novembro 22, 2024
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Mundana companhia estreia o díptico 'Guerra em Iperoig e Os Insensatos', no Sesc Belenzinho

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Nos espetáculos, grupo se aproxima da mitologia desse povo indígena e reflete sobre a guerra justa do século XVI e a situação dos povos originários no Brasil atual 

Diante da tragédia enfrentada pelos muitos povos indígenas no nosso país, a mundana companhia mergulhou no conflito histórico entre tupinambás e portugueses para criar os espetáculos Guerra em Iperoig e Os Insensatos, ambos dirigidos por Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto. Depois de ter ganhado uma versão virtual, o díptico estreia no dia 25 de agosto no Sesc Belenzinho, onde segue em cartaz até 04 de setembro.

Pouco conhecida pela maioria dos brasileiros, a Confederação dos Tamoios aconteceu em 1554, quando cinco chefes tupinambás se uniram para enfrentar os portugueses, que escravizavam os povos originários desde 1534, quando o Rei de Portugal autorizou os donatários das capitanias hereditárias a subjugá-los.

Em 1563, percebendo que a insurreição venceria a guerra, Portugal enviou os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta para firmar a “Paz de Iperoig” no local que hoje é conhecido como a cidade de Ubatuba, em São Paulo. Em 1567, os portugueses, com o consentimento dos jesuítas, travam a “guerra justa” contra o povo de Cunhambebe, Aimberê, Pindobuçu, Araraí e Coaquira.

A tramóia dos portugueses no episódio da “Paz de Iperoig”, que levou à quase total dizimação dos Tupinambá, foi a primeira de uma série ininterrupta de traições aos brasileiros do litoral e ao litoral brasileiro em si. E histórias assim se repetem de tempos em tempos nessa faixa litorânea, entre Cabo Frio (RJ) e São Vicente (SP), território da ex-grande Nação Tupinambá.

O díptico da mundana parte desse mesmo conflito para criar dois “roteiros diferentes esteticamente e complementares do ponto de vista da interpretação do fato histórico”, de acordo com Aury Porto. “A peça Os Insensatos pode ser interpretada como um rescaldo social nos dias atuais da guerra empreendida pelos portugueses contra o povo tupinambá em meados do século XVI, sintetizada no roteiro da peça Guerra em Iperoig”, explica o codiretor.

Ele ainda conta que a companhia estudou a mitologia tupinambá, a relação entre esse povo e os jesuítas, a guerra justa do século XVI e a atual situação dos povos originários no Brasil junto com os antropólogos Renato Sztutman e Stelio Marras.

“A nossa pesquisa foi primordialmente sobre as relações entre colonizadores e povos originários. Tensões, acordos, processos de negociações, interesses, relações de amizade, traições, etc. Para isso, lemos textos e tivemos aulas sobre questões específicas dos povos indígenas e, fizemos improvisações de onde surgiram muitas cenas”, comenta Porto sobre o processo criativo.

O artista também revela que o díptico é o primeiro trabalho da mundana criado inteiramente com referências genuinamente brasileiras. “Sinto que a ascensão desse fascismo miliciano, com o desmascaramento de seus adeptos em todas as classes sociais e segmentos culturais e a explicitação de seus propósitos, foi crucial para nos debruçarmos sobre as mazelas da história do Brasil, seguindo a trilha de algumas valorosas gerações de artistas anteriores a nossa. É um trabalho que devemos fazer diretamente sobre nós mesmos, sobre nossa formação e caráter. É algo que dói dado o grau de crueldade e perversão que fundamenta nosso país, mas que é necessário para operarmos transformações que desejamos e buscamos”, afirma.

