A difícil arte de impor limites
Muitos já devem estar até acostumados a artigos sobre a necessidade de se impor limites, especialmente ao pronunciarmos sentenças negativas, isto é, ao dizermos ‘não`. Mesmo assim, continuam a conviver com essa dificuldade em suas relações familiares, sociais ou profissionais. Não se trata de egoísmo, mas de amor-próprio. E é sob essa perspectiva que vou escrever hoje.
Passamos a vida toda, especialmente na cultura brasileira, carregando um certo sentimento de culpa, quando não assumimos nossos verdadeiros anseios, geralmente para não magoar outras pessoas. Assim, contra nossa vontade, vamos frequentando lugares, aceitando convites sociais ou de trabalho, e mantendo relacionamentos que não nos acrescentam e até nos incomodam. Todavia, não deveria ser nenhum problema, ao receber um convite para uma festa, por exemplo, logo respondermos: ‘Agradeço seu carinho, mas, infelizmente, não poderei ir’. Simples assim, bem prático e direto, sem maiores satisfações, que só iriam tornar a situação mais constrangedora para ambos os lados, o que, de regra, acontece quando, bem próximo à data do evento, o sujeito cria uma desculpa para não comparecer ou, pior, comparece ao compromisso, mesmo a contragosto.
Também não podemos estar sempre disponíveis a todos e isso deve ser compreendido. O tempo é algo bastante raro e limitado em nossa frenética sociedade. Logo, devemos também reservar uma boa parte de tempo para nós mesmos.
O medo de ser rejeitado, de não ser aprovado, de decepcionar o outro, muitas vezes faz com que a pessoa fique sobrecarregada e até infeliz, pois é impossível dizer ‘sim’ a tudo e todos. É necessário impor limites e assumir suas próprias escolhas, priorizando o que traz realização pessoal. O outro tem que entender que você não está criando um conflito ou deixando de ser gentil, mas que precisa fazer opções. Isso nos liberta de muitos desconfortos.
Não, não é embaraçoso ou mal-educado dizer ‘não’ em determinadas situações! Posso escrever, por experiência própria, que, ao aprendermos a impor limites, sentimos uma liberdade excepcional! Confesso que não foi algo fácil para mim e ainda estou em processo de aprendizagem. Fui criada de forma a ser submissa e a jamais questionar ou negar pedidos de parentes, de pessoas mais velhas ou de chefes, dentre outros indivíduos. Logo, só quando veio a maturidade e, com ela, a percepção de nossa finitude, aliada à psicoterapia que faço há alguns anos – que me fez desenvolver o autoconhecimento – passei a exercer esta ‘arte’. Exerça-a você também, caro leitor!
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
Instagram: @patriciapoeticamente. Facebook: Patrícia Alvarenga