Ao propor encontro fictício entre as rainhas Elizabeth I e Mary Stuart, a peça cria uma discussão sobre as relações de poder e o que é preciso para a sua manutenção
O conflito que existiu entre as rainhas e primas Elizabeth I (1533-1603) e Mary Stuart (1542-1587) é pano de fundo para uma discussão sobre as relações de poder no espetáculo Maria da Escócia, com dramaturgia de Fernando Bonassi e direção de Alexandre Brazil. A peça, estrelada por Bete Dorgam e Kátia Naiane, é inspirada no texto “Mary Stuart” (1800), do alemão Friedrich Schiller. A estreia acontece no dia 17 junho no Teatro Cacilda Becker.
O espetáculo, que teve uma versão audiovisual online bem diferente, é o segundo trabalho de Alexandre Brazil que nasce de uma investigação sobre rainhas renascentistas. De acordo com o diretor, o primeiro desses trabalhos foi “O Sorriso da Rainha” (2018), sobre a própria Elizabeth I, e ele ainda planeja montar uma peça sobre Ana Bolena (1501/1507-1536), a mãe dessa monarca.
“A pesquisa nasceu da minha paixão por William Shakespeare, que eu considero o maior dramaturgo que já existiu. Eu já montei nove espetáculos do bardo e, em todos esses trabalhos, ele menciona figuras fascinantes dessa História renascentista. A própria Elizabeth I foi a grande mecenas de Shakespeare e da companhia dele, responsável pela prosperidade que ele teve em vida. E essas rainhas são figuras que têm em suas trajetórias fatos extremamente teatrais. É isso que me interessa”, explica Brazil.
O contexto
A peça, que não se propõe a ser biográfica, parte da disputa pelo trono na Inglaterra entre as rainhas Elizabeth I e Mary Stuart. Única herdeira legítima do rei Jaime V da Escócia, Mary assumiu o trono aos 6 anos, teve vários maridos e sempre atuou apenas como a rainha consorte (o equivalente à primeira-dama), sem exercer efetivamente o poder.
Considerada pelos católicos ingleses como a legítima soberana da Inglaterra, já que Elizabeth I era filha bastarda do rei Henrique VIII, ela esteve envolvida com uma revolta conhecida como Rebelião do Norte e tentou depor a própria prima para assumir o poder em seu lugar. Vendo-a como uma real ameaça, Elizabeth I aprisionou-a em vários castelos e mansões no interior do país. E, depois de 18 anos, Mary foi condenada por tramar o assassinato da prima – dentro da própria prisão. É decapitada em 1587, aos 44 anos.
Já Elizabeth I, que é conhecida como a “A Rainha Virgem” por nunca ter se casado, assumiu o reinado aos 25 anos, depois de uma longa briga pela sucessão do trono desencadeada pela morte de seu irmão Eduardo VI. Ao contrário de sua grande rival, ela exerceu ativamente o poder e abriu mão de se casar e ter filhos para continuar com sua soberania. Ela também é considerada uma das rainhas mais prósperas, responsável por conduzir a monarquia inglesa por sua chamada ‘Era de Ouro’.
A encenação
O espetáculo propõe um encontro fictício entre Maria e Elizabeth I, às vésperas da execução da primeira. Enquanto Maria tenta convencer a prima a não cortar sua cabeça por conspiração, Elizabeth procura motivos para não ter efetivamente que fazer isso e ainda continuar no poder.
Ao público, cabe assumir uma posição diante desse conflito. “Tomamos bastante cuidado para não retratar Elizabeth I como tirana na nossa peça. O público vai compreender que as duas tiveram sua responsabilidade no desfecho. As personagens tentam se entender. Elizabeth precisa decidir o que fazer com o destino da prima como uma questão de estado, porque a situação está insustentável e ela está sendo pressionada. Imagine o que é para uma rainha ter que mandar decapitar a outra”, indaga Alexandre Brazil.
Em cena, as rainhas estão separadas por uma cerca, que, ao contrário de uma grade de prisão medieval, lembra um presídio de segurança máxima. “É interessante que, no começo do espetáculo, o público talvez se pergunte: quem está realmente presa? E, de certa maneira, as duas estão aprisionadas. A Maria, literalmente, e a Elizabeth I, por todas as questões que ela precisa lidar para se manter no poder”, revela o diretor.
