Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘VICE’
A figura do vice, prefeito, governador ou presidente, sempre foi pouco compreendida.
Na eleição, a principal função do vice é não atrapalhar. Se acrescentar algum voto à chapa, melhor.
É comum o candidato a titular escolher um vice de boa imagem, tentando atrair para si tal virtude. Escolhas decorrentes de acordos partidários tendem a resultar em desavenças pessoais futuras.
No entendimento popular, o vice nada mais é que um plantonista, sempre à disposição, para suprir a falta, longa ou curta, do titular. O vice ideal, na visão do titular, é aquele que nada repara, nada vê e nada ambiciona.
Para evitar a função meramente figurativa, alguns vices acabam nomeados para secretarias e ministérios. Em havendo titular solteiro, o vice pode comandar as ações sociais do executivo, cargo tradicionalmente ocupado pela primeira-dama.
Quando a gestão é considerada boa, o mérito é só do titular, mas o coitado do vice é sempre lembrado, quando a gestão acaba mal avaliada. A rigor, o vice é uma autoridade que pouco pode e nada manda.
São raras, raríssimas, as gestões que comemoram um bom relacionamento entre titulares e vices. Existem titulares que operam malfeitos e saem em licença, deixando que os vices assinem as falcatruas.
Titulares ficam revoltados quando os vices, ocupando por curto período o cargo, tomam iniciativas pleiteadas e agradecidas pela população. O procedimento costuma agravar as desavenças do poder.
Na verdade, o vice não deve ser um simples e obediente estepe, sendo necessário que acompanhe o dia-a-dia da administração, pois pode a qualquer momento assumi-la. Vices de fato sugerem, discutem e, se for o caso, conspiram.
Vices são conspiradores natos, e há casos em que a conspiração chega a ser heroica. Conspiradores sem êxito acabam distanciados do Executivo, e alguns sequer comparecem à sede da administração.
O vice não exerce qualquer função, sendo mero plantonista. É pura expectativa, e, muitas vezes, torcida.
Vice é mais um caso de “teta de homem”. Existe mas não tem utilidade alguma.
Nossos legisladores precisam, com urgência, criar funções e responsabilidades para o vice. A função ideal é exercer a Ouvidoria, do município, estado ou país.
O vice não é subalterno do titular, e não perde a identidade, quando a tem, em virtude de exercer uma expectativa. Alguns governos merecem vices que conspiram.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.