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Marcus Hemerly: 'A Felicidade não se Compra': 75 anos de um clássico natalino

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Marcus Hemerly

“Estranho, não é? A vida de cada homem toca tantas outras vidas. Quando ele não está por perto, ele deixa um buraco horrível, não é?” It´s a Wonderful Life

Então é natal… e a programação televisiva – nos tempos modernos, os inúmeros serviços de streaming – descortinam uma robusta programação de filmes natalinos, não raro, reprises nem um pouco desconhecidas ao público. Por vezes, nos deparamos com algum dos títulos da franquia “Esquecerem de Mim”, ou mesmo, dos mais variados gêneros: ação, com “Duro de Matar”, “Máquina Mortífera”; comédias e romances, como “Simplesmente Amor” ou “Férias Frustradas de Natal”, “Gremlins”, e até mesmo com um ou outro slasher cult como “Noite do Terror”.

Como que hipnotizados, rendemo-nos à nostalgia a fim de, por mais uma vez, rever aqueles títulos que nos remetem a uma confortável e aprazível memória afetiva. No entanto, um espaço especial sempre será reservado à apaixonante história retratada no clássico “A Felicidade Não se Compra”, de 1946, estrelado por James Stewart, com direção do festejado Frank Capra. A popularidade dos filmes de Capra, italiano nascido Francesco Rosario, faziam com que a atração do público fosse captada pelo fato de ser uma película de Capra, até mais do que pelos protagonistas. É ele o idealizador de obras-primas como “Aconteceu Naquela Noite” e “A Mulher Faz o Homem”, condição que ensejou a autobiografia de 1971, intitulada “O Nome Acima do Título”.

Nesse passo, em A Felicidade não se Compra, (It´s a wonderful life), o bondoso George Bailey, interpretado por Stewart, pensa em cometer suicídio após as trapaças do venenoso Sr. Potter, vivido pelo magistral Lionel Barrymore, quando um espírito candidato a anjo de nome Clarence (Henry Travers), é enviado do céu para dissuadi-lo de seu intento. Como ele se desincumbe da missão? Mostrando como seria o mundo caso Bailey não existisse, quase num processo de tratamento de choque acerca de sua importância como pessoa no mundo, e especialmente, para seus entes queridos.

Tocantes, sensíveis e lúcidas lições de vida se desdobram na clássica e emocionante trama que derivou várias produções ao estilo “que falta você faria?”, que desperta, não apenas uma reflexão que pode ser reinventada e repensada a cada vez que se assiste ao filme, mas também trata-se do verdadeiro cinema em sua melhor forma. Assim como Billy Wilder, outro popular gênio cujo nome também merece suplantar o título, apresenta-se ao time, James Stewart, a personificação do homem comum e ético para o público, como uma versão mais inocente, porém igualmente sagaz do amado personagem de Gregory Peck em “O Sol é Para Todos”, Atticus Finch.

Ao tempo de seu lançamento – 20 de dezembro de 1946 – o filme que completa setenta e cinco anos não foi um grande sucesso de bilheteria e crítica. Algumas das resenhas rotularam a história de pueril e simplória, quadro diverso das produções de Capra até então. No entanto, o tempo altera o modo como os filmes são contextualizados e, até mesmo, redescobertos. Atualmente, “A Felicidade Não Se Compra”, é considerado um de seus melhores filmes e o absoluto “clássico natalino”, permanecendo mágico e mais emocionante a cada sessão.

Por óbvio, em tempos de pandemia, cenário que desdobra um pessimismo e desesperança diante do desconhecido, o tempo de natal não se apresenta tão convidativo como em épocas passadas; mas tal como a lição do “candidato a anjo” Clarence, e também imbuída em outras produções natalinas, se não há esperança, o que mais restará? Escolha um bom filme e esqueça dos pesares cotidianos. Eles não farão com que os problemas desapareçam, inclusive, nem é pertinente o cerrar de olhos para as vicissitudes, mas o cinema sempre estará disponível para aperfeiçoar sua função primordial. Não um mero escapismo momentâneo, mas fonte indutora de emoções, reflexões e, até mesmo, inspiração…

Marcus Hemerly

marcushemerly@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marcus Hemerly
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