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Rafael Venancio: 'Karma Ioga e o Jardim Zen'

Rafael Verancio

Karma Ioga e o Jardim Zen

Entre as diversas práticas de meditação provenientes dos saberes ancestrais que se tornaram alvos do marketing e consumismo do século XXI, o jardim zen é, talvez, o mais conhecido das pessoas que gostam do mundo da decoração e do paisagismo, especialmente as versões miniaturizadas que podem ficar na mesa central da sala de um apartamento.

A origem da prática do jardim zen é incerta. Parte das ideias remontam ao feng shui, uma geomancia (oráculo que utiliza sinais naturais provenientes dos solo, pedras e areia) que tem origem na China junto com o movimento dos Naturalistas há seis mil anos.

No entanto, a parte das ideias mais significativa, vinculada aos monges budistas japoneses (o zen-budismo), teria surgido há dois mil anos, unindo a ideias do Gautama de meditação e serviço com o culto à natureza e ao paisagismo inerentes aos saberes ancestrais fundadores da Terra do Sol Nascente.

Assim, a ideia de cultivar um jardim impecável como forma de devoção e meditação espiritual seria um dos caminhos de busca de fluidez e contato transcendental. Claro que, atualmente, o jardim zen é um pedacinho de madeira de 30 x 30 cm com um pouco de areia, rocha, solo e uma estatueta de Buda onde é feito, através de um pequeno rastelo, desenhos e mandalas enquanto ‘se limpa a mente’. Esses pequenos produtos capitalistas são, na verdade, apenas uma mostra grátis de jardins de muitos metros quadrados em templos que ainda existem no Japão. Monges se tornam jardineiros para ‘limpar a mente’, muitas vezes em silêncio e sem nenhuma forma de oração ou prece.

Como que a mente é limpa e silenciada fazendo um jardim? Como isso é possível?

A resposta que quero desenhar neste texto é muito simples. O Jardim Zen é, na verdade, uma espécie de ioga vindo da sabedoria dos Vedas. Seu nome? Karma Yoga.

A palavra karma possui ampla significância no mundo esotérico atual, mas em sânscrito, significa simplesmente ‘ação’. Toda ação possui reação. Todo karma produz outro karma. Isso vale apenas nesta vida como na ampla cadeia de reencarnações: a Roda de Samsara.

A ideia do Karma Yoga é que agir segundo a sua missão e seu chamado de retidão (o Dharma) ajuda nessa cadeira de ações e reações, se libertando de Samsara. Apesar de estar espalhado em diversos textos védicos, é no começo do Bhagavad Gita que o Karma Yoga se torna popularizado. Aliás, o Karma Yoga é o primeiro citado por Krishna em sua lição ao valoroso Arjuna, demonstrando sua importância.

Nisso, chegamos a uma outra pergunta: como trabalhar em um jardim Karma Yoga? Não deveria ser algo útil para ‘produzir bom karma’?

Ora, a ideia de jardins semelhantes aos japoneses remontam à Índia védica, tal como os Gitas descrevem, com antiguidade semelhante ou até mais antigos que os do feng shui. No entanto, uma lição que é dada pela sabedoria védica não é o jardim que é importante, mas o jardineiro.

Se o jardineiro apenas faz o seu serviço, ou seja, cuida do jardim como deve ser cuidado, isso tudo com o máximo possível de sua maestria, sem distrações e ouvindo sua voz interna, ele está cumprindo sua missão kármica e se conectando ao transcendental, logo conhecendo a verdadeira realidade.

No entanto, se ele ficar se distraindo enquanto trabalha – seja por preguiça, por reclamar do seu ordenado, por reclamar do clima ou qualquer tipo de distração – o ato de trabalhar no jardim se torna mais uma cadeia para dentro de Maya, a ilusão da realidade aparente.

Sabemos o quanto o budismo foi inspirado pelos darshanas védicos – entre eles o yoga – para se consolidar enquanto forma de espiritualidade e de religião, assim não seria de estranhar que uma prática de yoga esteja dentro dos afazeres de um monge. O que os monges fazem em seus jardins, com certeza, é uma busca pela prática do Karma Yoga.

A pergunta que fica para nós, ocidentais do século XXI, é se estamos fazendo Karma Yoga quando estamos com nossas caixinhas de areia que a loja chama de ‘jardins zen’ ou se é apenas mais um pedacinho de Maya que é comprado como forma de espiritualidade. Você já pensou nisso?

 

Rafael Venancio

rdovenancio@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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