Guerra em Iperoig

A partir da pesquisa sobre o acontecimento que ficou conhecido como “Paz de Iperoig”, a mundana companhia criou o espetáculo Guerra em Iperoig, que estreou em formato online em 2020. A peça traz no elenco Aury Porto, Erika Puga, Mariano Mattos Martins, Zahy Guajajara e Ziel Karapotó e conta com participações virtuais de Anderson Kary Báya, Igor Pedroso, Lian Gaia, Mariana Ximenes e Raquel Kubeo.

A montagem nasceu de um convite de Bruno Siniscalchi para o grupo, a partir da ideia inicial de André Sant’Anna de pesquisar a Confederação dos Tamoios. “O tema fez todo o sentido para a mundana companhia, uma vez que somos de um país nascido da guerra, e que se faz e se refaz a cada dia através da guerra. Uma guerra de extermínio do próximo que é diferente. Uma guerra que tem um sentido totalmente diverso da guerra na história dos povos Tupinambá”, diz Aury Porto.

Na encenação, cenas da mitologia tupinambá, textos e imagens de cinema criadas sob o ponto de vista dos colonizadores e textos com visão dos colonizados se justapõem. E a peça é encerrada com uma revolta estética de artistas indígenas contemporâneos.

Os Insensatos

Já o espetáculo Os Insensatos apresenta quatro alegorias da insensatez social brasileira. O mal-uso da coisa pública, o consumismo, o desinteresse pela racionalidade e a relação superficial com o conhecimento são algumas das características das figuras em cena.

O brasileiro aqui é olhado pela lente da insensatez. E essa lente foi aumentada fazendo as figuras superarem suas características elementares de personagens humanos à medida que seus corpos interagem com elementos do entorno e vão tomando formas carregadas de significados.

A peça é composta de algumas camadas de leitura e por diferentes conexões com a questão central: a insensatez. A trilha sonora, os figurinos, as frases escritas nos figurinos, os textos, os vídeos, o gestual dos atores e os objetos de cena constituem um corpo cênico feito de elementos que não necessariamente se complementam ou se equivalem. Permitindo até mesmo interpretações independentes por parte do espectador.

Sobre uma ideia original de Cristian Duarte e de uma seleção de textos de André Sant’Anna, os artistas-criadores Aury Porto, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto, Zahy Guajajara e o próprio idealizador criaram um roteiro partindo da premissa de exploração que os colonizadores europeus estabeleceram com as terras “brasileiras” e com seus povos originários, desde o início do processo de colonização no século XVI.

“Exploração que atravessa séculos seguindo os mesmos procedimentos que sedimentaram uma certa “mania” predatória e excludente que, para além das anedotas, também nos caracterizam como brasileiros”, diz Aury Porto.

O elenco conta com a participação de Anderson Kary Baya, André Sant’Anna, Aury Porto, Erika Puga e Lena Roque

Sobre a mundana companhia

Desde o ano 2000, inspirados pela militância política dos artistas de teatro da cidade de São Paulo junto ao movimento “Arte contra a Barbárie”, Aury Porto e Luah Guimarãez desejavam criar um núcleo artístico formado essencialmente por atores-produtores.

Almejavam formar uma companhia teatral na qual, a cada projeto, idealizado e produzido necessariamente por um ou mais atores, um/a diretor/a, com afinidades afetivas e estéticas com os membros da companhia, seria convidado/a a integrar-se a esta. O mesmo ocorreria com os profissionais das outras áreas, como cenografia, figurino, música, luz, e até mesmo com outros atores.

A cada projeto, a companhia teria um quase novo corpo forjado na ideia de continuidade na transitoriedade. Assim foi gestada a mundana companhia (nome integralmente grafado em letras minúsculas).

Criado em 2007, o grupo criou os espetáculos Medeamaterial, Máquinas do Mundo, Necropolítica, Dostoiévski-Trip, Na Selva das Cidades- Em Obras, O Duelo, Pais e Filhos, O Idiota – Uma Novela Teatral, Tchekhov 4 – Uma Experiência Cênica, Das Cinzas e A Queda.