Já os figurinos preservam a ambientação do século 16, mas vão sendo ligeiramente “desmontados” ao longo da peça, tornando-se um pouco mais atemporais. Esse efeito também está presente em outros elementos da montagem com a proposta de mostrar que essa história poderia ser atemporal.
“Não queremos exatamente traçar paralelos explícitos com o que se passa hoje no Brasil. O que é fundamental e nos impressiona é como as relações de poder pouco mudaram do século 16 para cá. Queremos discutir o quanto esse poder, quando mal usado, pode ser avassalador para o povo e para os próprios governantes. É claro que estamos falando de outro sistema, a monarquia, mas acho importante olharmos para as questões políticas do passado e percebermos como tudo é muito parecido com o que temos hoje”, acrescenta.
Outro tema importante ao redor da peça é a questão do gênero. “É preciso considerar a depreciação da mulher. Quando olhamos para essas duas rainhas do século 16 ficamos impressionados, mas elas foram colocadas nesse lugar de poder por homens e elas estão cercadas por eles o tempo todo. Elizabeth consegue romper parcialmente com isso, mas, na peça, não consegue ter um companheirismo e o que hoje chamamos de sororidade com a própria prima, pois ela é pressionada a executá-la”, reflete o diretor.
Sinopse
O espetáculo propõe um encontro fictício entre Maria e Elizabeth I, às vésperas da execução da primeira. Enquanto Maria tenta convencer a prima a não cortar sua cabeça por conspiração, Elizabeth procura motivos para não ter efetivamente que fazer isso e ainda continuar no poder.
Ficha Técnica
De Fernando Bonassi
Inspirado e baseado na obra “Mary Stuart” de Friedrich Schiller
Idealização e Direção: Alexandre Brazil
Co-Direção: Cacau Merz
Elenco: Bete Dorgam e Kátia Naiane
Cenário/Cenografia e Adereços: Mateus Fiorentino Nanci e Megamini
Música Original: Dan Maia
Iluminação: Felipe Tchaça
Figurino: Alexandre Brazil
Gola Rufo: Marichilene Artisevskis
Visagismo: Sergio Gordin e Carmen Silva
Assistente de Visagismo: Leninha Uckerman
Costura de Figurinos: Judite de Lima, Glória Amaral, Lili Santa Rosa e Maria Lúcia
Fotografia: Philipp Lavra
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Produção Gráfica e Mídias Socias: Felipe Apolo
Produção Executiva: Escritório das Artes
Coordenação de Produção: Maurício Inafre
Direção de Produção: Alexandre Brazil
Gestão de Produção: Escritório das Artes
Realização: Alexandre Brazil da Silva – “Este projeto foi contemplado pelo EDITAL DE APOIO A PROJETOS CULTURAIS DESCENTRALIZADOS DE MÚLTIPLAS LINGUAGENS — Secretaria Municipal de Cultura”
Serviço
Maria da Escócia, de Fernando Bonassi
Temporada: 17 a 26 de junho
Às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h.
Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295, Lapa
Ingressos: R$10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada)
Vendas online: através do site Sympla e 01 horas antes do início do espetáculo diretamente na bilheteria.
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 198 lugares
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Verônica Kelly Moreira Coelho, natural de Caratinga/ MG, é mais conhecida no meio cultural e acadêmico como Verônica Moreira. Autora dos livros ‘Jardim das Amoreiras’ e ‘Vekinha Em… O Mistério do Coco’. Baronesa da Augustissima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente. Acadêmica Internacional e Comendadora da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes e Delegada Cultural. Acadêmica Correspondente da ACL- Academia Cruzeirense de Letras. Acadêmica da ACL- Academia Caxambuense de letras. Acadêmica Internacional da AILB. Acadêmica Efetiva da ACL- Academia Caratinguense de Letras. Acadêmica Fundadora da AICLAB e Diretora de Cultura. Embaixadora da paz pela OMDDH. Editora Setorial de Eventos e colunista do Jornal Cultural ROL e colunista da Revista Internacional The Bard. Coautora de várias antologias e coorganizadora das seguintes antologias: homenagem ao Bicentenário do romancista e filosofo russo Fiódor Dostoiévski, Tributo aos Grandes Nomes da Literatura Universal e Antologia ROLiana. Instagram: @baronesa.veronicamoreira