Paulo Siuves: ‘Os anjos que chamamos de avós’
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às 20:45 PM"
às 20:45 PM
Nos corredores da memória,
onde o tempo repousa em silêncio,
eles brilham como faróis,
iluminando os passos que demos,
os dias que não voltam mais.
Vovó Argentina, coração imenso,
sorriso que abraça o mundo,
forte como a terra que sustenta,
generosa como quem entende
a beleza do simples.
E vovô João, inventor de sonhos,
criou música no ar
com pregos, arames e encantos,
ensinando que magia existe
nas coisas mais humildes.
Do lado paterno, vovô Chico,
fortaleza de ébano,
presença ancestral que ecoa histórias.
Seus olhos, poços de sabedoria,
carregam o peso de eras vividas.
E vovó Santinha, a ternura em forma de gente,
colo de aconchego, cafuné e afeto,
fazendo da doçura um refúgio,
transformando lágrimas em sorrisos.
Duas casas, dois mundos:
uma com árvores que dançam ao vento,
bichos que nos espiam em segredo,
telefone que nos conectava ao distante.
Outra, com parreiras que nos sombreiam,
fogão de lenha que aquece a alma,
histórias sussurradas entre risos e café.
Como medir o impacto desses anjos?
Como comparar o amor que não se pesa,
as lembranças que não se repetem?
Eles foram traços de arte em minha vida,
cada um deixando uma marca única,
um tom, uma textura,
que agora pinto em meus dias.
Sou avô, herdeiro dessas memórias,
espero ser o eco do que eles foram,
o guardião de histórias,
o colo que acalma,
o abraço que protege.
Vejo nos olhos dos meus netos
o mesmo brilho que senti um dia,
aquele amor que não conhece fim,
que atravessa o tempo e permanece,
como um tesouro passado de mãos em mãos.
Os avós não são apenas raízes,
são pontes entre o ontem e o amanhã,
fios de ouro que unem gerações
em laços que o tempo não desfaz.
E no final, o que fica é isso:
o amor eterno;
as lembranças preciosas;
os risos compartilhados.
Ser avô é ser eterno,
e conviver com eles
é um privilégio que transforma
o comum em extraordinário.
Paulo Siuves
- Serenata do cantador - 18 de fevereiro de 2025
- Pede a ela pra voltar pra mim - 7 de fevereiro de 2025
- Os anjos que chamamos de avós - 30 de janeiro de 2025
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Natural de Contagem/MG, é escritor, poeta, músico e guarda municipal, atuando na Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte como Flautista. É graduado em Estudos Literários pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG. Publicou os livros ‘O Oráculo de Greg Hobsbawn’ (2011), pela editora CBJE, e ‘Soneto e Canções’ (2020), pela Ramos Editora. Além desses, publicou contos e poemas em mais de cinquenta antologias no Brasil e no exterior.
Belíssimo poema, Paulo!
Honrou e homenageou seus ancestrais!