Sobre a honestidade
Ontem, li uma reportagem que falava sobre países onde se encontram as pessoas mais honestas no mundo. O campeão é considerado a Finlândia, segundo o texto. Já havia notícias dessa honestidade de seus habitantes, mas ela foi comprovada através de um teste, onde foram espalhadas centenas de carteiras, com dezenas de dólares, fotos de família e cartões com contatos, por várias cidades na Europa. Na Finlândia, foram espalhadas noventa e duas unidades, por diversas cidades, sendo certo que noventa e uma carteiras voltaram intactas a seus donos. Esse país é considerado um dos mais felizes do mundo e acredito que devido a essa tranquilidade, segurança e confiança no semelhante.
Ainda não tive a oportunidade de conhecer a Finlândia, mas já viajei para a Inglaterra, no ano de 2017. Vou falar desse país, como exemplo de vivência própria. Permaneci por quase um mês, dividida entre as cidades situadas nas “Middle Lands” – que é a parte central do país – e Londres, a capital.
Em todas as cidades experimentei também essa honestidade, que também é forte na Inglaterra, seja pela cultura ou pelo medo de ter sua ação criminosa capturada pelas câmeras de segurança da polícia. Pontuando que a Inglaterra é o país que, proporcionalmente, tem o maior número de câmeras espalhadas pelas ruas, no mundo. Elas são o suficiente para coibir muitos crimes e, quando algum acontece, para sua rápida e efetiva elucidação.
Em Tamworth, linda cidade medieval de setenta e cinco mil habitantes, nos arredores da grande cidade de Birghman, um parque temático de diversões atrai moradores de toda Inglaterra. A esse parque, eu, meu marido e filho fomos duas vezes. Lá, tivemos as primeiras experiências de honestidade. Todos deixavam suas bolsas e mochilas no chão, ao entrarem em qualquer brinquedo. Era natural, mas, para nós, brasileiros e, ainda por cima, cariocas, era tudo muito estranho. Sentimos medo de termos nossas mochilas furtadas, afinal, tínhamos documentos, compras, óculos e tantos objetos importantes ali guardados. No primeiro brinquedo, tirei tudo de importante e enfiei nos bolsos de todos. Muito desconfortável, mas seguro, pensei. No terceiro, já estávamos percebendo que todos saíam do brinquedo e só pegavam sua própria bolsa. Então, passei a só deixar comigo os passaportes, pois o dinheiro já estava naquela bolsinha interna de viajantes, que deixamos na parte de dentro da cintura. O restante: óculos de grau, de sol, compras etc., tudo eu deixava nas nossas mochilas, espalhadas junto com dezenas de outras. Começamos a relaxar… Observamos, ainda, que havia um cinema, nesse mesmo parque. Os frequentadores deixavam carrinhos de bebês repletos de sacolas com compras de lojas de grife, do lado de fora, por todo o tempo da sessão, além de bolsas pessoais, com carteiras e outros objetos. Ninguém tocava em nada. Pasmos, ficamos. Mas não só com a honestidade, a educação, a limpeza, a organização, a pontualidade e tantos outros aspectos positivos que nos chamavam muito a atenção naquele povo.
O leitor pode pensar: “Ah…! Mas foi em cidade pequena!”. Não só, prezado amigo! Em Londres, onde passamos uma semana, passeamos por parques abertos, onde pessoas dormiam profundamente a um metro de seus notebooks, celulares e bolsas. Respeito e honestidade. E enormes supermercados, que vendiam todos os tipos de artigos, muitos considerados “de luxo”, tinham autoatendimento e grandes portas sempre abertas. Se a pessoa quisesse sair sem pagar, sairia, pois não havia funcionário nenhum, sequer um segurança na porta. Mas ninguém o fazia…
Já tive a felicidade de viajar a outros países da Europa e, em grau um pouco menor, também percebi e experimentei essa honestidade. Esquecer objetos e bolsas, e depois reencontrá-los no mesmo lugar, é algo rotineiro. E isso aconteceu com nossa família, algumas vezes.
Então, quando regresso ao Brasil, sinto-me muito triste. Infelizmente, vivemos numa cultura em que, ser honesto, é ser “tolo”. O “esperto” é que tem sucesso na vida. Vou continuar entre a minoria dos “tolos”. Questão de educação, moral e ética. E vou continuar com a sensação que tenho desde criança: a de que nasci no país errado, lamentavelmente….
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
- Sintonia - 15 de setembro de 2023
- Meia-luz - 6 de setembro de 2023
- Noel Rosa e de todas as flores - 28 de agosto de 2023
Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
Instagram: @patriciapoeticamente. Facebook: Patrícia Alvarenga