Shiva para o autoconhecimento masculino
Em meu trabalho como psicanalista e como psicoterapeuta holístico, a grande maioria dos meus cursos e atendimentos são mulheres. No entanto, tal como alguns reparam, há uma presença acima da expectativa social de homens direcionados para o autoconhecimento.
Assim, resolvi na minha presente crônica, falar um pouco sobre esse processo de autoconhecimento masculino visando a Verdade Interior e a Expansão da Consciência, bem como uma pitada de sabedoria védica que, inclusive, utilizo na minha autoanálise.
Na visão holística, em qualquer ser humano – não importando sua identificação de gênero ou sua estrutura física biológica ou sua sexualidade – há a presença de duas energias: uma ativa e outra intuitiva. Tradicionalmente, chamamos a ativa de masculina, por causa da atitude do masculino biológico ser dominada por essa energia. A outra, por sua vez, se torna a feminina.
Masculina e feminina são nomes biológicos, mas os saberes possuem outros nomes. Yang e Yin, Shiva e Shakti, entre outros, são comuns quando falamos dos saberes espirituais do Ocidente. Há até mesmo, para esses saberes, uma terceira energia, a andrógina, que representaria a ação de conexão; mas, deixaremos isso para uma outra crônica.
O ‘masculino’, é uma energia ativa, logo, o homem parece se afastar do autoconhecimento que, de fato, é uma busca por introspecção. A ação visa, muitas vezes, à modificação da realidade, não sua compreensão. Por isso que vemos tantos homens envolvidos com a celeuma mundana do que com o turbilhão de sentimentos que habita nele.
Por isso que diversas vertentes de saberes védicos chamam essa energia de Shiva, para fazer referência a divindade védica que compõe a Trimurti com Brahma e Vishnu, representando o ciclo cósmico, cada uma como uma faceta da Verdade Cósmica Superior ou ‘A Fonte’. Aqui, Shiva é apresentado assim como o ‘masculino ideal’, sendo tanto ‘Mahayogi’ como ‘Umapati’.
‘Mahayogi’, porque Shiva se coloca como o grande yogi, o pai da busca do autoconhecimento através do ioga e do ascetismo. Em muitas tradições védicas, o ioga foi ensinado pelo próprio Shiva à humanidade.
‘Umapati’, porque Shiva é o ‘chefe de família’ com a sua faceta feminina Shakti (na forma de Parvati, também chamada de Uma), tendo dois filhos: Ganesha e Kartikeya. ‘Umapati’ significa, simplesmente, ‘marido de Uma’, indicando que Shiva é o provedor desta família, considerada a ‘família margarina’ da sabedoria védica.
Quando se ensina que Shiva é tanto um yogi como um pai de família, é para ensinar aos meninos que, ao atingirem a idade adulta, eles devem atuar nas duas frentes simultaneamente. Eles devem buscar sua Verdade Interior, mas também formar família, trabalhar, consertar a casa etc. etc.
E isso é algo que observo e busco no meu dia a dia. Não adianta eu ficar imerso nos livros e meditações, se há um cano para consertar na minha casa ou boletos a pagar. Da mesma forma, não adianta eu ficar imerso nas questões financeiras do cotidiano ou no meu futebol, se eu me esqueço do meu ioga.
Ensinar os meninos, os jovens e os homens a serem como Shiva é um desafio para o mundo ocidental. Lembrando sempre que isso não é uma busca religiosa, mas sim de autoconhecimento e espiritual, de conexão interna.
Assim, se há portas de entrada para os homens buscarem o autoconhecimento, eu acredito que o exemplo de Shiva pode ser uma delas. E portas assim precisam ser aproveitadas pela humanidade.
Não adianta apenas as mulheres buscarem o autoconhecimento enquanto os homens ficam presos na ilusão (maya) da realidade exterior. É apenas com o trabalho individual de ambos que a humanidade pode ascender (e encarar) os novos desafios do porvir.
Rafael Venancio
rdovenancio@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024