Arquitetura moderna
Ao longo do século XX a arquitetura moderna (ou modernista) foi objeto de discussões sobre as transformações que submeteram seus paradigmas até atingir o neomodernismo. Abaixo seguem alguns pertinentes comentários.
Nas décadas de 20 e 30 a arquitetura moderna acolheu os discursos especializados para dar espaço a temas pontuais, livres da sistematização de regras e princípios. Neste período a história deixou de servir de suporte às teorias ou obras e surgiram discursos de natureza instrumental (práticas), que legitimaram as origens e a racionalidade das técnicas daquele período. O paradigma era tecnológico-psicológico.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-45), nas décadas de 50 a 70 surgiram discussões acadêmicas que abordaram o historicismo como instrumento ou fonte de pesquisa para o projeto.
Enquanto instrumento de projeto foi história operativa, aplicada ao desenvolvimento do projeto. Compunha-se de pluralidade de fontes e preenchida de cargas valorativas procedentes do historiador com vistas a informar, classificar e dar forma ao projeto. Servia para justifica-lo.
Enquanto fonte de pesquisa para o projeto foi o caminho para se projetar, em razão de examinar a gênese dos objetos da arquitetura. Deixou de ser instrumento de projeto e aproximou a teoria (crítica) da prática (projeto). Servia para conhecer os elementos antecedentes ao projeto.
Nesse mesmo período (1950 a 1970) discutiu-se qual seria o paradigma (modelo ou regra) da arquitetura e acolheu-se a determinação histórica do trabalho de projetar. Duas correntes se opuseram, o estruturalismo formalista e a história crítica: a primeira acolheu a história como instrumento de projeto e a autonomia disciplinar (Bruno Zevi a defendia); a segunda acolheu a história como fonte de pesquisa para o projeto e não a admitia como ferramenta para o projeto (Manfredo Tafuri a defendia). Prevaleceu a primeira.
Posteriormente o historicismo deixou de ser paradigma das teorias da arquitetura, porque entendeu-se haver uma desordem da realidade que impediu a reconstrução das coisas nas formas originais e criou diversas realidades. Estas deram causa à diversas teorias do conhecimento à arquitetura, a qual ficou à deriva, num mar de conhecimentos fragmentados que se justificavam pontualmente.
Surgiu um relativismo assemelhado à filosofia de Protágoras, que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas. A interpretação do pensamento dele favoreceu a vontade em substituição à busca da verdade, retirou a base científica e a substituiu pela retórica. Em oposição às diversas teorias do conhecimento surgiu ao final do século XX o Neomodernismo, que resgatou a gênese do Modernismo dada por Le Corbusier.
Conclusivamente, o rompimento com o historicismo no início do século XX soltou as amarras que se impunham e deu espaço às liberdades artísticas que sucederam. A arquitetura moderna navegou sem rumo certo (paradigmas tecnológico-psicológico e histórico) e ficou à deriva, num mosaico de posições teóricas. Ao final do aludido século surgiu o Neomodernismo, uma releitura melhor definida, estruturada e coesa do Modernismo. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(arquiteto e urbanista)
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Natural de São Paulo (SP), Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista