O concurso promovido pela ASPPAMS atingiu seu objetivo, proporcionando aos associados a plena manifestação do imaginário e capacidade criativa literária
O Concurso Literário ASPPAMS 2022 – Modalidade conto foi uma iniciativa que visou proporcionar aos associados da ASPPAMS a oportunidade de dar voz autoral a suas experiências e manifestar seu imaginário na produção do texto literário. Com tema livre, pretendeu dar luz a fatos do cotidiano pela ótica dos professores e profissionais da área da educação da rede municipal de Sorocaba, associados da ASPPAMS.
JURADOS
Os textos foram analisados por uma comissão composta pelos seguintes membros:
Aparecido Gonçalves Viana (poeta e presidente do Grupo Coesão Poética de Sorocaba);
Roberto Samuel Sanches (professor aposentado da Rede de Ensino Municipal de Sorocaba, Rede Estadual de Ensino e da Universidade de Sorocaba – Mestre em Letras);
Sergio Diniz da Costa (escritor, poeta, Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos Das Ciências e Letras e Artes e editor do Jornal Cultural ROL e do Inter-NET Jornal.
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
Na análise dos contos, a Comissão Julgadora levou em consideração os seguintes critérios:
a) originalidade;
b) criatividade e inovação;
c) correção linguística;
d) obediência às características do gênero literário em questão.
CONTOS INSCRITOS
TÍTULO PSEUDÔNIMO
Mude suas palavras, mude sua vida Napoleon
Segredos de Ameline Petit Lapin
Vivências da dona Izabel V. E. Neta
A cidade sem cor Ariela Rosa
Jardim Encantado Amora Rubi
Cantos de luz Girassol
O mistério da Jabuticabeira Flor de Giz
O almanaque Maia
Vitamina de beterraba Filha da Lua
O ano que não terminou Angel Ribeiro
Agridoce – Ou meu maior amor do Mundo Angelina Allende
Os fantásticos LuLuz
CLASSIFICAÇÃO
Título do conto:
A cidade sem cor
Pseudônimo:
Ariela Rosa
Vencedora:
Márcia Regina Maldonado Sewaibricker
Título do conto:
Vitamina de beterraba
Pseudônimo:
Filha da Lua
Vencedora:
Carolina França de Souza
Título do conto:
O mistério da jabuticabeira
Pseudônimo
Flor de Giz
Vencedora:
Andreia Cristina de Souza
1º lugar
A CIDADE SEM COR
Era uma vez, em um país muito distante, uma cidade bem pequena chamada Unatinga. Ela ficava em um vale entre duas montanhas, longe de tudo. Lá as casas eram parecidas, simples e com pequenos jardins, havia apenas um prédio com escritórios, uma única avenida com canteiros e árvores, uma escola, algumas lojas e um supermercado. Tinha uma praça bem simpática com bancos de madeira e um chafariz e na frente uma igrejinha. Viam-se pessoas andando apressadas nas ruas, indo ou voltando do trabalho. Era uma cidade quase igual às outras. Por que quase? Por um detalhe: nessa cidade tudo era em preto e branco.
As pessoas, as casas, a praça, as árvores e até as flores eram assim, sem cor. Pode imaginar flores sem cores? Os habitantes estavam acostumados a ver tudo em preto e branco. Eles não conheciam a beleza do vermelho, a tranquilidade do azul, a alegria do amarelo… Tudo era muito parecido e ali todos eram sérios. Pareciam sempre preocupados com alguma coisa. Até as crianças! Não sorriam, não cantavam, não dançavam, não contavam histórias. A praça estava sempre vazia. Quando andavam pelas ruas, não olhavam para os lados e nem notavam quem cruzava seu caminho.
As crianças, algumas vezes interpelavam os pais dizendo:
– Papai, hoje é domingo. Já que você e a mamãe não estão trabalhando, não podem brincar com a gente na pracinha?
Os pais sempre respondiam que não. Afinal, estavam cansados de trabalhar a semana toda e não queriam ser importunados. Conforme o tempo passava, as crianças iam crescendo e começavam a perder também o interesse pelas brincadeiras, se tornando como que “mini adultos”.
Foi assim com Pedro. Um rapaz que saiu de casa muito jovem e foi morar sozinho. Era sério e não conversava com ninguém. Entrava e saia de casa com a cabeça baixa, preso em suas obrigações e nem notava que logo ali ao lado, na casa vizinha, estava sempre na janela uma senhora, a Dona Rosa, que passava os dias suspirando sozinha, desde que seu querido Antônio falecera no último inverno.