Atividade formativa

Além do díptico, a mundana companhia organiza quatro encontros prático-teóricos, com três horas de duração cada, no Sesc Belenzinho, a partir do material de pesquisa e do processo de criação dos espetáculos “Guerra em Iperoig” e “Os Insensatos”.

“A pandemia atravessou o processo criativo do que seria um único espetáculo teatral: Guerra em Iperoig. E o isolamento social nos levou para encontros virtuais que fizemos com regularidade. A vivência desse tipo de encontro incomum nos processos criativos teatrais nos fez inventar novos procedimentos de trabalho com a contribuição de todos os membros da equipe. Novas e diversas fontes de estudo foram compartilhadas e debatidas. Novos textos, imagens e cenas aumentaram o volume de material de trabalho para a futura encenação sem data prevista para estrear. O longo tempo e a quantidade de material produzido possibilitou a criação de dois roteiros que nos levaram a duas peças esteticamente diversas”, reflete o artista.

Partindo desse histórico de trabalho, o ator Aury Porto vai dividir a condução de cada um dos encontros com os artistas da equipe da mundana companhia que trabalharam ao longo do processo em 2020.

27 de agosto, das 15h às 18h

Aury Porto + Zahy Guajajara: Atritos, estranhamentos, reconhecimentos, afetos e trocas culturais durante um processo de criação teatral

3 de setembro, das 15h às 18h

Aury Porto + André Sant’Anna: Ideia original e seu desdobramento, escritura e reescritura dos textos da cena ao longo do ano de 2020

10 de setembro, das 15h às 18h

Aury Porto + Renato Sztutman e Stelio Marras: Histórias das relações entre os povos originários e os colonizadores europeus ao longo do primeiro século de colonização dessa faixa litorânea entre São Paulo e Rio de Janeiro

17 de setembro, das 15h às 18h

Aury Porto + Rogério Pinto: Materiais e procedimentos na criação plástica dos espetáculos “Guerra em Iperoig” e “Os Insensatos”

Serviço

Díptico Guerra em Iperoig e Os Insensatos, com mundana companhia

Temporada: De 25 de agosto a 18 de setembro

Sesc Belenzinho – Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho

Ingressos: R$30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$9 (credencial plena)

Vendas online em www.sescsp.org.br

Guerra em Iperoig

Apresentações: De 25/8 a 4/9, Quinta a sábado, às 21h30. Domingo, às 18h30

Classificação: 14 anos

Duração: 50 minutos

Sinopse: A peça parte de estudos sobre a guerra travada entre os portugueses e os tupinambá em meados do século XVI na região de Iperoig, hoje Ubatuba (SP). Numa sequência de cenas performáticas, os artistas traçam relações entre o fato histórico e o imaginário brasileiro permeado pela exploração dos povos indígenas. Num ambiente cênico soturno, cenas ufanistas do cineasta Humberto Mauro estão ao lado de performances politicamente conscientes de artistas de diferentes etnias do Brasil. Um José de Anchieta assaltado por dúvidas, ao lado de uma artista que tenta conformar um corpo indígena aos padrões europeus.

Ficha técnica

Roteiro: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara

Textos: André Sant’Anna

Direção: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto

Elenco: Aury Porto, Erika Puga, Mariano Mattos Martins, Zahy Guajajara e Ziel Karapotó
Direção de movimento: Cristian Duarte

Direção Vocal Interpretativa: Lucia Gayotto

Direção Musical: Gui Calzavara
Sonoplastia, operação de som e operação de vídeo: Ivan Garro
Cenografia: Rogério Pinto

