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Artigo de Guaçu Piteri: 'Lições de Tancredo Neves'

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Guaçu Piteri
Guaçu Piteri

Guaçu PiteriLições de Tancredo Neves

Eu estava deputado federal de primeiro mandato, à época em que apresentei um projeto que vinculava a aplicação de, no mínimo, três por cento da receita da União em ciência e tecnologia. A iniciativa, que contava com o apoio da comunidade científica e a simpatia da opinião pública, fora engavetada na Comissão que tratava do assunto. Novo no ofício, fui cobrar providência do presidente da Comissão:

– Ministro – era assim que todos, no Congresso, nos referíamos a Tancredo Neves – eu penso que, pela sua importância, o projeto de minha autoria merece prioridade…

Tancredo interrompeu-me o raciocínio:

– É quase uma hora… O colega aceita convite para o almoço?

Na churrascaria, após dizer que Ulysses Guimarães, seu velho companheiro, tinha por mim, grande estima e não poupava elogios ao meu desempenho como prefeito de Osasco, entrou no assunto que me levara a procurá-lo, em seu gabinete. Os argumentos de Tancredo Neves, não posso negar, eram convincentes. Começou por dizer que, embora ele próprio tivesse consciência da necessidade de aumentar significativamente os investimentos em tecnologia, relutava em acolher propostas de vinculação constitucional dos recursos públicos:

– As prioridades, afirmou, são muitas e se alteram rapidamente. Para responder às demandas sociais e às crises econômicas emergentes, a agenda política exige gestão eficiente e ágil. Nesse quadro é preciso muito cuidado para não engessar a administração.

Depois de seguir nessa linha de raciocínio, concluiu:

– O excesso de emendas constitucionais, vinculando recursos, concedendo isenções, privilégios e subsídios pode levar o governo ao desequilíbrio fiscal.

Nesta altura da narrativa, o leitor deve estar curioso por saber a razão que me levou a relatar esse episódio adormecido na penumbra da minha memória desde 1975. Eu explico: Uma das pautas mais atuais e polêmicas em tramitação no Congresso Nacional, refere-se, exatamente, a essa matéria. A “votação da DRU (desvinculação das Receitas da União) é a ‘antessala’ da proposta de limitar o gasto público. Será um teste sobre a capacidade do governo de aprovar teto para as despesas”. (Painel da Folha de S. Paulo – 08/06/2016)

A seguir, a conversa derivou para o quadro político-institucional que me permitiu lamentarar que, usurpada pela ditadura militar do direito de sonhar e acreditar no sonho, minha geração, havia sido excluída da História. Tancredo, mais uma vez me surpreendeu ao argumentar que poucas gerações haviam herdado, a responsabilidade de protagonizar uma narrativa tão relevante para a liberdade e o estado de direito democrático.  À época, cheguei a duvidar de sua ilação, mas hoje percebo que  ele estava certo.

Despedi-me de Tancredo sem o apoio ao meu projeto, mas com duas lições que me foram de grande utilidade pelo resto da vida: O “NÃO”, sincero e bem explicado, é mais convincente do que o “SIM” demagógico e irresponsável e evitar a mentira é mais simples e vantajoso do que parece.

Helio Rubens
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