Filme cearense se passa num nordeste distópico, e combina diversos gêneros cinematográficos para criticar o projeto neoliberal
Diretor de curtas, como “Meu amigo Mineiro”, Victor Furtado estreia em longas com o premiado ÚLTIMA CIDADE, que tem como cenário um nordeste brasileiro mergulhado numa distopia, e como protagonista um homem que, ao lado de seu cavalo e um andarilho, busca enfrentar aquele que destruiu sua vida. A produção levou os troféus de Melhor Filme e Menção honrosa de Melhor Fotografia, no Festival de Cinema de Vitória do ano passado, e chega ao circuito comercial em 21 de julho, com distribuição da Marrevolto Filmes.
Furtado conta que a ideia para o longa nasceu numa noite de réveillon, na qual o argumento veio-lhe como uma catarse. “Depois disso, busquei entender o que deu origem aquela ideia nada original e percebi que meu trabalho consistia em recompor o que já existia: o herói quixotesco, a América Latina dos saberes antigos com a vontade de filmar a aventura que nos coloca ao lado dos que sofrem com esse sistema, apresentando minha cidade natal, Fortaleza, como parte desse projeto neoliberal sem fim.”
O protagonista do filme é João, interpretado por Julio Adrião (“Sertania”), que em seu cavalo Cruzeiro, e, na companhia de um andarilho chamado Tahiel (Hector Briones) vai à última grande cidade do nordeste para ficar frente-a-frente com o homem que tomou suas terras e acabou com sua família.
Para contar essa história, Furtado, que assina o roteiro com Thiago Mendonça, se vale de uma combinação de diversos gêneros cinematográficos, que foram pautados pelos sentimentos que os personagens despertavam nele, além da busca pela melhor maneira de abordar os assuntos do longa.
“O Northwestern, gênero que nordestina o oeste americano, veio naturalmente com a presença do sertanejo, A distopia foi a forma que encontrei de apresentar a realidade opressora que vivemos e que desnorteia João, Tahiel e Cruzeiro. A participação de Tchoca e Pirrita, Cristina e Liduína foram a parte verdadeiramente documentário de toda a jornada, por isso há uma surpresa nessa hora, pois o filme precisava se adaptar para estar à altura deles – não o contrario.”
A premiada fotografia assinada por Victor De Melo se inspira tanto nas artes visuais, como pintura e quadrinhos, como se aproveitando da luz natural e da arquitetura para a construção da estética do filme, e Furtado conta que não podia imaginar outra pessoa na função.
“Sempre tinha pensado em De Melo para fotografar pois é um filme que apesar de sua fantasia, de seu ‘não realismo’, é um filme que busca olhar para conflitos sociais históricos, sob um ponto de vista da luta de classes e a parceria com o Victor de Melo tinha esse olhar que eu precisava para esse tema.”
O registro não-naturalista das atuações é uma ideia que esteve presente desde a concepção de ÚLTIMA CIDADE, cujo elenco também inclui atrizes não profissionais, preparadas por Nataly Rocha. “Nas filmagens, quando alguns momentos pediam uma vibração nova, procurava táticas para desestabilizar alguns atores, pedir deles uma renovação da emoção sedimentada nos ensaios. O encontro dos protagonistas com as atrizes/atores não profissionais gerou uma centelha de curto-circuito no tom de atuação do filme, mas trouxe um frescor e uma surpresa que mudaram bastante a superficialidade do filme.”
O diretor também ressalta a relação que o longa estabelece com o Brasil contemporâneo, especialmente, em sua crítica ao neoliberalismo. “O filme diz que precisamos olhar para nossos mitos de origem com crítica e desconfiança, questionar as narrativas coloniais, lembrar esse Brasil como um projeto de elite que vem se consolidando desde o começo: a invasão e tomada das terras dos indígenas, a matança dos povos de origem e apagamento dos primeiros mitos, a grilagem que sustenta a branquitude brasileira e que vem culminar no desenvolvimento liberal de hoje.”
“Nossa riqueza como a nossa pobreza é a maldição que veio com o nome Brasil. João começa o filme querendo vingar toda a morte de si e ao seu redor e acaba por combater uma força desigual, injusta. O projeto neoliberal atual deixa muitos feridos enquanto constrói castelos blindados”, conclui.
