Maligno Baal, o Associal, em 1998, no qual as cenas foram construídas por meio de improvisações a partir dos fragmentos brechtianos. Já em A Bilha Quebrada, de 1994, um dos grandes sucessos da Companhia, a inspiração era o teatro de marionetes de Kleist. Outra grande influência em nosso percurso foi nosso encontro com Grotowski em 1996. Nele, durante três dias de encontro pessoal com ele e com os atores do Centro de Pesquisa e Experimentação Teatral de Pontedera, pudemos assistir The Action, nos apresentarmos para eles e realizarmos uma noite conversa e troca. Essa influência foi fundamental no processo de montagem dos trabalhos seguintes. Em 2003 a Companhia iniciou uma pesquisa sobre teatro narrativo que resultou em encenações como Agreste em 2004, A Metafísica do Amor em 2007 e Anatomia Frozen em 2009. Uma análise atenta da encenação do espetáculo Agreste evidencia a influência do teatro épico de Brecht, do teatro de Grotowski e das instalações e performances de Joseph Beuys que surgem nos cenários, figurinos e sonoridade. Em sua criação também foi feito um estudo aprofundado de Walter Benjamin e Platão sobre o narrador e a imitação na narrativa. Já o teatro de Heiner Müller está presente na performance criada a partir da PeçaCoração, em 1994, e na montagem de Filoctetes, em 2015. Uma das questões temáticas que surgiram durante nosso percurso, foi a discussão da própria arte e do fazer teatral. Torquato Tasso, de Goethe, montagem de 1995, discutia a propriedade da obra e o apoio do estado, em um momento em que se iniciavam as discussões que levariam a criação de leis como a de Fomento ao teatro na cidade de São Paulo. A montagem de A Arte da Comédia, de Eduardo de Fillipo em 1999, discute a função e a utilidade do teatro. A Ilusão Cômica, de Corneille, em 2011 também tratava do próprio teatro e da profissão do artista. Dois novos espetáculos estão sendo criados para as comemorações dos trinta anos da Companhia. Enoch Arden, que aprofunda o projeto de pesquisa de teatro narrativo desenvolvido e O Fazedor de Teatro, de Thomas Bernhard, que mais uma vez tratou do tema do teatro e do fazer teatral.
Ficha técnica:
Texto: Alfred Tennyson
Tradução: Paulo Marcello
Música: Richard Strauss
Encenação: Marcio Aurelio
Cenários, figurinos e iluminação: Marcio Aurelio
Ator-narrador: Paulo Marcello
Pianista: Fernando Esteves
Preparação Corporal: Luciana Hoppe
Direção de Produção: Paulo Marcello
Oficina:
De 16 a 18 de dezembro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
OFICINA – Teatro narrativo, investigação de uma poética contemporânea.
DESCRIÇÃO: Apresentação da pesquisa de linguagem realizada pela Companhia Razões Inversas e aplicação de exercícios práticos dentro das técnicas de atuação desenvolvidas para a cena.
PÚBLICO ALVO: Atores com alguma experiência na área.
Link para inscrição na oficina: https://oficinasculturais.org.br/atividade/teatro-narrativo-investigacao-de-uma-poetica-contemporanea/
Serviço:
Enoch Arden
Duração: 1h30
Dias 10, 11 e 12 de dezembro no CBB (Centro Brasileiro Britânico)
Horários: Sexta às 20h. Sábado e domingo às 19h.
Reservas de ingressos: enoch@razoesinversas.com.br
Duke of York Auditorium
Rua Ferreira de Araújo, 741 – Pinheiros
Estacionamento tarifado no local.
Capacidade: 78 lugares.
Grátis.
De 15 a 18 de dezembro na Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363
Horários: quarta, quinta e sexta às 20h; sábado às 18h.
Grátis.
Exigência de máscara e comprovante de vacinação.
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Verônica Kelly Moreira Coelho, natural de Caratinga/ MG, é mais conhecida no meio cultural e acadêmico como Verônica Moreira. Autora dos livros ‘Jardim das Amoreiras’ e ‘Vekinha Em… O Mistério do Coco’. Baronesa da Augustissima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente. Acadêmica Internacional e Comendadora da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes e Delegada Cultural. Acadêmica Correspondente da ACL- Academia Cruzeirense de Letras. Acadêmica da ACL- Academia Caxambuense de letras. Acadêmica Internacional da AILB. Acadêmica Efetiva da ACL- Academia Caratinguense de Letras. Acadêmica Fundadora da AICLAB e Diretora de Cultura. Embaixadora da paz pela OMDDH. Editora Setorial de Eventos e colunista do Jornal Cultural ROL e colunista da Revista Internacional The Bard. Coautora de várias antologias e coorganizadora das seguintes antologias: homenagem ao Bicentenário do romancista e filosofo russo Fiódor Dostoiévski, Tributo aos Grandes Nomes da Literatura Universal e Antologia ROLiana. Instagram: @baronesa.veronicamoreira