Assim se passavam dias, semanas, meses, anos, e nada mudava naquela pequena cidade que ia ficando cada vez mais triste.
Ah! Mas calma aí! Se você acha que esta história está muito deprimente, não perca a esperança!
Depois dos muitos dias, semanas, meses e anos, numa tarde de outono, aconteceu uma coisa que mudaria aquela cidade para sempre: chegou ali uma nova família. Era muito raro alguém vir morar em Unatinga. Aliás, ninguém se lembrava de qual tinha sido a última vez em que alguém havia se mudado pra lá.
Mas aquela família que chegou não era uma família qualquer. Eles chegaram com intenção de instalar ali um novo negócio. Do lado da praça havia uma casa que estava vazia há muito tempo, desde que o André, filho do seu Jonas e da dona Maria foi fazer faculdade em uma cidade grande e levou os pais com ele. Ali, essa família que tinha muitos talentos culinários veio morar e instalar uma confeitaria. Eram a mãe Ana, o pai Renato e os três filhos pequenos, João, Lúcia e Beto.
Eles eram muito diferentes! Eram estranhos, barulhentos, conversavam muito, riam e até cantavam. Suas roupas também eram esquisitas, de um jeito que os habitantes da cidade nunca tinham visto, pareciam um tanto luminosas e alegres demais.
A vizinhança, no começo, sentiu-se um pouco incomodada com a maneira de ser daquela família tão diferente. Não só pelo comportamento, mas também porque eles tinham uma coisa que ninguém ali já tinha visto antes: CORES!
Renato saía cedo de casa para uma caminhada e cumprimentava a todos que encontrava pelo caminho com um caloroso “BOM DIA!”.
Ana fez alguns deliciosos biscoitinhos e levou para as vizinhas como gesto de amizade, aproveitando para se apresentar e conhecer um pouco sobre as pessoas que estavam próximas. As crianças brincavam na rua, e ao perceber que outras crianças as observavam curiosas, foram logo convidando todas para que se juntassem a elas. Como as crianças daquela cidade não costumavam brincar muito, principalmente na rua, ficaram meio tímidas no início, mas depois acabavam se rendendo à aventura de fazer outros amigos. Foi uma experiência incrível aprender a se divertir com brincadeiras como jogar bola, pular corda, esconde-esconde, pega-pega e tantas outras que elas não conheciam.
Aos poucos os moradores da cidade foram se acostumando com aquelas pessoas que já não pareciam tão esquisitas e a alegria deles foi devagarzinho contagiando a todos. Eles começaram a perceber, que dar um sorriso não era assim tão difícil, e que dar um bom dia fazia com que seu dia fosse mais agradável.
O tempo foi passando e algumas coisas começaram a acontecer na cidade de Unatinga. Os vizinhos começaram a conversar e aos poucos foram se conhecendo melhor. Os pais lembraram-se de fatos de sua infância e começaram a contar histórias para os filhos. As crianças começaram a ensinar a outras crianças as brincadeiras novas que aprenderam. A praça começou a ficar repleta de pessoas que conversavam animadamente e muitas crianças a brincar.
Aquele rapaz, o Pedro, chegando a casa ouviu alguém dizer que sua vizinha, que era uma senhora idosa, estava adoentada, então resolveu fazer-lhe uma visita. Ele nem sabia-lhe o nome e quando bateu à porta, dona Rosa veio atendê-lo surpresa, pois nunca recebia visitas. Pediu que ele se sentasse e ali conversaram por muito tempo.
Dona Rosa contou a Pedro sobre seu companheiro de uma vida, Antônio, que tinha falecido há alguns anos, e de sua filha Marina que se casou e foi morar muito longe. Contou histórias de sua mocidade e várias lembranças alegres e tristes, como o dia em que viajou com Antônio e andaram de mãos dadas na areia da praia, e ficaram juntos contemplando o mar. Também contou da alegria que sentiu quando nasceu sua pequena Marina e da dor da despedida quando Antônio se foi.
Pedro a escutou durante muito tempo e juntos eles riram e choraram. Pedro se despediu, mas não sem antes se comprometer a voltar sempre para visitar Dona Rosa. Assim, saiu com o coração pleno por aquela amizade tão inesperada que surgia.