Sinopse
João, montado no seu cavalo Cruzeiro, e na companhia de um andarilho chamado Tahiel, adentra uma grande cidade do nordeste brasileiro para enfrentar aquele que tomou suas terras e acabou com sua família.
Ficha Técnica
Direção: Victor Furtado
Roteiro: Thiago Mendonça, Victor Furtado com colaborações de Pedro Diógenes, Laila Pas, Thais de Campos, Julio Adrião, Hector Briones.
Produção executiva: Amanda Pontes e Caroline Louise
Elenco: Julio Adrião, Hector Briones, Danilo Pinho, Yasmin Salvador, Cristina Costa, Liduina Costa, Maria do Carmo (Tchoca) e José Rufino (Pirrita)
Direção de produção: Laila Pas
Montagem: Ricardo Pretti
Fotografia: Victor De Melo
Direção de arte: Thais De Campos
Trilha sonora: Pedro Fonseca
Mixagem: Lucas Coelho De Carvalho
Som direto: Nicolas Hallet
Edição de som: Lucas Coelho De Carvalho
Cenografia: Thais De Campos
Figurino: Diogo Costa
Empresa produtora: Marrevolto Filmes
Duração: 70 min.
Sobre o diretor Victor Furtado
Victor Furtado é pesquisador e realizador de cinema. Formado pela Escola Pública de Audiovisual de Fortaleza – Vila das Artes, trabalhou em muitos filmes e também atua em formação livre de cinema. Entre seus trabalhos estão os curtas “Raimundo dos Queijos” (2011), “Meu amigo Mineiro” (2013) e “Além da Jornada” (2019). “Última Cidade” é seu primeiro longa de Ficção.
Sobre a Marrevolto Filmes
A MARREVOLTO nasceu em 2016 reunindo a experiência de artistas que trabalham no audiovisual cearense há mais de 10 anos. Após uma bela e longa trajetória na produtora Alumbramento, seus integrantes reuniram o desejo de trabalhar a formação, pesquisa e produção audiovisual com foco no cinema independente que pensa de forma inventiva os métodos de produção, o diálogo com as outras linguagens e a relação com público. Além da produção de filmes, a equipe da MARREVOLTO tem vasta experiência em ações voltadas para a formação em audiovisual e na realização de mostras e cineclubes.
Entre os projetos da MARREVOLTO, destacam-se os longas-metragens INFERNINHO (2018), dirigido por Guto Parente e Pedro Diogenes, PAJEÚ (2020), dirigido por Pedro Diogenes e ÚLTIMA CIDADE dirigido por Victor Furtado, assim como os curtas-metragens OCEANO (2018), de Amanda Pontes e Michelline Helena, PONTE VELHA (2018), de Victor de Melo, ALÉM DA JORNADA (2018), de Gabriel Silveira e Victor Furtado e VISITA GUIADA (2017), de Victor Furtado. O programa de TV PORTO DRAGÃO SESSIONS e o curso de formação livre em audiovisual PASSADIANTE também são realizações da Marrevolto.
Em 2022 estamos finalizando os longas-metragens ENSAIO SOBRE ESTAR ALI, de Amanda Pontes e Michelline Helena e A FILHA DO PALHAÇO, de Pedro Diogenes, como também teremos a estreia de DESMONTE, curta realizado em parceria com o Grupo Bagaceira de Teatro.
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Verônica Kelly Moreira Coelho, natural de Caratinga/ MG, é mais conhecida no meio cultural e acadêmico como Verônica Moreira. Autora dos livros ‘Jardim das Amoreiras’ e ‘Vekinha Em… O Mistério do Coco’. Baronesa da Augustissima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente. Acadêmica Internacional e Comendadora da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes e Delegada Cultural. Acadêmica Correspondente da ACL- Academia Cruzeirense de Letras. Acadêmica da ACL- Academia Caxambuense de letras. Acadêmica Internacional da AILB. Acadêmica Efetiva da ACL- Academia Caratinguense de Letras. Acadêmica Fundadora da AICLAB e Diretora de Cultura. Embaixadora da paz pela OMDDH. Editora Setorial de Eventos e colunista do Jornal Cultural ROL e colunista da Revista Internacional The Bard. Coautora de várias antologias e coorganizadora das seguintes antologias: homenagem ao Bicentenário do romancista e filosofo russo Fiódor Dostoiévski, Tributo aos Grandes Nomes da Literatura Universal e Antologia ROLiana. Instagram: @baronesa.veronicamoreira