Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘EXPLORAÇÃO DA FÉ’
Houve um tempo em que pertencer a uma religião era condição essencial para o cidadão ser respeitado.
Existia, no entendimento popular, a noção de que a religiosidade era uma característica aliada à bondade. Pessoas que não professavam alguma fé, e não frequentavam algum templo, eram tidas como extremamente materialistas e pouco confiáveis.
No Brasil, a diversidade de origens da população teve, como consequência, a existência de um sem número de credos e igrejas, sendo o catolicismo preponderante, em número de fiéis e templos. A religiosidade, assim como qualquer outra característica humana, varia ao longo do tempo.
Em 2014, cerca de sessenta por cento dos brasileiros eram católicos, e hoje tal dimensão foi reduzida a cinquenta por cento. Nada mais natural, considerando que a própria religiosidade sofreu modificações.
Atualmente, não pertencer a qualquer religião ou não frequentar algum templo já não desabona o cidadão, e até a confissão de ser ateu já não causa qualquer constrangimento ou intolerância.
Aumenta, a cada dia, o número de fiéis sem templos, com crenças e devoções que dispensam líderes e rituais. A religiosidade torna-se, a cada dia, mais íntima, e segue impenetrável.
A opção religiosa vem, preponderantemente, do ambiente familiar, passa por contestações na juventude e, após idas e vindas, firma-se na antessala da terceira idade.
Muitos, a maioria, buscam alguma religião nos momentos mais difíceis da vida, e acabam saciados ou consolados. As religiões, cada qual a seu estilo, executam funções sociais de relevância, seja socorrendo desafortunados ou regenerando marginais e criminosos.
As religiões, contudo, podem convulsionar a sociedade, quando criam laços incestuosos com a política. O mundo anda repleto de tragédias humanas, derivadas da ação partidária e ideológica de igrejas.
Políticos podem usar templos como comitês eleitorais, e igrejas podem usar a força eleitoral como instrumento de poder, emporcalhando nossa infantil democracia.
O Estado brasileiro não é tão laico como sonha nossa ilusória constituição, e o poder político gera, a algumas igrejas, o poder econômico, viciando a natural religiosidade, por via de insistentes e onerosos programas de rádio e TV.
É sagrada a liberdade de culto, mas é vedada e exploração da boa fé pública, cobrando altos preços pela ida ao céu, e cria deuses humanos, não raro milionários.
Alguns cultos, práticas e pregações, merecem maior atenção dos poderes públicos, para inibir a criminosa exploração da fé.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
- Como o jornalista Helio Rubens vê as coisas - 9 de janeiro de 2024
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 27 de dezembro de 2023
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 22 de dezembro de 2023
É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.