Aconteceu que um dia, após voltar da casa da amiga, Pedro estava sentado na varanda de sua casa e, ao olhar para o horizonte, contemplou a coisa mais linda que já tinha visto em toda sua vida! Eram tantas cores misturadas numa harmonia que iluminava tudo a sua volta. Era a primeira vez que vira um pôr do sol.
Sentiu uma grande paz inundando seu coração, e ficou a contemplar aquele espetáculo até que chegasse a noite que se apresentou pontilhada de estrelas tão lindas que ele nunca antes havia notado. Extasiado com tanta beleza, ficou ali a noite toda a contemplar o céu até que ao raiar de um novo dia percebeu o grande milagre que havia acontecido.
Correu em direção à praça e viu que estava certo. Sua cidade agora estava cheia de cores! As pessoas, as casas, os jardins… As verdes árvores com suas folhas balançando ao vento, as flores azuis, amarelas, vermelhas, cor-de-rosa, borboletas de todos os tipos e passarinhos cantando, tudo era tão lindo!
Nesse momento, Pedro começou a mostrar às pessoas o que havia acontecido com elas e como toda cidade agora estava linda e cheia de cores. Todos entenderam que a vida só tem cor quando as pessoas aprendem a sair de si para ir ao encontro do outro e que o amor e a alegria podem transformar uma cidade inteira. Basta que alguém dê o primeiro passo.
Agora aquela cidade não poderia mais se chamar Unatinga (Preto e Branco). Por decisão unânime, os moradores fizeram uma grande assembleia e decidiram mudar o nome da cidade que passou a se chamar Arco-íris!
2º lugar
VITAMINA DE BETERRABA
Após chegarem do mercado, Ana manda Valéria para o quarto, antes que ela veja a cena na cozinha. Depois de um dia agitado e cansativo de uma criança com sete anos de idade, Valéria só queria brincar com seu pai. Procura-o por onde seus olhinhos alcançam, porém, sem sucesso.
– Mãe, quem está na cozinha? O que é aquilo vermelho no chão? – pergunta Valéria, deduzindo ser seu pai.
A menina consegue escapar da barra protetora formada pelos braços de sua mãe, visualizando o que uma criança jamais deveria presenciar: João, seu pai, caído no chão, com um corte grande na testa, deitado sob uma poça de sangue.
Ana grita com a menina, que sai anestesiada de sentimentos imensuráveis e indescritíveis. Deitada sob uma poça de lágrimas, apercebe-se tal qual seu pai e adormece.
No dia seguinte, ao acordar e ainda confusa, vê uma certa agitação por toda a casa: telefone tocando, pessoas entrando e saindo depressa…
– Cadê papai? – pergunta Valéria.
Todos os adultos presentes entreolham-se. Tábata, sua irmã, cria coragem e responde:
– O pai está no hospital. Ontem ele caiu e se machucou.
– Posso vê-lo?
– Não. Você ainda não tem idade para fazer visitas no hospital.
– Mas, vou com vocês e fico do lado de fora.
– Sim, só se for assim.
Valéria entra no carro, olha para frente e não é seu pai quem dirige, mas sim o namorado de sua irmã. Isso causa-lhe estranhamento. Agarra o pescoço da sua mãe. O carro sai em direção ao hospital.
Ao chegarem, sua mãe aponta a janela do quarto em que João está internado. O namorado de sua irmã, comovido com a cena, coloca Valéria em seus ombros e assim a menina consegue, com dificuldade, enxergar seu pai lá dentro. Uma breve visão, quase insignificante.
Dias se passaram. Os adultos com aquela mania de dar um milhão de explicações enganosas para que Valéria cesse suas perguntas sobre o pai. Sua vida segue quase normal. Acorda, assiste desenho, toma leite com achocolatado, brinca, porém, sozinha, sem seu amigo, ou melhor, seu melhor amigo. Toma banho, põe o uniforme, vai para a escola, faz atividades, brinca no parque, toma lanche e… triiiiiiim! Toca o sinal para ir embora. O portão se abre e ela procura por sua mãe. Será possível? Será verdade? Parado com um sorriso no rosto e braços abertos era seu pai??? Ela corre, quase tropeça para abraçá-lo. A emoção não tinha nome! Era a primeira vez que ele lhe buscava na escola. Aquele era o dia mais feliz de sua vida!
Dias perfeitos se passaram.