Figurinos: Joana Porto e Rogério Pinto

Assistente de direção de arte: Beatriz Coelho

Luz: Wagner Antônio

Operação de luz: Felipe Tchaça e Sibila

Vídeos e programação de vídeo-mapping: Bruna Lessa

Contrarregragem: Rafael Matede

Colaboração Conceitual: Renato Sztutman e Stelio Marras

Coordenação de projeto: Aury Porto

Gestão de projeto: Metro Gestão Cultural
Direção de Produção: Carla Estefan
Produção Executiva: Bia Fonseca
Fotos: Renato Mangolin e Alessandra Nohvais
Projeto Gráfico: Mariano Mattos Martins

Manutenção website e redes: Yghor Boy

Audiovisual: Filmagens Figura da Guerra: Cacá Bernardes

Participações em vídeo: Anderson Kary Baya, Igor Pedroso, Lian Gaia, Mariana Ximenes e Raquel Kubeo

Guerra em Iperoig contém trechos de:

>A QUEDA DO CÉU -PALAVRAS DE UM XAMÃ YANOMAMI

Davi Kopenawa e Bruce Albert. Companhia das Letras 2015.

>JUNK-BOX- UMA TRAGICOMÉDIA DOS TRISTES TRÓPICOS

Sérgio Sant’Anna. Edições Du Bolso.1980.

Guerra en Iperoig contém cenas dos filmes:

:>O DESCOBRIMENTO DO BRASIL (1937) e OS BANDEIRANTES (1940)

direção de Humberto Mauro

DIREITOS/CESSÃO CTAv/SAv/SeCult/ Ministério do Turismo

As cenas da FIGURA DA GUERRA, interpretada por Mariana Ximenes, foram realizadas no heliponto do edifício da FIESP. Nossos agradecimentos a FIESP e toda sua equipe técnica e de segurança.

Os Insensatos

Apresentações: De 8 a 18/9,  Quinta  a Sábado, às 21h30. Domingo, às 18h30

Classificação: 14 anos

Duração: 55 minutos

Sinopse: A peça apresenta quatro alegorias da insensatez social brasileira. O mal-uso da coisa pública, o consumismo, o desinteresse pela racionalidade e a relação superficial com o conhecimento. O espaço cênico é inspirado nas praças de alimentação dos shopping centers, e se configura como um octógono, onde o público está ao meio, circundado por diversos televisores e por quatro figuras histriônicas e insensatas que debatem em seus nichos.

Ficha Técnica

Roteiro: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara
Textos: André Sant’Anna

Direção: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto

Elenco: Anderson Kary Baya, André Sant’Anna, Aury Porto, Erika Puga e Lena Roque

Direção de Movimento: Cristian Duarte
Direção vocal interpretativa: Lucia Gayotto
Direção Musical: Gui Calzavara
Cenografia: Rogério Pinto
Figurinos: Joana Porto e Rogério Pinto

Assistente de direção de arte: Beatriz Coelho

Maquiagem: Rogério Pinto

Luz: Wagner Antônio

Operação de luz: Felipe Tchaça e Sibila

Vídeos e programação audiovisual: Bruna Lessa

Contrarregragem: Rafael Matede

Sonoplastia, operação de som e operação de vídeo: Ivan Garro

Colaboração Conceitual: Renato Sztutman e Stelio Marras
Coordenação de projeto: Aury Porto

Gestão de projeto: Metro Gestão Cultural
Direção de Produção: Carla Estefan

Produção Executiva: Bia Fonseca
Fotos: Renato Mangolin e Alessandra Nohvais
Projeto Gráfico: Mariano Mattos Martins
Manutenção website e redes: Yghor Boy

SERVIÇO:

Guerra em Iperoig / Os Insensatos

Temporada: 25 de agosto a 18 de setembro de 2022.
Quintas, sextas e sábados às 21h30. Domingos às 18h30.
Local: Sala de Espetáculos I
Ingressos: R$30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$9 (Credencial Sesc)
Classificação: 14 Anos.
Duração: 70 Minutos

SESC BELENZINHO
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000.
Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
sescsp.org.br/Belenzinho

Estacionamento
De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h.
Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.

Transporte Público
Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)

Veronica Moreira
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