Não há monstros debaixo da cama
Mesmo assim eu fingia que ‘seguia minha vida’, de certa forma, e um dia ao entrar apressada no prédio e fazendo alguns planos para o final de semana, senti uma sombra grande e veloz passando por cima da minha cabeça. Cheguei até a abaixar-me um pouco, mas depois imaginei ser a luz que estava piscando. Em seguida, senti algo batendo na minha cabeça e enroscando-se nos meus cabelos. Apavorada, gritei, passando as mãos rapidamente para tentar me livrar daquela coisa que eu ainda não sabia do que se tratava. Com isso, caiu a bolsa no chão, esparramando todos os objetos pelo piso: celular, absorventes, batom, lenços de papel, óculos de sol, Dorflex, fones de ouvido, escova de dentes… Então eu pude ver a mariposa gigante e escura voando desesperada e sumindo pelas escadas.
– A senhorita está bem? – o porteiro me olhava curioso.
Eu, muito sem graça, olhei para aquele senhor magro, alto, narigudo e muito prestativo, que se parecia com o Visconde de Sabugosa, movimentando meus olhos pra baixo, olhando minhas coisas no chão.
– Quer ajuda, moça? – ele insistia.
Se eu dissesse que não, poderia soar orgulho, então ensaiei fazer piada de tudo aquilo, rir daquela minha cena patética, porque tudo o que eu não queria era que a imagem de uma mulher descabelada, com o salto quebrado e apanhando suas quinquilharias no chão, ficasse na mente dele. E eu era mestra em ‘pagar micos’.
– Obrigada! Já peguei praticamente tudo. – eu ri nervosa, ajeitando os cabelos com uma mão e com a outra enfiando rapidamente o restante das coisas de uma vez só na bolsa.
– Borboleta enorme, né? Desde cedo estou tentando pegá-la para pôr pra fora e não tive sucesso. A danada é esperta!
De pé, ri alto, tentando ser engraçada.
– É sinal de sorte, viu moça?
– Tomara! Estou precisando! – eu disse, já recomposta e agradecendo a atenção do porteiro.
Entrei no elevador e apertei o botão do nono andar, segurando os sapatos e imaginando se mais alguém viu a cena. Que vergonha! Cair na portaria do prédio! Entrei no apartamento e fui direto para o banho; levei um susto pior do que o anterior e que fez meu coração dessa vez querer saltar pela boca.
A borboleta gigante estava lá, feito um morcego no teto do banheiro! Era a mesma! Porque não seria possível que o prédio estivesse ‘infestado de borboletas’.
Por onde ela havia entrado? Ela começou a voar quando acendi a luz e então, abri rapidamente a janela para que ela pudesse sair. Ufa! Que perseguição!
Depois do banho eu ainda pensava no susto que havia passado com a enorme borboleta marrom escura, e numa frase que uma pessoa havia me dito certa vez, que se eu encontrasse uma borboleta dentro de casa, seria uma espécie de presságio, principalmente se ela fosse como aquela, grande e escura.
Por onde ela havia entrado? Ela começou a voar quando acendi a luz e então, abri rapidamente a janela para que ela pudesse sair. Ufa! Que perseguição!
Depois do banho eu ainda pensava no susto que havia passado com a enorme borboleta marrom escura, e numa frase que uma pessoa havia me dito certa vez, que se eu encontrasse uma borboleta dentro de casa, seria uma espécie de presságio, principalmente se ela fosse como aquela, grande e escura.
Nunca acreditei que aquilo pudesse ser um sinal para eu me prevenir de alguma coisa, mas preferi apegar-me na frase do porteiro, que disse: ‘Trazem sorte!’.
Eu nunca presenciara fenômenos do tipo ver disco-voadores ou fantasmas, mas que eu estava vendo borboletas demais nos últimos tempos, isso eu estava.
Apesar do susto com a borboleta, senti que as decepções e perrengues da vida me tornaram meio como Tati Bernardes descreve: “A mulher de medos bobos e coragens absurdas”. Eu já havia passado por tantas avalanches, que não era uma borboleta escura que me faria ficar preocupada; a não ser as ‘borboletas da minha barriga’, que agora se manifestavam como uma ânsia enorme de poder cumprir o meu destino. Podia sim, ser um sinal para eu sepultar o passado de vez e poder percorrer meu caminho, sem perguntar a ninguém se o que eu estaria fazendo seria certo ou errado; mas seguir meu destino!
Andreia Caires
andreiacairesrodrigues@gmail.com
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Natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.