Na sala, ouvia-se o som de desenho animado na TV. Na cozinha, barulho de panelas, talheres e um cheirinho gostoso de comida de mãe. Num lugar da casa, não se sabe ao certo onde, um barulho estranho – hurg – e como toda criança curiosa, Valéria corre para ver. Era seu pai vomitando. Que cor estranha para um vômito! – pensou ela. Parecia que sua mãe havia realizado uma leitura em seus pensamentos e disse em voz alta:
– É a vitamina de beterraba que seu pai gosta tanto de tomar!
Um silêncio pairou no ar… e esse mesmo silêncio permaneceu por sete dias na casa de Valéria. João foi internado novamente.
Ah! Mas este silêncio se rompeu passados os sete dias, com o telefone tocando.
– Alô… – Ana atende, aflita.
Nem um minuto com o telefone nos ouvidos. A notícia que se escutou através dele fez a família toda chorar por horas. Menos Valéria. Nem uma gota escorreu de seus olhos.
No velório, ao ver seu pai deitado, descansando, falou:
– Vá com Deus, papai… – deu-lhe um beijo na testa e saiu correndo para brincar.
Anos se passaram… muitos, por sinal. Valéria brincava com o tempo, mesmo crescida, nunca deixou de brincar! Num ano, ela brincava de aprender o que era a morte, no outro, brincava de fazer poesias sobre a morte e, quando não conseguia brincar, chorava, pois as lágrimas guardadas no dia do enterro de seu pai resolveram aparecer quando ela entendeu o que era vitamina de beterraba.
3º lugar
P MISTÉRIO DA JABUTICABEIRA
Há muito tempo num sítio, desses onde já residiram famílias ricas, em época onde o dinheiro era guardado dentro de colchões, havia uma jabuticabeira, tão grande e esplendorosa, com galhos altos e muito ramificados, e que dava frutos vistosos e suculentos.
Mais abaixo dela havia uma casa velha, forrada com teias de aranha por todos os lados, onde morava uma família comum, pai, mãe e quatro filhos, que viviam de agricultura e criação de animais.
Ao anoitecer sentavam-se ao lado de fora da casa, junto com alguns conhecidos, em volta de uma fogueira com brasas alaranjadas e começavam a contar histórias sobre os moradores antigos daquelas redondezas, que não havendo lugar para guardar o dinheiro, os donos das fazendas os enterrava embaixo de árvores para que ninguém pudesse roubar-lhes.
A curiosidade daquelas pessoas era tanta que começaram a tentar descobrir mais pistas sobre o determinado mistério, afinal, estava ali a chance de enriquecer à custa de um tesouro enterrado.
A pista era exatamente a jabuticabeira, que sempre vistosa aparentava guardar muitos segredos e, certamente, o famoso tesouro escondido.
Algumas daquelas pessoas, encorajadas por enriquecer, decidiram participar da grande empreitada, jamais imaginando o que lhes aguardava.
No dia seguinte, ao anoitecer, decidiram procurar o dinheiro embaixo da frondosa jabuticabeira, mas que, na escuridão da noite, não parecia ser tão bela, e sim, muito assustadora.
Armaram-se de pás, enxadas, picaretas, lampiões e foram em busca do cobiçado prêmio. Ao chegarem lá, avistaram a sombra de um homem, com capa e chapéu pretos, olhos brilhantes, barba, assustador mesmo, que apareceu em frente a eles apontando para uma localização e desaparecendo num piscar de olhos.
Sem temer a aparição daquela inusitada figura, logo elas começaram a cavar no local apontado pelo estranho ser, sem êxito algum.
Retornaram a casa, em silêncio, cabisbaixos, tristes por não terem conseguido encontrar o que buscavam com tanto entusiasmo. Quando finalmente decidiram falar sobre o assunto, perceberam que, na verdade, estavam afônicos e não conseguiam expressar nenhum som sequer pela boca. Ficaram espantados, pois, não sabiam explicar o que havia acontecido e imaginaram que o transtorno pudesse ter sido causado por aquele homem de preto que era extremamente assustador.
Ficaram assim por umas três semanas, até que decidiram nunca mais tocar naquele assunto, e como por um passe de mágica, a voz deles retornou, e finalmente puderam falar. Claro que nada comentaram sobre aquele assunto tão desastroso, que causou muito transtorno para eles.
Num outro dia, uma conhecida da família, que havia ido passar alguns dias na casa, acordou gritando desesperada. Ela não contou o motivo do tal pânico que a havia deixado com tanto pavor. Não quis nem, ao menos, dormir com as luzes apagadas de tanto medo que sentia. No dia seguinte, menos assustada, e com a claridade do sol iluminando tudo, contou o que houvera. Disse que olhou para a janela que estava com o vidro quebrado, quando apareceu um homem, com chapéu preto e barba, olhos iluminados , que convidou-a a sair de casa e acompanhá-lo até a jabuticabeira. Nesse momento disse que sentiu seu coração disparado, e acordou a amiga que dormia ao lado. O homem, então, desapareceu.
Com muito medo, não deixou a colega dormir enquanto ela não adormecesse. Ela prontamente atendeu seu pedido, mas como não gostava de dormir com as luzes acesas, ao perceber que ela havia adormecido, correu apagar as luzes. Assustada, a amiga pressentiu, e logo gritou:
– Acenda essa luz, por favor!!! Ai meu coração! Assim eu não aguento!
As duas amigas decidiram ir embora dali no dia seguinte. Sabiam o horário em que o ônibus por lá passava , e seguiram com o pé na estrada caminhando por quase uma hora até o ponto . Mas, notadamente, parece que não era para as amigas saírem de lá. Esperaram o ônibus por umas quatro horas e nada dele passar naquele dia.
Iniciaram uma nova caminhada até outra estrada, no entanto , no caminho, encontraram uma boiada que cruzou e fechou-lhes a via. As duas se dividiram pela estrada. Uma seguiu a trajetória , enfrentando aqueles animais e desapareceu. A outra ficou ali, sentada numa pedra, aguardando que aqueles bovinos livrassem a passagem, mas não foi o que aconteceu. Cansada de esperar e percebendo que aqueles animais não saíam e não liberavam acesso, decidiu voltar para o assustador sítio.
Noite após noite, a pobre garota era aterrorizada, pois ficou naquele quarto sozinha, acompanhada somente de aranhas e baratas por todos os lados.
Era época de chuvarada e o ônibus não podia passar por aquela estrada cheia de lama. Preocupados com a garota que não retornou à cidade, os pais foram buscá-la. Quando ela contou o ocorrido, decidiram passar a noite ali para confirmar a história do tal homem do chapéu preto.
Com lampiões, lanternas e alguns cabos de madeira dirigiram-se até a jabuticabeira para confirmar a veracidade das informações da garota e saber se a história era mesmo real.
Chegando lá, na vistosa árvore, visualizaram o homem de capa e chapéu pretos, com seus olhos brilhantes apontando, para que eles vissem, a direção onde havia guardado seu dinheiro enterrado, mas surpreendo-lhes, disse as seguintes palavras:
– Vocês podem desenterrar o meu tesouro e levá-lo embora. Há muitas moedas e dinheiro que farão vocês muito ricos. Uma riqueza que jamais sonharam. No entanto, se algum de vocês olhar para trás, essa pessoa ficará aqui comigo para sempre!
Eles se olharam e voltaram a casa, para juntos decidirem o que fazer com toda aquela informação. Algo que jamais, em toda vida deles, haviam sonhado. Conversaram muito entre eles sobre a situação que viveram naquele estranho anoitecer . Na noite seguinte, dirigiram-se para a jabuticabeira, e lá o homem já os aguardava, com suas vestimentas escuras e olhos iluminados.
Nesse momento, disseram ao homem que, para eles, o tesouro que mais importava era a família e jamais trocariam um deles sequer por riquezas, algo que, na verdade, nem ao menos pertencia a eles.
O homem, naquele momento, ficou ainda mais iluminado, e com seus olhos muito mais brilhantes, disse-lhes com uma voz estridente :
– Vocês, verdadeiramente, amam uns aos outros. Eu, na minha ganância por riqueza, esqueci-me que o mais importante na vida são as pessoas, cai num precipício de tristeza, ganância e ilusão, e estou aqui desde então, aprisionado em minha própria ambição, Continuarei aqui, oferecendo o tesouro a quem tiver interesse, e, como eu, também for ganancioso. Vocês estão livres para partir em paz. Sigam seu caminho e continuem sempre magnânimos e virtuosos.
Aquele homem, a família nunca mais viu . No entanto, ainda dizem que ele aparece para as pessoas, oferecendo tais riquezas. Mas se elas aceitam ou declinam, isso só dependerá do sentimento que cada uma carregar em seu coração, sejam eles pretensiosos ou não.
- Vernissage de exposição artística - 20 de novembro de 2024
- Renascimento verde - 18 de novembro de 2024
- Mário Mattos, 100 anos de puro talento - 11 de novembro de 2024
Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024